O conceito de proteína ideal surgiu com o objetivo de trazer mais equilíbrio e racionalidade no atendimento dos níveis de proteína e aminoácidos praticados nas formulações. Seu uso se difundiu a partir do momento em que os aminoácidos sintéticos se tornaram mais acessíveis ao produtor. Esse conceito consiste em reduzir o nível de proteína bruta das dietas levando em consideração uma relação ideal entre os aminoácidos essenciais (lisina, metionina, treonina, triptofano, isoleucina, arginina, valina) tendo a lisina como aminoácido referência. Essa redução do nível de proteína bruta das dietas impactará primeiramente no custo de fórmula, haja visto que a proteína está entre os nutrientes mais caros da dieta, com efeitos indiretos na fisiologia da ave, ambiente de criação e meio ambiente.
Com esse novo panorama de produção, no qual a redução do uso de promotores e sustentabilidade são bases fundamentais dos sistemas de criação, a utilização de proteína ideal é uma das ferramentas que poderá contribuir para atingir tais objetivos, pois possibilita o fornecimento adequado de nutrientes (aminoácidos) necessários para o bom desempenho, com “poucas sobras” para o desenvolvimento das bacteriano. Estudos mostraram que a redução da proteína bruta das dietas acompanhada da suplementação de aminoácidos, neste caso específico treonina, afetou a saúde intestinal por regular a secreção de mucina e imunoglubulinas, favorecendo também o desenvolvimento de bactérias benéficas que colonizam o TGI das aves (Dong et al., 2017).
Quando trabalhamos com níveis elevados de proteína bruta teremos um excesso de aminoácidos na dieta que necessitam de um processo de catabolismo gerando altos níveis de nitrogênio plasmático para serem excretados. Esse processo de excreção do nitrogênio tem um alto custo metabólico e quando ativado por longos períodos levam a um desgaste excessivo de órgãos, como fígado e rins. Todos esses aspectos associados podem levar a uma redução da longevidade dos animais e, consequentemente, do resultado zootécnico dos lotes.
Além dos pontos citados acima, fórmulas com altos níveis de proteína geram um elevado gasto metabólico para os processos de digestão, bem como o aumento do incremento calórico que, nada mais é, que o “desprendimento” da energia gerada durante os processos da digestão e absorção de alimentos (Sakomura & Rostagno, 2007), o que se torna um fator de risco uma vez que a realidade brasileira de criação é marcada por elevadas temperaturas na maior parte do ano.
Os benefícios desse conceito se estendem além da economia com o custo de fórmula, impactando diretamente no ambiente de criação, pois ao se diminuir o nível de proteína bruta mantendo uma relação adequada de aminoácidos essenciais é possível reduzir a porcentagem de nitrogênio contido nas fezes e, consequentemente, menos amônia no ambiente, bem como uma menor ingestão de água, sem prejuízo dos índices zootécnicos. Estudos apontam que a redução do nível de proteína bruta em um ponto percentual como a suplementação de aminoácidos sintéticos pode diminuir em até 8,5% o conteúdo de nitrogênio nas excretas (SINDIRAÇÕES, 2011).
Assim, percebemos que a aplicação desse conceito vem de encontro com uma nova realidade que busca cada vez mais aliar produtividade com o menor impacto dos sistemas de criação ao meio ambiente. Nossa nova realidade não nos dá o luxo dos “excessos” sendo necessário que nós, nutricionistas, formulemos cada vez mais próximo das reais necessidades de nossos lotes, buscando entender como nossas formulações impactarão não só na fisiologia animal, mas também em todos os fatores envolvidos no sistema.