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Setor não pode ficar quieto

<p>Reportagem da revista Veja divulga informação incorreta sobre a produção avícola brasileira e cria uma onda de protestos entre os profissionais e técnicos da avicultura.</p><p></p><p></p>

Redação 23/11/2005 – Associar o uso de hormônios com nutrientes, vitaminas, minerais, aminoácidos, etc. na ração de frangos tem sido muito comum ultimamente entre os profissionais de marketing e de comunicação, e até da área de produção avícola, que não têm conhecimento do que estão afirmando. A avicultura brasileira NÃO utiliza hormônio na alimentação de suas aves. E mais. Esta prática é proibida no País.

 

De acordo com professor Dr. Mário Jorge Penz, da Universidade Federeal do Rio Grande do Sul (UFRGS), tal afirmativa é um absurdo. “No Brasil, o emprego destas substâncias é proibido. Desta forma, não há a possibilidade de livre comércio das mesmas em nosso País. Sendo assim, o primeiro impasse que a indústria avícola teria que superar seria o do contrabando contínuo e sistemático de produtos que tivessem hormônios em suas composições. Pelo tamanho da indústria avícola brasileira e pelo volume de ração produzido para frangos de corte no Brasil (cerca de 10 milhões de toneladas de ração/ano) este comércio seria impossível de ser mantido sem que ocorresse qualquer denúncia clara, objetiva e não simples especulações levianas do emprego sistemático dos mesmos”, explica.

 

Ainda no campo da especulação, Penz declara que seria impossível o desconhecimento de qualquer benefício dos hormônios, pois a literatura técnica disponível é universal e de livre acesso a qualquer técnico que tenha curiosidade ou interesse em consultá-la. “E aqui está o ponto mais importante. A maioria das informações disponíveis na literatura internacional indica resultados controversos de qualquer hormônio no benefício do desempenho dos frangos de corte”.

 

A polêmica toda está girando em torno da matéria publicada pela revista Veja desta semana (edição 1932, de 23/11/2005), sob o título “A mania dos orgânicos”. Na reportagem, a jornalista cita expressamente que a produção de avícola brasileira utiliza “hormônio de crescimento, prática corrente nas granjas convencionais para que as aves se desenvolvam mais rapidamente”. Isto nas duas produções: corte (carne) e postura (ovos).

 

A reportagem está gerando uma indignação geral entre o setor avícola, que vem se manifestando de todas as formas para esclarecer a população que já leu a matéria da revista Veja, e as pessoas que ainda vão ler, de que esta informação é incorreta.

 

A União Brasileira de Avicultura (UBA) já se manisfetou e enviou uma carta ao Departamento de Atendimento ao Leitor da Veja, esclarecendo e fato e aguarda, no mínimo, uma retratação da publicação.

 

Veja a seguir, a íntegra de um artigo do Dr. Mário Penz, publicado na edição 1117, da revista Avicultura Industrial, em 2003, sobre o assunto.

 

Esclarecimento à população

 

Desde que a produção intensiva de frangos teve seu início, ainda na década de 60, os empresários e os técnicos do setor têm convivido com a avaliação, geralmente de leigos, de que estas aves necessitam da adição de hormônios em suas rações. Na realidade, quando se trata de manifestações individuais e de pessoas de pouca representatividade pública, as conseqüências são irrelevantes. Entretanto, muitas considerações têm sido feitas por médicos, nutricionistas e representantes de entidades protetoras do bem-estar da sociedade e que repercutem mais significativamente. Esta constatação é absurda e, em algumas circunstâncias, tem comprometido o setor, que fica obrigado a justificar-se quando, na verdade, não há qualquer razão para tal, uma vez que a avicultura brasileira não usa deste expediente para ter o desempenho de suas aves favorecido.

 

O desenvolvimento dos frangos de corte está baseado fundamentalmente em uma intensa atividade de pesquisa na área de genética, nutrição, sanidade e no entendimento das relações destes conhecimentos por meio do manejo nas granjas. As aves são os animais domésticos que têm o maior número de pesquisadores trabalhando para melhor conhecê-las e melhor produzi-las. Inclusive, é significativo o número de informações que tem sido obtidas destes estudos e que são aplicadas na produção de outros animais domésticos e também para melhorar o bem-estar dos seres humanos.

 

Já no final da década de 70, os pesquisadores, a partir dos dados de desempenho observados no passado próximo, podiam prever que os frangos, a cada ano, precisariam um dia a menos para atingir o mesmo peso obtido no ano anterior. Esta estimativa vem se confirmando e tudo indica que, pelo menos até os próximos anos, estes valores continuarão sendo observados. Mais uma vez, insisto no questionamento de que todo este avanço tecnológico não pode estar baseado na maior ou menor quantidade de hormônio que as aves possam receber diariamente. Ou que elas dependem da adição de hormônios para expressar seu potencial genético.

