Qual foi a última vez que você comeu carne de pato? Para a maioria dos brasileiros, a resposta seria “nunca”.
Mas se depender do plano de crescimento da catarinense Villa Germania Alimentos, líder nacional no abate e comercialização de patos e derivados, o quadro pode mudar em breve, ao menos para consumidores de maior poder aquisitivo.
A venda destas aves cresce, anualmente, entre 5% e 10% no país. Mas o consumo ainda é irrisório: os brasileiros comem, por ano, 21 gramas de carne de pato contra quase 40 quilos de frango. Vale aqui um parêntesis: não existe diferença entre pato e marreco. O nome marreco foi dado pelos colonizadores do Vale do Itajaí ao Pato de Pequim, principal espécie produzida pela Villa Germania.
Presente em supermercados de todo o país, a agroindústria pretende lançar uma linha de patês e pratos prontos no ano que vem.
“Queremos facilitar a vida de pessoas que não têm tanto tempo na cozinha ou têm medo de preparar o pato”, afirma André Grützmacher, diretor presidente da Villa Germania.
O potencial brasileiro, afirma ele, pode ser avaliado pela média de consumo em outros países, como China (1,5 quilo ao ano), França (1 quilo) e Estados Unidos (450 gramas).
Um quilo de peito sem osso custa entre R$ 25 e R$ 30
Uma barreira para o crescimento é o preço, que coloca o pato na categoria de carnes especiais. Um quilo de peito com pele e sem osso custa entre R$ 25 e R$ 30, quase quatro vezes mais do que o corte de frango.
Os pratos congelados são parte de um projeto muito maior em andamento. Na última semana, a agroindústria vendeu 40% do seu capital ao fundo de participação em empresas Mercatto – alguns dias depois, o fundo adquiriu parte da Forno de Minas.
“Trata-se de uma oportunidade rara de atuar no segmento premium de carne de aves. Embora a Villa Germania já seja a maior produtora e exportadora brasileira, seu potencial é ainda maior”, diz Alcineides Souza Júnior, sócio sênior da Mercatto.
O negócio, de valor não divulgado, deu fôlego à Villa Germania para implementar um plano de expansão de R$ 30 milhões. Ele inclui a ampliação da sede da empresa, em Indaial, que fará a sua capacidade de abates diários crescer de 7,5 mil para 25 mil aves. O número de empregados deve dobrar dos atuais 300 para 600, e o de integrados, de 45 para 120 na região de Mafra, Canoinhas e Itaiópolis, no Planalto Norte. Além disso, a empresa vai terceirizar outros produtos oferecidos hoje – o processamento de galinha d’angola e coelho, entre outros, deve ser suspenso em seis meses –, fazendo apenas a gestão da marca e das vendas.
A meta é que a receita da agroindústria salte dos R$ 28 milhões estimados para este ano para R$ 75 milhões em 2013. Este crescimento de 168% passa necessariamente pelo mercado europeu, para onde a Villa Germania deve fazer os primeiros embarques no próximo ano.
“Dos mercados abertos, o europeu é o melhor. Não podemos exportar para China e EUA, dois grandes consumidores, por falta de acordo comercial”, explica Grützmacher.
Com o reforço dos novos sócios, a Villa Germania poderá finalmente exportar para o Velho Continente. O processo de certificação começou em 2004, mas os embarques tiveram de ser adiados por causa da crise no mercado global de aves.
Mesmo sem ter presença na Europa, o mercado externo significa 60% do faturamento da empresa. O Japão é grande comprador de cortes de peito e coxas e sobrecoxas desossadas. Oriente Médio e China preferem aves inteiras. Estes últimos têm uma predileção especial por língua, que é o produto com maior margem de lucro da Villa Germania fora do País.