Redação (24/10/06) – Com a reagência do vírus de newcastle na região de Jaraguari (situada a 46 quilômetros de Campo Grande), apesar da sorologia não apontar a manifestação da doença nas aves produtores da região já estariam sentindo “na pele” os efeitos da notícia. Cerca de metade das granjas do município está vazia, há aproximadamente dois meses, depois da constatação feita pela Superintendência Federal de Agricultura (SFA). Isso porque, uma das empresas parceiras dos empreendimentos (Seara Alimentos S.A.) está rescindindo seus contratos com todos os granjeiros da região.
A indústria é uma das principais no País no processamento de carne suína e de frango, cujo controle acionário foi adquirido pela multinacional Cargill Agrícola S/A. Grande parte dessas aves abatidas em Mato Grosso do Sul é destinada à exportação. O diretor da Seara responsável pelos “cortes “, João da Costa, quando procurado, ontem pelo Correio do Estado, não quis se pronunciar sobre o fim dos contratos.
De acordo com a proprietária de uma dessas granjas em Jaraguari, R.D.O, que preferiu não se identificar na esperança de manter parceria com a Seara a empresa teria apresentado como justificativa para a quebra de contratos, o exame de sorologia positivo para o vírus feito pela SFA.
“A Seara convocou todos os granjeiros que têm parceria e disse que iria suspender o negócio devido a questão da newcastle, já que teria aparecido o vírus em pequena quantidade; isso há cerca de 60 dias. Contudo, depois, quando o papel da rescisão veio, na justificativa estava escrito que o motivo era a distância entre Jaraguari e Sidrolândia”, contou, frisando que a indústria mantém parceria na região desde o início da década de 90.
“Até então, eles nunca quiseram desfazer os contratos”, pontuou. A avicultora arrenda dois galpões, com capacidade para 30 mil frangos. “Apesar do laudo ter dado negativo para newcastle no ano passado, tivemos a propriedade isolada até abril deste ano e, agora, estamos sem criar frango; com os galpões vazios”, reclamou.
Surpresa
Outra produtora, que reclamou do fim das parcerias, foi Tereza Braga de Carvalho, 58 anos. Ela mostrou o documento de rescisão com a Seara, explicando: “Nós já fomos muito afetados pela suspeita de newcastle ano passado e tenho medo do aparecimento desse vírus piorar ainda mais a situação, depois que a Seara encerrou o acordo comigo e tenta com mais cerca de cinco produtores”, observou, ao ser informada sobre o exame de sorologia feito pela SFA.
O resultado também deixou surpreso o secretário de Agricultura do município, Clebson Ramos Brandão. “Aqui em Jaraguari temos mais de 10 granjas e somos os últimos a ser informados sobre esses problemas de newcastle e aftosa”, reclamou. O secretário disse que encaminhou ofício a Iagro e a SFA, solicitando informação sobre a detecção do vírus.
“Até agora ainda não recebemos nem o laudo das investigações realizadas em 2005”, frisou, lembrando a perda dos contratos firmados com a Seara. Segundo ele, a maioria das granjas da região está sem frangos. Um exemplo é a produção que está situada na Fazenda Santa Bárbara, onde dois galpões com capacidade para 30 mil aves estão abandonados.
Vírus da newcastle
Segundo a SFA/MS, o aparecimento do vírus responsável pela doença de newcastle que se manifesta em aves e é altamente contagiosa foi detectado no município, há cerca de um mês. No entanto o resultado da sorologia apontou percentual virótico de apenas 0,25%, sendo que a doença necessita de pelo menos 0,7% para se manifestar. No entanto o que levanta dúvidas em especialistas em avicultura consultados pelo Correio do Estado, é o fato de apesar de não haver vacinação contra a doença em aves de corte no Estado, a cepa do vírus apareceu, mesmo em pequenas proporções, em um lote das granjas. Contudo, até o momento não existe nenhuma explicação técnica para a manifestação do vírus.