O Brasil abriga aproximadamente 2 bilhões de animais de produção. São, entre outros, 1,5 bilhão de galináceos, 234,4 milhões de bovinos e 45 milhões de suínos. Cerca de 4 milhões de brasileiros trabalham em cadeias produtivas afetas a esses animais, fundamentais para a nutrição, saúde e geração de renda, empregos e divisas. Dada à grandeza desse universo, o tema sanidade animal assume para o País importância crucial quando se trata de questões relacionadas, por exemplo, à segurança e soberania alimentar. Para outras nações do mundo também. Sanidade animal é um dos aspectos considerados pelo movimento Saúde Única ou Uma Só Saúde (One Health, em inglês), cujos dias mundial e nacional são celebrados neste domingo, 3 de novembro.
Mas o conceito de Saúde Única vai além. Parte da percepção de que a saúde de humanos, animais, plantas e ambiente está ligada e interdependente. E tem mobilizado organismos internacionais, setores governamentais, instituições científicas e segmentos representativos das sociedades comprometidos com os esforços de manutenção da vida no planeta. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) insere-se nesse compromisso. Saúde Única é um dos objetivos estratégicos do seu Plano Diretor. Um comitê permanente assessora a Diretoria-Executiva na implementação da governança corporativa e da agenda de pesquisa e desenvolvimento voltadas à abordagem. Documento, com base em relatório gerado por grupo de trabalho interno, foi concluído em outubro deste ano e aponta desafios e oportunidades para a instituição relacionados ao conceito da Saúde Única.
“O conceito representa uma visão transformadora para a pesquisa agropecuária, ao integrar saúde humana, animal, vegetal e ambiental de forma colaborativa e transdisciplinar. A Embrapa acredita no potencial desse enfoque para enfrentar os desafios globais, como segurança alimentar, mudanças climáticas e resistência antimicrobiana, com soluções científicas que preservem a biodiversidade e promovam a sustentabilidade. A aplicação da abordagem da Saúde Única em nossos projetos visa garantir alimentos seguros e saudáveis para a população, antecipando e mitigando riscos e fortalecendo o desenvolvimento de uma agricultura sustentável para o futuro.”, afirma a presidente da Empresa, Silvia Massruhá.
Pesquisa e desenvolvimento
A Embrapa está estruturando, na sua agenda, iniciativas de pesquisa e desenvolvimento contemplando tecnologias, ações de inovação, métricas e indicadores aplicáveis para a Saúde Única, com foco em sistemas agroalimentares, aquícolas e florestais e produção sustentável de alimentos.
Trata-se, na visão da Empresa, de estar atenta, como previsto no documento de outubro, a desafios globais sistêmicos, tais como doenças infecciosas emergentes, reemergentes, negligenciadas e zoonóticas e ao enfrentamento da pandemia silenciosa da resistência aos antimicrobianos. De acordo com Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), cerca de 60% das doenças infecciosas humanas têm origem animal. E o uso indiscriminado de antimicrobianos contribui para esse cenário.
Mudanças climáticas, degradação ambiental e perda da biodiversidade integram também esses desafios e contribuem para fragilidade dos sistemas agroalimentares, aquícolas e florestais, além de determinarem e agravarem as condições sociais e de saúde das populações e comunidades tradicionais. Riscos associados a perigos biológicos, químicos e físicos nos biomas, nas comunidades e nas cadeias produtivas de alimentos, insegurança alimentar e exclusão social somam-se a esse conjunto.
Junta-se, ainda, a necessidade de o mundo produzir 60% mais alimentos para atender uma população maior em 2,3 bilhões de pessoas até 2050, ao mesmo tempo em que combate a fome e a pobreza e enfrenta cenários de escassez de recursos naturais e transformações ambientais e sociais.
O diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Clenio Pillon, reforça que a abordagem de única saúde permite integrar desafios associados à transição alimentar, energética e climática. Para ele, a produção de alimentos saudáveis, em bases sustentáveis, está no centro da discussão. “A Embrapa está apta a contribuir com dados, informações, protocolos, boas práticas no campo e na agroindústria, análises de riscos e sistemas de alerta e demais soluções tecnológicas voltadas à produção de alimentos, fibras e energia, na perspectiva da saudabilidade e da sustentabilidade.”, destaca o diretor, chamando a atenção também para a capacidade da Instituição em contribuir com a formulação e integração de políticas relacionadas à Saúde Única.