A avicultura brasileira avança em direção a uma produção cada vez mais tecnificada e atenta aos mais exigentes mercados. Com foco na qualificação dos profissionais do setor, o Simpósio de Qualificação Técnica ACAV (Associação Catarinense de Avicultura) encerrou nesta quarta-feira (22) com palestras voltadas à qualidade de ovos, epidemiologia e prevenção de doenças.
Três especialistas debateram, no painel da última tarde do evento, sobre o manejo de ovos, contaminação e os impactos na cadeia produtiva. O médico veterinário Tiago Gurski destacou aspectos genéticos, sanidade, nutrição e os cuidados com a coleta, armazenamento e classificação dos ovos. “É primordial ter um bom programa de vacinação e de biosseguridade aplicada. Prevenir é sempre mais barato, especialmente quando falamos em reprodução. O desafio constante é manter as equipes treinadas e garantir o cumprimento correto dos protocolos.”
Uma nutrição bem balanceada também é componente-chave quando o assunto é qualidade dos ovos e dos pintinhos. “Aditivos ajudam muito na qualidade intestinal, que está diretamente relacionada aos resultados que obtemos com os ovos e pintinhos.” O especialista chamou a atenção para a coleta de ovos, momento que requer higienização correta dos colaboradores, classificação e o acondicionamento em bandejas limpas e secas. Para reduzir o tempo de permanência dos ovos em ambiente contaminado, ele ainda recomendou que a frequência das coletas não passe de uma hora.
Os ninhos e qualidade da cama também merecem uma dedicação extra. “É preciso ter cuidados com a limpeza, reposição da maravalha, revisão dos ninhos furados e fechar esses ninhos durante à noite, por exemplo. A cama é muito importante, pois uma cama úmida suja o ninho e, assim, aumenta os riscos de contaminação”.
O técnico em agropecuária Evair Basso pautou as etapas do processo incubatório, boas práticas de proteção e seus efeitos na qualidade dos ovos. O profissional destacou que os principais objetivos da incubação são produzir o maior número de pintinhos possível, com qualidade e menor custo, dentro de um sistema equilibrado, que envolva saúde, segurança e sustentabilidade. “Precisamos garantir qualidade em todos os processos de incubação para chegar ao nosso objetivo final na cadeia de produção”.
Basso citou pontos críticos no transporte de ovos, nas salas e incubadoras, no processo de vacinação e nos nascedouros. “No transporte, cabe ao incubatório o treinamento do motorista, é necessário ter veículo e baú em bom estado de conservação, um sistema de monitoramento, evitar trincas e condensações. Na higienização é importante retirar os ovos contaminados, ter um bom programa de desinfecção das incubadoras, manutenção periódica e contar com uma incubadora reserva. Já nos nascedouros o ideal é monitorar as temperaturas, fazer a desinfecção contínua e monitorar as janelas de nascimentos”, afirmou.
No encerramento da sua fala, ele destacou que para potencializar as boas práticas de proteção “é preciso garantir a qualidade da matéria-prima, o atendimento dos padrões em cada etapa do processo de incubação, gerenciar os indicadores meio, como coleta de dados, lançamentos e análises de ações, além de fortalecer a relação entre cliente e fornecedor com tratativas das não conformidades de forma efetiva”.
Sobre o frango de corte, o médico veterinário Carlos de Oliveira abordou fatores que afetam o sistema imunológico das aves, como alimentação correta, trato intestinal, anticorpos naturais e estresse. “Dentro do sistema imune temos o estresse, que pode causar grandes danos. Uma ave que está em estresse, faz com que o desempenho do frango de corte seja menor. O trato intestinal também merece atenção, por ser fundamental para o sistema imune. Uma boa composição da dieta vai garantir integralidade do sistema imunológico intestinal e melhor conversão alimentar”, ressaltou.
Oliveira sugeriu o uso de ferramentas como a manipulação de probióticos, prebióticos, simbióticos, fito bióticos e vacinas. “Se a gente quer garantir a saúde ao frango de corte, podemos adotar essas tecnologias como recurso para um bom manejo”.
Epidemiologia
O debate sobre epidemiologia no Brasil e perspectivas ficou por conta da médica veterinária Joice Leão. “Sabemos que as enfermidades de aves estão relacionadas entre elas, por isso é muito importante que todos os setores da cadeia avícola estejam unidos para solucionar os problemas”.
A especialista em sanidade avícola destacou as doenças multifatoriais, imunossupressão, enfermidades bacterianas e virais e outras, além da importância de fazer um bom diagnóstico. Ainda ressaltou sua preocupação com a influenza aviária e a Doença de Newcastle, reforçando que o setor deve sempre estar atento a essas patologias.
“Todas as enfermidades são importantes, algumas impactam mais determinadas empresas ou regiões, ou seja, é uma questão muito dinâmica. Algo que eu acho extremamente necessário é que nossos sanitaristas não só façam monitoria, mas também avaliem os dados. Os casos clínicos são cíclicos-sazonais e quanto mais alta concentração de aves, maior o desafio. É fundamental o investimento em mão de obra, preparar os colaboradores do campo e do setor técnico. Nos próximos anos os desafios serão inúmeros, mas a avicultura brasileira é forte e vamos vencer todas as batalhas”, concluiu.
Doenças endêmicas
Para encerrar a programação do Simpósio, o médico veterinário Luiz Della Volpe discutiu o manejo adequado para a prevenção de doenças em áreas endêmicas. O especialista conceituou o que é uma doença endêmica, resumindo as principais ocorrências na avicultura, medidas de controle, a importância da investigação dos sintomas e o monitoramento das medidas empregadas e a tomada de decisão rápida e correta diante da constatação de anormalidades.
O palestrante listou seis itens que julga como primordial nas estratégias de manejo para a prevenção de doenças: biosseguridade; vacinação; higiene e desinfecção; incubatório; diagnóstico; e monitorias.
Para Della Volpe, outro fator essencial na tarefa de prevenção às doenças endêmicas é uma comunicação mais efetiva entre propriedades, empresas e governo. “Eu tenho que saber o que acontece na propriedade vizinha. Trocar informações é a melhor maneira de conter quadros de doenças endêmicas. Por fim, acreditem nas evidências que vocês têm nas mãos e estejam seguros das medidas adotadas para cada uma delas”, reforçou.
Apoio
O Simpósio Técnico ACAV tem o apoio dos patrocinadores da categoria ouro (Seara Alimentos, Cargill, Ceva, Cobb, MSD Saúde Animal e Aviagen | Ross), da categoria prata (Icasa, Hubbard Your Choice, Dur Commitment, Plasson Livestock, Petersime Incubators & Hatcheries, Zoetis, Vetanco Phibro Animal Health Corporation e Evonik Leading Chemistry) e da categoria bronze (DSM Bright Science, Brighter Living, Trouw Nutrition a Nutreco Company, Elanco e BRDE).