A Embrapa vai iniciar ainda neste mês uma sindicância interna para investigar a figura jurídica e as operações de seu novo braço de atuação no exterior. O jornal Valor apurou que estão principalmente nesta frente os problemas ou divergências que levaram à saída de Pedro Arraes da presidência da empresa, medida que deverá ser confirmada hoje com a publicação de sua exoneração no Diário Oficial. Ontem ele trabalhou.
Anunciada no início de 2011, a Embrapa Internacional, oficialmente, ainda não saiu do papel, mas fontes ligadas à estatal afirmam que ela é praticamente independente, inclusive com autonomia para captar recursos de fontes como Banco Mundial (Bird), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), além de agências de fomento como a Fundação Bill & Melinda Gates.
Apesar de a investigação ainda não ter começado, opositores de Arraes na Embrapa afirmam que algumas parcerias com empresas em outros países foram firmadas mesmo sem o início formal dos trabalhos do braço internacional. Com isso, dizem, operações financeiras que deveriam ser realizadas em contas da estatal no Brasil foram conduzidas por meio de bancos no exterior. A investigação interna vai avaliar se de fato foram feitas essas operações, se houve perdas financeiras por isso e se algum estágio do processo de criação da Embrapa Internacional será revisto. A ideia era que a divisão tivesse uma diretoria independente.
Os apoiadores de Arraes na Embrapa, em contrapartida, afirmam que o governo decidiu penalizar a “insubordinação” do presidente da empresa, que divergia da cúpula do Ministério da Agricultura sobre a gestão de suas operações internacionais. Essa ala diz que Arraes defendia uma atuação descentralizada e ágil, enquanto o ministério fazia questão de controlar cada passo das ações. Procurados, Embrapa e Arraes preferiram não comentar.
Reconduzido ao cargo em 16 de agosto para seu segundo mandato, Arraes foi trazido às pressas dos EUA para uma reunião com o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, na quinta-feira, quando, segundo apurou o Valor, foi informado da decisão de tirá-lo da presidência, posição que ocupa desde 7 de julho de 2009. Geneticista, ele era chefe-geral da Embrapa Arroz e Feijão e assumiu o cargo em meio a um embate político. Em março de 2009, o físico Sílvio Crestana pediu afastamento do cargo e oito nomes foram inicialmente selecionados. Após lobbies nos bastidores, na lista tríplice enviada para a escolha do então presidente Lula o geneticista Arraes, primo do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), já era o favorito.
O comando da Embrapa será assumido, interinamente, pela diretora-executiva de Administração e Finanças, Vania Beatriz Castiglioni, que é capixaba e está na estatal desde 1989. Ela é engenheira agrônoma pela Universidade Federal do Espírito Santo. Outro nome forte para assumir a estatal é do o pesquisador mineiro e diretor-executivo de Pesquisa & Desenvolvimento, Mauricio Antônio Lopes. Engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Viçosa (MG), Lopes tem mestrado e doutorado nos EUA e pós-doutorado na Itália.
A troca é encarada como uma boa notícia pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sinpaf). “A gestão que sai é uma gestão que os funcionários têm rejeição imensa”, afirma o presidente da entidade, Vicente Almeida.