 

Proibido por lei

 

Tentando justificar o absurdo, gostaria inicialmente de sustentar minha argumentação pelo lado legal do uso de hormônios ou de substâncias citadas como quimicamente semelhantes aos hormônios. No Brasil, o emprego destas substâncias é proibido. Desta forma, não há a possibilidade de livre comércio das mesmas em nosso País. Sendo assim, o primeiro impasse que a indústria avícola teria que superar seria o do contrabando contínuo e sistemático de produtos que tivessem hormônios em suas composições. Pelo  tamanho da indústria avícola brasileira e pelo volume de ração produzido para frangos de corte no Brasil (cerca de 10 milhões de toneladas de ração/ano) este comércio seria impossível de ser mantido sem que ocorresse qualquer denúncia clara, objetiva e não simples especulações levianas do emprego sistemático dos mesmos.

 

Ainda no campo da especulação, seria impossível o desconhecimento de qualquer benefício dos hormônios, pois a literatura técnica disponível é universal e de livre acesso a qualquer técnico que tenha curiosidade ou interesse em consultá-la. E aqui está o ponto mais importante. A maioria das informações disponível na literatura internacional indica resultados controversos de qualquer hormônio no benefício do desempenho dos frangos de corte. Nos últimos anos têm sido estudadas drogas ditas beta-adrenérgicas, também chamadas de substâncias semelhantes aos hormônios, na alimentação dos animais domésticos. Estas drogas teoricamente permitem a redução da concentração de gordura e aumentam a concentração de proteína nas carcaças de frango de corte. Entretanto, resultados recentes têm demonstrado que em frangos de corte os seus benefícios são extremamente controversos onde, na maioria das vezes, estas substâncias não têm promovido qualquer benefício quando usadas da forma recomendada. Insisto em dizer que este tipo de informação não é privada.

 

Desenvolvimento genético

 

Outro aspecto importante, e que não pode ser ignorado, é que um número significativo de empresas avícolas brasileiras exportam frangos de corte para vários países do mundo. A propósito, nosso País é o segundo maior exportador mundial, perdendo em volume somente para os Estados Unidos da América. Como a indústria brasileira poderia correr mais este risco de ter seu produto condenado pela presença de alguma substância que viesse a comprometer a qualidade do produto exportado? Aliás, a cautela da indústria brasileira é muito grande e várias substâncias químicas, além de hormônios, que não são aceitas internacionalmente não são usadas, mesmo nas rações de frangos que serão consumidos no Brasil, para evitar qualquer risco de contaminação cruzada.

 

Então, a pergunta que fica é: por que as aves produzidas pela indústria avícola brasileira são tão precoces e tão diferentes daquelas produzidas de forma extensiva, ou em fundo de quintal (galinhas caipiras)?

 

Os frangos de corte produzidos pela indústria avícola, embora da mesma espécie daqueles produzidos extensivamente, são oriundos de linhagens comerciais que vêm sendo geneticamente desenvolvidas ao longo dos anos, exatamente para serem mais precoces e produzirem carcaças de melhor qualidade.

 

Cor diferente e gordura menos consistente

 

Uma indagação freqüente é: do por que das carcaças de frangos de corte produzidas pela indústria avícola são, muitas vezes menos amarelas, mais pálidas, e têm uma gordura menos consistente que aquela das aves produzidas no fundo do quintal? A resposta para isso é muito simples e, mais uma vez, nada tem a ver com o emprego de hormônios. A pigmentação dos frangos tem sido menos intensa pelo uso de alimentos alternativos que não dispõem de pigmentos nas suas composições e que terminam sendo absorvidos pelas aves como aqueles que têm no milho, alfafa, etc. Entretanto, fazer um frango mais pigmentado é muito fácil. Porém, a coloração amarela em nada altera a qualidade nutricional da carcaça. Esta característica é puramente estética e há países como o México e a Argentina que preferem carcaças mais pigmentadas que aquelas produzidas no Brasil e em alguns países europeus. Cabe ressaltar que o Japão, no momento o mercado importador brasileiro mais exigente, juntamente com a Inglaterra e outros países da Europa, também requer frangos com carcaças pouco pigmentadas. Porém, para fazer as aves ficarem melhor pigmentadas e sem qualquer benefício na qualidade da carcaça, custa caro e não está relacionado com o tipo de linhagem usada. Caso as galinhas caipira fossem produzidas sem alimentos ricos nestes pigmentos, certamente teriam suas carcaças menos amarelas. É importante que seja dito que a cor da carcaça não deve ser considerada como sinônimo de boa saúde do animal abatido.

 

A gordura também é um problema bastante discutido no setor. Os geneticistas e os nutricionistas têm trabalhado intensamente para reduzir a sua concentração na carcaça dos frangos. Os avanços têm sido marcantes. Porém, a diferença da gordura das galinhas caipira e dos frangos de corte de linhagens comerciais está baseada em dois aspectos essenciais. Inicialmente, as galinhas caipira são abatidas mais velhas e a relação de água gordura na carcaça é menor. Em outras palavras, aves mais velhas têm, proporcionalmente, menos água na carcaça e mais gordura e os pigmentos fixam-se fundamentalmente no tecido adiposo. Assim, a gordura destas aves é mais amarela e mais firme. Já os frangos de corte de linhagens comerciais são abatidos mais precocemente (entre o 42 e o 45 dia de vida), onde a relação água gordura é maior e, proporcionalmente, têm mais água na carcaça. Isto dá à gordura da carcaça uma aparência menos firme e, eventualmente, menos amarela, se pigmentos participaram da composição da dieta.