Redação (15/02/07) – A suinocultura enfrenta nova crise com o aumento dos custos, provocado pela elevação dos preços dos principais ingredientes da ração (milho e farelo de soja). Como a produção continua acima da demanda interna desde a crise da aftosa, deflagrada em 2005, é preciso ampliar o mercado para que os preços não caiam, argumenta a Associação Paranaense de Suinocultores (APS).
A meta da APS é fazer com que 80 dos 399 municípios do estado passem a comprar carne suína para a merenda escolar neste ano. As licitações são realizadas pelas prefeituras, mas as escolas é que decidem o que será comprado. O cardápio, definido em discussões com pais, professores e nutricionistas, não muda se não houver quem saiba preparar os ingredientes. A estratégia dos suinocultores é mostrar às prefeituras que o preço da carne suína baixou e oferecer cursos de culinária às merendeiras.
O Paraná produz cerca de 430 mil toneladas de carne suína por ano, conforme projeção do setor baseada em números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O consumo interno estaria em cerca de 120 mil toneladas, e as vendas externas não garantem mercado às outras 310 mil toneladas. Para que os preços voltem a cobrir os custos, é necessário dar nova saída para cerca de 65 mil toneladas (15% da produção), estima o presidente da APS, Irineu Wessler.
Os produtores alegam que o custo de produção subiu de R$ 1,70 para R$ 2,00 o quilo nos últimos três meses. Eles continuam recebendo entre R$ 1,60 e R$ 1,80 na hora de distribuir o produto. O prejuízo chega a 40 centavos por quilo. O setor esperava melhores preços neste ano, para superar a crise da febre aftosa. Com a imposição de barreiras internacionais às carnes paranaenses, a oferta interna é maior que o consumo há 15 meses.
As indústrias alegam que não podem pagar mais aos suinocultores porque seguem as regras do mercado. O diretor de Mercado da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abiceps), Jurandir Machado, afirma que o primeiro trimestre é historicamente um período de baixo consumo de carne, por causa do calor. A Abiceps representa as principais indústrias, incluindo Frimesa, Perdigão, Sadia e Seara.
Ele argumenta que o produto poderia estar custando menos ao consumidor, o que elevaria a demanda. Os supermercados usam o frango como chamariz. No caso do suíno, a margem é bem maior.
Machado não acredita que a crise suína trará retração na atividade industrial a médio prazo. Ele considera que, mesmo que decidam abandonar o setor, os criadores precisam de tempo. O ciclo da produção de carne suína leva de 9 a 10 meses, da gestão à oferta de animais com 135 quilos.
Socorro Setor pede que o governo federal compre parte da produção
Para dar destino à carne que não é consumida no mercado interno, os suinocultores do Paraná tentam sensibilizar o governo federal a comprar parte da produção. Eles encaminharam a proposta à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que ainda não se posicionou. Mais de 100 mil suínos alojados estariam acima do peso de abate (135 quilos) porque não há mercado.
Se isso não ocorrer, muitos suinocultores terão de abandonar o setor, afirma o presidente da Associação dos Criadores de Suínos do Norte do Paraná, José Luiz Vicente da Silva. Ele argumenta que existem 213 mil pessoas trabalhando no setor no estado.
A expectativa é de que a Conab compre 50 mil toneladas de carne suína do Paraná. No entanto, como o produto está sobrando também em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, há menos chances de o pedido ser atendido, afirma o presidente da Associação Paranaense de Suinocultores (APS), Irineu Wessler. Em sua avaliação, os suinocultores que arcam com prejuízos há um ano não terão como continuar na atividade a partir de março.