Empresas do setor de soja e de criação de bovinos para corte lideraram as recuperações judiciais deferidas no agronegócio nacional no segundo trimestre deste ano, de acordo com o Monitor RGF da Recuperação Judicial no Brasil, desenvolvido pela consultoria RGF & Associados. Este cenário é reflexo da queda nos preços das commodities, da quebra de safra em algumas regiões e do recuo na arroba do boi.
O número de empresas do agronegócio em recuperação judicial cresceu 8,48% no país no segundo trimestre deste ano em comparação ao mesmo período de 2023, totalizando 243 empresas, segundo o Monitor RGF da Recuperação Judicial. A plataforma considera apenas informações de empresas que tiveram os pedidos de recuperação judicial aceitos pela Justiça, classificando-as com base na atividade principal declarada na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE).
Rodrigo Gallegos, sócio da RGF especializado em reestruturação, prevê que novas recuperações judiciais serão deferidas este ano. “As empresas, na maioria dos casos, trabalham na consequência e não na causa dos problemas financeiros. Muitas vezes, a empresa não analisa internamente para encontrar alternativas à recuperação judicial, e isso ocorre em todos os setores”, afirma. No agronegócio, em particular, Gallegos observa que ainda há uma grande quantidade de grupos cuja gestão não é totalmente profissionalizada. “São grupos familiares, em um setor de capital intenso, que necessita de muito dinheiro para operar e é afetado por questões externas. Quando a gestão não é profissionalizada, eles desconhecem formas de se proteger dessas variações, como a cambial e o preço das commodities”, explica.
Por estado, São Paulo liderou o segundo trimestre com 47 empresas em recuperação judicial, impulsionadas pelo segmento de cana-de-açúcar (26). No entanto, em relação ao mesmo período do ano passado, houve uma redução, já que entre abril e junho de 2023 eram 59 grupos.
Em Mato Grosso, houve uma ligeira queda no número de companhias em recuperação judicial no segundo trimestre, passando de 43 em 2023 para 42 no mesmo intervalo de 2024. Em contrapartida, a situação se agravou em Goiás, onde a quantidade de grupos do agronegócio em recuperação judicial aumentou de 30 para 40 no segundo trimestre, comparado ao ano anterior, um crescimento de 33%.
Roberta Gonzaga, consultora da RGF especialista em reestruturação, destaca um fator importante nesse setor: “Muitas empresas deixam a recuperação judicial e têm retornado à operação, não estão entrando em falência. Não podemos saber a situação financeira exata da empresa, mas o fato de não entrar em falência é considerado um ponto positivo”, conclui.