A Shell tem interesse em continuar a expandir o portfólio de exploração e produção de petróleo e gás no Brasil e deve participar da rodada da Agência Nacional do Petróleo (ANP), em dezembro, para áreas no pré-sal. O leilão será no formato de oferta permanente, quando os ativos são oferecidos sob demanda das empresas. A companhia anglo-holandesa avalia também os mercados de energia eólica no mar e de hidrogênio no país, disse ao Valor a diretora global de exploração e produção da petroleira, Zoe Yujnovich.
A executiva está no Brasil para participar da Rio Oil & Gas, que termina nesta quinta-feira (29) no Rio. “Temos sido participantes constantes das rodadas brasileiras por novas áreas [de petróleo e gás] e esperamos continuar a fazer isso no leilão de dezembro”, disse Yujnovich. A empresa não descarta também uma expansão do portfólio brasileiro em direção à Margem Equatorial, na região Norte. Essa é uma região considerada complexa do ponto de vista ambiental. “Estamos abertos a discutir [uma possível operação na Margem Equatorial]. Nossas decisões estão sempre baseadas nos fundamentos econômicos e na resiliência de carbono de cada projeto”, afirmou, em referência à procura da empresa por ativos de produção de petróleo com menos emissões.
Sobre as sensibilidades ambientais da região, Yujnovich disse que projetos de petróleo e gás têm passado a adotar novos riscos, conforme o tema da sustentabilidade se tornou mais central nas decisões da sociedade. Para ela, essa é uma tendência global: “Quando tomamos decisões de investimento na Shell, sempre olhamos para o balanço entre risco e retorno. Uma parte do perfil de risco em projetos era técnico, mas cada vez mais esse perfil passou a incluir questões não técnicas, como pressões das comunidades e o recebimento de licenças”, disse a executiva.
O Brasil está entre os oito países prioritários no mundo em investimentos para a Shell. Hoje a petroleira é a segunda maior produtora de petróleo e gás no país, atrás da Petrobras, considerando ativos operados e aqueles nos quais participa em consórcio. Dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) mostram que a produção da Shell no Brasil foi de 322,2 mil barris de petróleo por dia em junho e 13,99 milhões de metros cúbicos de gás por dia, segundo as informações mais recentes divulgadas.
O cenário de altos preços do barril de petróleo este ano, entretanto, pode afetar decisões de investimento da companhia no país. Yujnovich disse que a empresa avalia as propostas recebidas por fornecedores para prosseguir com a decisão de desenvolver a descoberta de Gato do Mato, a primeira operada pela Shell no pré-sal.
Segundo a executiva, a empresa deve avaliar no próximo trimestre a tomada de decisão final de investimento nesse projeto, que inclui os blocos BM-S-54 e Sul de Gato do Mato, na Bacia de Santos. As conclusões da companhia ainda serão levadas às parceiras no projeto: Ecopetrol e TotalEnergies. “Há pressões na cadeia de fornecimento. Precisamos entender as repercussões no investimento”, disse.
Yujnovich ressaltou que a Shell trabalha com projetos com um preço de equilíbrio (“breakeven”) abaixo de US$ 30 por barril, além de buscar ativos que tenham baixa emissão de carbono em relação à média da indústria. Ela lembrou que a companhia quer manter ativos que sejam competitivos em diferentes cenários. “Acreditamos que ainda vai haver muita volatilidade [nos preços do petróleo].”
Além das atividades de exploração e produção, a diretora vê potencial para replicar, no mercado brasileiro, o modelo de desenvolvimento de geração de energia eólica marítima que adotou no Mar do Norte britânico, onde aproveitou sondas que iriam perfurar poços de petróleo para acelerar a entrada em operação dessas usinas.
A Shell tem pedidos de licenciamento no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) para desenvolver eólicas offshore na costa brasileira. “Nós sabemos operar sondas, lidar com a segurança, realizar mobilizações no mar, entendemos correntes marítimas e o leito marinho. O conhecimento do mercado de exploração e produção não é apenas necessário, mas essencial para a transição energética.”
Segundo Yujnovich, outro negócio de interesse da companhia no país é a produção de hidrogênio e amônia verde. Ela ressalvou, no entanto, que é preciso haver celeridade na definição da regulação para esses setores. “O Brasil precisa estar consciente de que esse é um mercado competitivo e que está evoluindo rápido. Eu encorajaria o Brasil a pensar sobre esse ritmo para que tenhamos um entendimento dos fundamentos que permitam tomar decisões de investimento. É preciso ter clareza o mais rápido possível. Temos vontade e interesse em investir, mas precisamos entender os fundamentos.”
Yujnovich comentou ainda sobre eventuais mudanças regulatórias que podem ocorrer depois das eleições presidenciais de domingo. Disse que a empresa quer manter diálogo transparente com o governo sobre temas como, por exemplo, as políticas de conteúdo local. “A Shell está no Brasil há 109 anos. Uma das coisas que observamos foi uma estabilidade subjacente, que transcendeu alterações políticas. O respeito aos contratos e a estabilidade dos arcabouços regulatórios são fundamentais para nós. Gosto de acreditar que conseguimos trabalhar com qualquer partido que assuma o poder.”
O presidente da Shell no Brasil, Cristiano Pinto da Costa, disse que o país compete globalmente nas decisões por investimentos da petroleira e que o mercado brasileiro precisa se manter competitivo. Ele reforçou que a companhia defende o posicionamento do Instituto Brasileiro do Petróleo e do Gás (IBP) segundo o qual o modelo de concessão é o mais adequado para novos contratos de exploração e produção no lugar do regime de partilha em que o governo é sócio nas áreas.