Da Redação 24/11/2003 – 04h20 – Ainda praticada por poucos produtores, a agroecologia é um mercado promissor. Mesmo que, para uns, o futuro seja a ocupação de nichos de mercado e, para outros, o destino deste tipo de cultura seja ocupar as áreas de cultivo convencional, todos concordam que ela será fundamental para a alimentação e a saúde da população mundial. O interesse pelo tema pode ser conferido nos mais de 3 mil participantes do 1 Congresso Brasileiro, 4 Seminário Internacional e 5 Seminário Estadual sobre Agroecologia. Os eventos encerram-se hoje no Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre.
O mercado de produtos ecológicos em geral cresce 25% por ano no país. Segundo o chefe-geral da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Clima Temperado, de Pelotas, João Carlos Costa Gomes, movimenta US$ 300 milhões por ano:
Há 10 anos, a produção agroecológica não era nada, estava restrita a organizações não-governamentais (ONGs). Hoje, tornou-se parte de políticas públicas e é aplicada pela Emater e pela Embrapa.
Conforme Gomes, entre 25% e 30% dos agricultores gaúchos usam algum tipo de tecnologia agroecológica – mas menos de 10% praticam agroecologia pura. Os demais estão em processo de transição e redesenho da produção, o que leva de três a cinco anos. Destes, entre 80% e 90% são pequenos produtores, e a maioria planta feijão, milho ou frutas – 60% dos fruticultores assistidos pela Emater estão inseridos em uma destas fases.
Um dos principais paradigmas da agroecologia hoje é o mercado. A produção atualmente ainda é pequena, e a pouca oferta aliada à necessidade de transportar para outros municípios elevam o preço dos produtos acima dos convencionais.
“O problema não é preço. Estamos brigando para sair das feirinhas, mas falta escala de produção” explica o agrônomo Dulphe Pinheiro Machado Neto, da Emater.
O presidente da Embrapa, Clayton Campanhola, observa que neste tipo de produção, o agricultor usa menos insumos, não necessita de químicos e, por isso, é quase auto-suficiente. O diretor do Instituto de Sociologia e Estudos Campesinos da Universidade de Córdoba, na Espanha, Eduardo Guzmán, afirma que os custos de produção e o preço do produto final dos processos agroecológicos não são maiores do que os da agricultura convencional.
“A agroecologia tem a vantagem de ocupar mercados alternativos que eliminam os intermediários. O agricultor negocia diretamente com o consumidor” justifica.
Para Hector Gravina, da ONG espanhola Amigos de la Tierra, a lógica de mercado não é um obstáculo para o avanço dos produtos agroecológicos. Ele diz que 89,4% de toda a comida produzida hoje no mundo é consumida em mercados locais (desde uma comunidade até nacionalmente), e 10,6% se exporta ou importa.
“E podemos pensar que cerca de 50% do volume agrícola produzido mundialmente é vendido em mercados estritamente locais, muitas vezes em sistema de trocas dentro da comunidade” completa.
Gravina acrescenta que, para a Amigos de la Tierra, preço de alimento não é questão de mercado, é questão política. Embora aplicada prioritariamente à pequena propriedade, a agroecologia é viável, segundo os pesquisadores, na produção em larga escala. Clayton Campanhola afirma que há experiências bem-sucedidas em lavouras de cana-de-açúcar no país. Mas admite:
“Ainda falta pesquisa para introduzir a produção agroecológica na grande escala de produção.”