As vendas de defensivos agrícolas no Brasil cresceram cerca de 30 por cento no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2012, atingindo o patamar recorde de 6,7 bilhões de reais, com antecipações de compras de produtores em meio a um dólar mais forte, afirmou nesta quarta-feira o diretor-executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Eduardo Daher.
Os negócios do setor de agroquímicos são um bom termômetro sobre da situação financeira dos agricultores, embora o ritmo das vendas também seja influenciado pelo aparecimento de doenças fúngicas, insetos e ervas daninhas.
“As vendas estão evidentemente antecipadas no mercado brasileiro pelo efeito câmbio, apagão logístico e mesmo helicoverpa (praga que ataca as lavouras)”, afirmou Daher em entrevista ao chat Trading Brazil da Thomson Reuters.
Os negócios do primeiro semestre normalmente são mais fracos em relação ao segundo semestre, mas neste ano os produtores – observando o dólar subir frente ao real– anteciparam parte das compras com o objetivo de “travar” custos de matérias-primas denominadas na moeda norte-americana e importadas, disse o executivo da associação que representa 13 empresas de defensivos agrícolas que atuam no país, todas multinacionais.
No ano, a expectativa do setor é de um crescimento de 8 a 10 por cento nas vendas na comparação com 2012, reafirmou Daher. No entanto, o valor em reais do faturamento dependerá muito da cotação do dólar, uma vez que os negócios do setor são atrelados à moeda norte-americana.
O dólar forte beneficia, em um primeiro momento, o agricultor que produz commodities com preços atrelados à moeda estrangeira, mas posteriormente eleva os custos das matérias-primas.
“O câmbio é seguramente uma relação de amor e ódio no mercado de insumos”, disse Daher, acrescentando que os negócios de trocas de insumos por produtos como soja e milho, conhecidos como “barters” se arrefeceram pela volatilidade do câmbio e dos preços das commodities.
“Vamos sentir melhor isto (como estão os ‘barters’) quando vierem as chuvas e a safra de verão”, completou, lembrando que a soja e o milho estão entre as culturas agrícolas mais beneficiadas pelo câmbio.
Nova safra – O executivo da Andef acredita que a safra 2013/14, com plantio nas próximas semanas, registrará um “ligeiro acréscimo em áreas plantadas de milho e soja”, na comparação com a temporada anterior, ainda em função das cotações das commodities e do dólar.
Ele chamou a atenção que não há “grande estímulo nas culturas perenes”, como café e laranja, da parte dos preços, assim como para a cana-de-açúcar, em função dos limites para reajuste de preços do etanol impostos pelo controle governamental da cotação da gasolina, concorrente do biocombustível no país.
Daher também não vê um horizonte muito favorável para o plantio de algodão no Brasil em 13/14.
“Acho bastante difícil (ter crescimento de área), a não ser em áreas novas recentemente abertas (como no Mapitoba – Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia)”, disse Daher, ressaltando que o ataque da lagarta helicoverpa armígera e os preços da pluma são desestímulos.
“Sem contar com o caos logístico que já experimentamos recentemente, que só tende a se agravar na próxima safra.”
Mais inseticidas – O ataque da helicoverpa, uma praga nova nas lavouras de soja do Brasil, que causou perdas bilionárias na última safra, mudou um padrão de vendas de defensivos no primeiro semestre, revelou o diretor da Andef.
Antes, os fungicidas costumavam dominar as vendas. Agora os inseticidas se destacam, segundo a entidade.
“Sentimos neste momento um desbalanceamento na venda de inseticidas, que só pode ter sido gerado pela helicoverpa. Estimamos uma venda superior de 10 a 15 por cento na média atual até o primeiro semestre”, afirmou Daher.