A avicultura de fundo de quintal ou criação de galinha caipira é uma atividade praticada em grande parte por agricultores familiares e/ou pequenas criações urbanas que requer baixo investimento e boa lucratividade.
É um mercado que atende a um público específico que muitas vezes paga mais por características ligadas ao sabor, cor e textura da carne e do ovo produzidos quando comparados aos produtos da avicultura industrial.
Aliado às qualidades organolépticas peculiares, há uma crença popular em que o consumo dos produtos de aves caipira leva a um estilo de vida mais saudável em comparação ao consumo de produtos da avicultura industrial.
Na maioria das vezes, liberadas da obrigatoriedade de registro (por possuírem um número de aves inferior a 999 animais), a criação de aves caipiras não passa por apoio técnico e muitas ferramentas proibidas na avicultura industrial, pelo risco de resultar em perigo para saúde pública, são amplamente exploradas na avicultura caipira. Nesse aspecto, destaca-se o uso de antimicrobianos de forma indiscriminada.
O uso de antimicrobianos sem moderação é uma prática corriqueira na avicultura de fundo de quintal. Pela legislação brasileira vigente, a comercialização de antibióticos em farmácias é realizada com controle.
No entanto, o mesmo rigor não é estabelecido para venda de antimicrobianos produzidos para animais em casas agropecuárias.
A avicultura industrial explorou por décadas o uso de antimicrobianos como melhoradores de desempenho até que muitos problemas surgiram e há muitos anos países importadores tem adotado práticas para o banimento do uso desses fármacos como promotores de crescimento.
No Brasil, o banimento total dos antimicrobianos melhoradores de desempenho ainda não ocorreu.
No entanto, o uso está cada vez mais restrito e mesmo aqueles utilizados por muitos anos na história da avicultura industrial brasileira foram proibidos na última portaria do MAPA nº 171, de 13 de dezembro de 2018 (BRASIL, 2018).
Os problemas com o uso de antibióticos na avicultura industrial ainda existem, em especial devido a prática de tratamento sem um critério técnico efetivo.
Isso é explicitado em vários artigos que relacionam bactérias resistentes isoladas em humanos oriundas de animais.
No entanto, a prática do uso dentro desse setor parece ser mais controlada. Isso porque, apesar da resistência de muitos técnicos e administradores, há uma tendência por parte das empresas industriais de evitar o tratamento de animais sem um rigor técnico o que junto com a legislação favorece a diminuição da disseminação de bactérias resistentes.
Os efeitos adversos causados nos humanos pela existência de resíduos antimicrobianos nos alimentos de origem animal e as reações de hipersensibilidade, são uma crescente preocupação (NRC,1999).
Para isso, o Codex alimentarius, programa conjunto da Organizac¸a~o das Nac¸o~es Unidas para Agricultura e Alimentac¸a~o (FAO) e da Organizac¸a~o Mundial da Sau´de (OMS), tem como um de seus objetivos definir os riscos toxicológicos decorrentes da presença desses resíduos.
Embora haja comprovação científica sobre os riscos do uso dos antimicrobianos na produção animal e haja várias campanhas de sensibilização por parte dos órgãos oficiais, percebe-se uma onda de banalização da Ciência no Brasil onde se inclui o uso de antimicrobianos.
Nesse sentido, infelizmente, ainda há muitos profissionais da área da veterinária que não acreditam ou simplesmente negligenciam a importância do uso restrito e controlado de antimicrobianos.
Os órgãos oficiais brasileiros têm se esforçado no sentido de controlar cada vez mais o uso dos antimicrobianos. Em abril de 2018, o Ministério da Saúde abriu dois editais para apoiar estudos no País sobre a resistência aos antimicrobianos.
Ele está coordenando a elaboração de um plano nacional que deve ocorrer integrado e com a participação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Ministério da Pesca, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Essa ação está ocorrendo principalmente porque a OMS declarou crescente o nível de resistência mundial. Países da União Europeia (UE) estão mais evoluídos quanto ao uso de antimicrobianos na medicina animal.
Nesses países há um rigor previsto pela legislação e os dados mostram uma queda de resistência dos microrganismos aos antimicrobianos.
Já nos EUA, embora a legislação não seja tão rigorosa quanto na UE, trabalhos de conscientização resultaram na diminuição do uso de antibióticos.
Na contramão do rigor da avicultura industrial e de países da UE e EUA, como anteriormente discutido, na criação de aves caipiras antibióticos são fornecidos sem conhecimento técnico, adquiridos sem nenhum controle em casas agropecuárias.
Essa prática, além do problema da resistência, também pode levar a problemas toxicológicos nos seres humanos já que não se sabe se o período de carência foi respeitado pelos proprietários.
Confira a matéria completa na Edição 1289 da Revista Avicultura Industrial