Uma das grandes bandeiras dos produtores rurais em 2015 será a segurança no campo, afirmou o presidente do Sistema Farsul, Carlos Sperotto, em entrevista coletiva de final do ano. Segundo o dirigente, o produtor rural precisa de um seguro rural mais eficiente e de proteção de sua integridade física e patrimonial. “O endividamento que o setor enfrentou por anos, e foi equacionado, está vinculado à inexistência de um seguro rural eficiente. O produtor precisa de tranquilidade para buscar resultados. E precisa de sergurança pública, até para poder levar suas famílias para morar nas propriedades”, disse Sperotto, na manhã de quinta-feira (11.12).
O aprimoramento do aparato de segurança pública nas áreas rurais será uma das principais áreas de trabalho da Federação junto à equipe do novo governador, José Ivo Sartori. Já a melhoria dos mecanismos de seguro rural seguirá sendo negociado com o governo federal. “Agora, na frustração da safra de trigo, já vimos uma melhora no seguro rural”, disse o presidente da Farsul. “O seguro é uma das molas mestras da agricultura moderna, mas o Brasil ainda tem uma deficiência grande nessa área”, afirmou o vice-presidente da Farsul, Gedeão Pereira. Em 2013, intensificaram-se reuniões da equipe da Federação com técnicos do Ministério da Fazenda e da Agricultura, além de bancos e seguradoras, que resultaram nas melhorias.
Com readequações nos cálculos de produtividade esperada, a indenização para quem teve perdas no trigo foi ampliada. “Quem colheu de 10 a 15 sacos por hectare, terá até 50% de aumento na indenização com relação à regra anterior. Quem colheu 20 sacos por hectare, e nem seria indenizado, e agora terá direito a reparação”, afirmou o economista do Sistema Farsul, Antonio da Luz.
Queda na renda do produtor
O ano de 2014 também foi marcado por queda na renda do produtor gaúcho, motivada especialmente pela alta nos custos de produção. O sojicultor viu seu lucro cair de R$ 1.464 por hectare para R$ 741 (-51%); o de milho teve redução de R$ 396 para R$ 172 (-43%); já o de trigo viu seu prejuízo aumentar de R$ 218 por hectare para R$ 1.310 (alta de 506% nas perdas); somente o arrozeiro teve em 2014 um ano melhor do que o anterior, com o lucro passando de R$ 459 para R$ 762 por hectare (66%). “Nesta safra, o arroz foi melhor até mesmo que a soja. Faz três anos que o arrozeiro não precisa de um centavo do governo para sustentar preços”, comemora o presidente da Comissão de Arroz da Farsul, Francisco Schardong.
A alta dos custos de produção da lavoura é evidenciada pelo aumento de R$ 1,1 bilhão no valor tomado como crédito de custeio de janeiro a outubro de 2014 na comparação com todo o ano anterior. Essa alta não foi acompanhada por aumento no número de contratantes. Já os investimentos tiveram queda de cerca de R$ 1 bilhão na mesma comparação. Segundo a assessoria econômica do Sistema Farsul, o PIB agropecuário gaúcho deve fechar negativo, em 2,33% neste ano. Somando todos os setores, o PIB do Estado deve fechar com alta 0,1%, mas uma queda não está descartada.
Além disso, 2014 foi marcado por uma queda de 3,2% na colheita de grãos gaúcha, na comparação com 2013. Os dados da Farsul indicam uma safra de 29,264 milhões de toneladas. A baixa foi causada especialmente pelo trigo, que sofreu redução de 40,6% na produção, além de ter sua comercialização prejudicada por suspensões temporárias da Tarifa Externa Comum para importação de cereal de fora do Mercosul. “Hoje, temos no Brasil uma cadeia produtiva ordenada, que é a do arroz, e uma totalmente desordenada: a do trigo”, disse Sperotto.
Para 2015, a expectativa da Farsul é de melhoria na produção, com projeção de uma safra de 31,637 milhões de toneladas e de um valor bruto da produção de 35,64 bilhões, ou 11,1% maior do que em 2014, quando houve queda de 2% no VBP. “Se isso se concretizar, será bom para a economia, bom para o governo, mas não necessariamente significará mais renda para o produtor, já que a renda dele depende do custo de produção, também”, diz da Luz, que projeta pressões de custos formadas por alta nos preços dos combustíveis, da energia e desvalorização do real.
Meio Ambiente
Para Pereira, dar mais eficiência à Secretaria Estadual de Meio Ambiente será um dos grandes desafios do próximo governo estadual. “O Rio Grande do Sul tem perdido até mesmo investimentos industriais em razão de dificuldades de licenciamento ambiental”, afirmou. A Farsul também cobra uma definição do órgão ambiental estadual com relação ao conceito de Bioma Pampa a partir do novo Código Florestal. Segundo o assessor ambiental do Sistema Farsul, Eduardo Condorelli, produtores da Metade Sul ainda não têm segurança para enviar a declaração do Cadastro Ambiental Rural (CAR) devido a essas incertezas.
Pecuária de corte
A pecuária registrou bons resultados em 2014. Apesar do avanço da soja na Metade Sul, o abate de bovinos deve permanecer semelhante em 2014 ao número de 2013, mas o VBP deve ter alta de cerca de 20%. Segundo Schardong, a soja tem sido parceira da pecuária, proporcionando pastagens de qualidade no inverno e aumento da qualidade do rebanho. Os preços na temporada de primavera indicam o bom momento: a média dos reprodutores nos leilões foi de R$ 8,5 mil, ante R$ 7,7 mil no ano anterior.
Leite
Uma das metas do próximo ano para a Comissão do Leite da Farsul é lutar para colocar em prática um sistema que não permita fraudes no transporte do leite, após os casos de adulteração expostos na mídia em 2014. “O objetivo maior é fazer com que o leite saia direto do tanque de resfriamento do produtor e chegue na indústria sem a possibilidade de manuseio dessa carga”, afirma o coordenador do órgão, Jorge Rodrigues. Para isso, a saída é fazer a medição por fluxo e coleta do material de análise no mesmo processo. As amostras teriam lacre, que só seria rompido em laboratório. As mudanças, além de evitar fraudes, deixariam o produtor mais tranquilo.
Casa Rural
Em 2014, a Casa Rural – Centro do Agronegócio completou 10 anos. Segundo o gerente da instituição, José Alcindo de Souza Ávila, em 2015 deve ser lançado um plano de saúde direcionado a produtores. “Estimamos que há um mercado de cerca de 200 mil pessoas ligadas aos associados dos sindicatos rurais”, disse. Para Ávila, a contratação de um plano de saúde pode dar mais segurança e tranquilidade às famílias de produtores. A Casa Rural também promoveu, em 2014, seis etapas do Fórum Permanente do Agronegócio, com apoio do Sistema Farsul.