A petroleira francesa TotalEnergies está formando uma joint venture com a Casa dos Ventos, uma das pioneiras e líderes no desenvolvimento de projetos eólicos no Brasil — num negócio que sublinha o apetite de empresas de óleo e gás por ativos de energia limpa no país para cumprir seus planos de descarbonização.
É uma das maiores transações no setor de renováveis nos últimos anos.
A Total está pagando R$ 4,2 bilhões por uma fatia de 34% na nova sociedade, dos quais R$ 2,9 bilhões em dinheiro e o restante em assunção de dívidas — o que avalia o negócio em R$ 12,6 bilhões.
A petroleira tem a opção de comprar uma fatia adicional de 15% ao longo dos próximos cinco anos. A joint venture engloba um portfólio de quatro complexos eólicos da Casa dos Ventos que somam 1,7 GW de capacidade, dos quais 700 MW em operação e 1 GW em construção, com previsão de conclusão até 2024.
Também ficaram dentro da sociedade 4,5 GW de projetos eólicos e 1,6 GW que devem começar a ser construídos em breve, com previsão de conclusão em até 5 anos.
Ficaram de fora do projeto de 20 GW mapeados pela Casa dos Ventos. Mas a JV terá o direito de adquirir aqueles que estão em desenvolvimento conforme cheguem ao estágio de execução.
Este é o primeiro aporte recebido pela Casa dos Ventos, e deve dar fôlego para a companhia, que desbravou o mercado de energia eólica no Brasil e até o momento vinha se financiando com uma estratégia de reciclagem de capital, vendendo projetos maduros para financiar novas empreitadas.
Capitalizando a pioneira Fundada em 2006 pelo empresário cearense Mário Araripe — fundador da fábrica de jipes Troller, que foi vendida para a Ford — num momento em que a fonte eólica ainda não tinha competitividade, a empresa se dedicou a identificar onde sopravam as melhores oportunidades no país. Fez um amplo mapa de medição de ventos, numa das maiores campanhas exploratórias de recursos eólicos do mundo.
A Casa dos Ventos atuou por quase 10 anos apenas como desenvolvedora, vendendo os projetos para empresas interessadas em implementá-los. De cada quatro projetos no Brasil, um foi desenvolvido pela companhia. O braço de geração foi estruturado em 2013, quando a empresa participou e venceu leilões no mercado regulado. Eólicas com cerca de 1,1 GW de capacidade foram construídas e depois vendidas para reciclar capital — hoje, estão nas mãos de Echoenergia, Cubico e Auren Energia.
O grupo voltou a ter empreendimentos próprios em 2017, voltados para o mercado livre e para atender grandes consumidores, como Vale, Vulcabras e Tivit. “Além de sua força financeira, a pegada global da TotalEnergies vai contribuir para a expansão de nosso portfólio de clientes e aprimorar nosso conhecimento em novos campos da transição energética”, afirmou Araripe em nota.
A nova sociedade também buscará oportunidades de investimento nas áreas de hidrogênio e amônia verde. A Casa dos Ventos já deu declarações de que pretende entrar nesses mercados.
Total no Brasil
A Total tem o compromisso de atingir 100 GW em energias renováveis até 2030, como parte de seu plano de transição energética.
O negócio no Brasil vem após a aquisição da Adani Green, na Índia, e da Clearway, nos Estados Unidos. “Com essa transação, a TotalEnergies adquire nada menos que uma posição de liderança no mercado de energias renováveis brasileiro, um dos mais dinâmicos do mundo”, disse o CEO da Total, Patrick Pouyanné, em nota. “Casa com nossa estratégia de aproveitar o crescimento de mercados de energia não regulados, que são cruciais para a transição energética.”