A falta de chuvas e as altas temperaturas no mês de janeiro voltaram a afligir produtores rurais do Rio Grande do Sul. Pelo terceiro ano consecutivo, a safra de grãos de verão, as culturas olerícolas e as pastagens e forrageiras que alimentam os rebanhos no Estado têm sido afetadas pela estiagem e o calor.
A situação neste ciclo é mais amena do que a de 2021/22, quando 417 municípios decretaram situação de emergência em decorrência da seca. Até a última sexta-feira, 140 cidades haviam publicado decreto e outras 14 estavam com processo aberto para decretação, mas o número cresce a cada dia, assim como a preocupação dos produtores, principalmente nas regiões centro, oeste e campanha-fronteira.
No milho, há perdas de até 80% em algumas regiões, segundo relatos da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro-RS). Em alguns casos, os prejuízos são irreversíveis. Os produtores do Estado já semearam 93% da área prevista de cultivo, de 831,7 mil hectares. Lavouras plantadas mais cedo são as mais afetadas, de acordo com o relatório da Emater/RS-Ascar da semana passada.
O economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, diz que a situação é complicada, mas não tão grave quanto a de 2021/22, quando, nessa época, as perdas já tinham afetado a cultura da soja, o que não ocorre de forma intensa neste ano. Ainda assim, há risco de mais prejuízos.
O alcance total do estrago dependerá do comportamento das chuvas nas próximas semanas, e a previsão é de tempo seco para os próximos dias.
A sensação térmica na fronteira oeste deve chegar a 45°C. Potencial produtivo A Emater/RS-Ascar diz que o potencial produtivo da soja varia bastante, a depender da época de plantio, da distribuição das chuvas e das condições de solo. Se o clima ajudar, os gaúchos preveem colher 20,5 milhões de toneladas do grão, que deverá ocupar mais de 6,5 milhões de hectares.
O presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Guilherme Ribeiro, destacou a influência da má distribuição e da irregularidade das chuvas no potencial das lavouras de soja gaúchas no levantamento de safra que a estatal divulgou na semana passada. Mesmo assim, a estimativa é de aumento na colheita do Rio Grande do Sul, para 38,5 milhões de toneladas de grãos, já que a produção na temporada anterior, que foi de 25,8 milhões de toneladas, sofreu mais com a seca. A Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS) também relata danos nas lavouras de feijão e na cadeia leiteira.
“A soja ainda está em desenvolvimento e recebendo algumas chuvas, então ela se mantém. Mas nas regiões central, missões e fronteiras (de Uruguaiana a Pelotas), as perdas são muito grandes”, disse o presidente da entidade, Carlos Joel da Silva, ao Valor.
Segundo a Fetag-RS, o secretário estadual de Desenvolvimento Rural, Ronaldo Santini, sinalizou a possibilidade de reabrir o programa Troca-Troca, que oferece a pequenos produtores até seis sacas de sementes de milho ou sorgo subsidiadas por etapa.
A pecuária de corte também sofre com a estiagem. A Emater/RS-Ascar relata o emagrecimento do rebanho bovino por causa da redução na oferta de pastagens. Há ainda informes sobre o esgotamento das fontes de água destinada ao consumo dos animais. A situação é semelhante na pecuária leiteira, em que já se registra a necessidade de complementação nutricional com ração para evitar a queda na lactação de algumas vacas.
“O consumo das reservas de feno está ocorrendo de forma antecipada. Essa situação pode ter reflexos no período de vazio forrageiro outonal, para o qual os alimentos conservados são essenciais”, relata a empresa.