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Entrevista

Roberto Rodrigues avalia setor

Ex-ministro da Agricultura prevê manutenção de alta nos alimentos. Atualmente, Rodrigues coordena o Centro de Agronegócios da FGV-SP.

Roberto Rodrigues avalia setor

A reportagem do Globo Rural conversou com o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, hoje coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, sobre os possíveis impactos da crise dos Estados Unidos no Brasil.

– O que diz a sua bola de cristal dessa vez?

Roberto Rodrigues – Não tenho bola de cristal não, Nelson. Mas o que eu vejo é o seguinte: os fundamentos para que os preços agrícolas continuem acima da média histórica persistem. A demanda continua aquecida, sobretudo nos países emergentes, onde a população cresce muito mais que nos desenvolvidos, onde a renda per capita cresce mais, e a oferta não acompanhou o crescimento da demanda. Portanto, os estoques são ainda baixos, comparados com os estoques históricos. Esses três fundamentos persistem e são determinantes nos preços elevados.

Tem um quarto fator, que é a especulação financeira. Muitos especuladores, muitos fundos de especulação, migraram para a agricultura por causa desses fundamentos. E, ao fazerem isso, o preço sobe mais ainda, ajudam a subir os preços.

– Eu, se fosse um produtor rural, ouvindo a sua análise, ia respirar um pouco mais tranquilo.

Roberto Rodrigues – Porém, com barbas de molho. Vou te mostrar um exercício: imagine um morro e um trenzinho subindo esse morro. A locomotiva é o preço agrícola. Os vagões são o preço do fertilizante, o preço do crédito, o preço da logística de transporte, o preço da armazenagem, etc. Quando a locomotiva do preço agrícola sobe, todos os insumos sobem. Todo mundo ganha em cima do agricultor.

Por que a locomotiva está subindo muito? Porque a demanda é maior que a oferta. Até que chega uma hora em que a demanda se equilibra com a oferta. Os estoques ficam no tamanho ideal e os preços voltam a cair. Quando os preços começam a cair e a locomotiva começa a descer, muitos vagões estão subindo ainda. Esse é um pedaço perigoso, que é a hora do endividamento. Você não fecha a conta. Não acho que seja esse ano.

A locomotiva não dobra o espigão esse ano?

Roberto Rodrigues – Não esse ano.