Por mais que a demanda de alimentos esteja resistindo aos reflexos negativos provocados pela pandemia da covid-19, ainda é preciso entender quais as tendências que existiam e foram aceleradas e quais os hábitos que estão sendo adotados pelos consumidores por causa de restrições à circulação e queda de renda e que serão abandonados quando as rotinas voltarem ao normal.
Para Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, maior empresa de proteínas animais do mundo, esse é um dos desafios que a indústria de alimentos como um todo está enfrentando – e, de maneira geral, ainda é cedo para respostas definitivas. Em Live do Valor realizada ontem, o executivo afirmou que a procura de produtos práticos como pratos prontos e congelados e o avanço do comércio eletrônico no segmento, por exemplo, vieram para ficar, mas que ainda é difícil saber como se dará a reacomodação das vendas no food service e no varejo no futuro pós-pandemia.
Por causa dos reflexos da pandemia, disse Tomazoni, houve muitos problemas no food service – não só no Brasil, mas também nos EUA e na Europa -, mas as vendas de alimentos, carnes inclusive, cresceram no varejo. Com isso, a “demanda agregada” não foi prejudicada de forma expressiva, embora seja clara, neste momento, a preferência dos consumidores por itens de menor valor como salsicha e mortadela. “O consumo per capita de alimentos não diminuiu, embora a demanda como um todo tenha caído”, disse, em parte porque nas residências o desperdício é menor que em restaurantes.
Mas isso também não significa que produtos mais caros estejam parados nas prateleiras. Exemplo de que mesmo em tempos de quarentena e crise econômica há espaço para a comercialização de alimentos que pesam mais no bolso do consumidor é o aumento do movimento no país nas lojas da Swift, marca da JBS. E isso se explica, de acordo com Gilberto Tomazoni, porque muitos consumidores levaram seu “momento gourmet” para casa.
Enquanto estuda os rumos do consumo, a JBS, que fatura mais de R$ 200 bilhões por ano, tenta manter o ritmo da produção nos países em que atua apesar das restrições decorrentes das medidas de proteção a seus funcionários. Frigoríficos de aves, suínos e bovinos são intensivos em mão-de-obra e, assim, também se tornaram focos importantes de disseminação da covid-19. Nos EUA, onde a JBS é a segunda maior empresa de carnes, dezenas de plantas de diversas empresas tiveram que ser interditadas para conter a disseminação do novo coronavírus, e no Brasil o problema já levou ao fechamento de algumas unidades, embora a gravidade até agora seja menor.
Segundo Tomazoni, a JBS tem adotado medidas de prevenção para evitar que a covid-19 se espalhe em suas plantas, inclusive o distanciamento de funcionários em linhas de produção e no transporte. Com isso, tem sido possível manter o ritmo, embora não sem interrupções. Uma unidade de frango da Seara (controlada pela companhia) foi interditada temporariamente em Santa Catarina na semana passada e a empresa chegou a pedir autorização para realizar abates sanitários de animais porque não tinha onde processá-los, medida que acabou não sendo necessária por causa da reabertura da planta.
Por essas e outras, a JBS também continua investindo na automação e na digitalização de suas operações, embora em frigoríficos de bovinos, por exemplo, sejam muitas as limitações nesse sentido. De qualquer forma, o grupo brasileiro investiu na aquisição de uma empresa de robótica na Nova Zelândia e tem obtido avanços. Na Austrália, disse Tomazoni, a JBS já conta com um frigorífico de ovinos totalmente automatizada.
O executivo também lembrou na Live do Valor que, para colaborar com os esforços de combate à covid-19, a JBS anunciou nas últimas semanas a doação de R$ 700 milhões – R$ 400 milhões no Brasil e R$ 300 milhões nos EUA. No Brasil, os recursos estão sendo destinados sobretudo a ações no sistema de saúde, e haverá aportes em hospitais. Ele reforçou que, no país, os investimentos têm potencial para ajudar cerca de 60 milhões de pessoas em 17 Estados.