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SNDS

Wessler assume ABCS

<p>Novo presidente e nova diretoria da entidade assumiram respectivos cargos após cerimônia de posse realizada em Foz do Iguaçu (PR).</p>

Após elegerem os novos representantes da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) na última quarta-feira (1), uma Cerimônia de Posse foi realizada hoje (3), as 10h, durante o Seminário Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura (SNDS), em Foz do Iguaçu (PR). Na ocasião, o presidente eleito da entidade, Irineu Wessler, fez seu primeiro discurso como presidente da ABCS.

A íntregra do discurso está abaixo. Leia.

Meus amigos

Em primeiro lugar, sinto-me honrado por ter sido eleito para viver a importância histórica deste momento, em que a confiança dos colegas produtores nos trouxe à condição de décimo Presidente da História d ABCS, instituição que completa, em 13 de novembro,  54 anos de serviços prestados aos suinocultores e, porque não dizer, ao povo brasileiro.

Mais do que uma honra, estamos falando de vários e agigantados desafios, de um trabalho cuja importância social e econômica nem sempre é adequadamente percebida pela sociedade brasileira como um todo. E esta realidade talvez encerre a primeira e mais prioritária tarefa desta nova etapa.

A suinocultura brasileira exige ser uma voz política compreendida e respeitada na exata dimensão de sua relevância para a sociedade.

Senhoras e Senhores

A ABCS não pode ser uma voz isolada.

A ABCS tem que ser, sim, o eco dos anseios de parcela expressiva dos quase 1 milhão de brasileiros cuja renda deriva diretamente da produção, do fornecimento de insumos, de nutrição, de medicamentos, de material  genético, do processamento industrial, da distribuição e da comercialização da carne suína no país.

Vamos começar por agarrar o bastão repassado pelo Presidente Rubens Valentini com o cuidado e a atenção que se exige das equipes que trabalham em função do time. Se de um lado nossos problemas são enormes, do outro nosso time é pequeno, por enquanto formado por 12 representações estaduais e alguns núcleos regionais. Portanto, haverá sempre espaço entre nós para a prática da democracia, mas seguramente não existe espaço para a desunião em torno dos nossos objetivos estratégicos. É simples assim: escolher entre jogar sozinho, ou jogar para a equipe, neste caso representa a opção entre ganhar, ou perder.

Se estamos no mesmo time,  dar continuidade ao inestimável trabalho conduzido pelo Rubens Valentini não  é mais do que uma obrigação. Rubens deu os primeiros passos para diagnosticar os motivos pelos quais o Brasil ocupa a inaceitável condição de ser o único dos grandes produtores mundiais de carne suína consumindo abaixo de 30 kg per capita do produto.

 E bem abaixo, Senhoras e Senhores.

Os brasileiros consomem apenas inadmissíveis 13 kg per capita, dos quais 75 por cento através de produtos processados. Dos 83 kg de carne que cada brasileiro consumiu em 2008, apenas 4 kg foram de carne suína fresca.

A, ABCS, ao nosso ver, deve enfrentar essa realidade com a devida indignação, mas também  com a determinação política irrefreável de unir todos os elos da cadeia em torno desta missão.

O trabalho do Rubens deu início à necessária revolução estrutural, e deve ser continuado, aprimorado. Foram conquistas importantes. Hoje, nas grandes redes do varejo a carne suína ocupa um espaço bem diferente de há 4 anos. A Campanha Um Novo Olhar Sobre a Carne Suína mapeou o perfil da demanda e, da mesma forma, dos obstáculos que hoje se interpõem entre o nosso produto e os desejos dos consumidores, seja através da qualidade da apresentação, do formato, do volume, ou da associação com obesidade.

Mas, precisamos ir muito além.

E o setor tem pressa. Não pode esperar.

Aumentar o consumo de carne suína no país é a forma mais direta e objetiva de garantir as bases para a formação de um preço justo para o suíno vivo. E nós sabemos muito bem quantos companheiros não conseguiram chegar até o dia de hoje, sucumbindo diante de uma estrutura mercadológica perversa.

Abrem-se várias frentes, de um mesmo trabalho.

Existem dois tipos de suinocultura no Brasil, que precisam ser tratados diante de suas necessidades e características, que podem ser diferentes, mas são igualmente urgentes e justas.

No Centro-Oeste, temos uma suinocultura marcadamente empresarial, que enfrenta condições operacionais terríveis, com seu cotidiano pautado pela precariedade da infra-estrutura. O Centro-Oeste oferece ao Brasil e ao planeta, carne suína produzida com manejo de primeiro mundo, com genética de primeiro mundo, com nutrição de primeiro mundo, por empresários de primeiro mundo, mas escoada por estradas subdesenvolvidas, comprometendo dramaticamente o resultado dos negócios.. 

No Sul, temos majoritariamente um suinocultor familiar, de pequeno porte, regido principalmente por regras antigas do modelo de integração. Aqui há muito a ser feito. O mercado interno brasileiro é promissor, é auspicioso, como podemos constatar ao longo deste seminário. Porém, será tanto melhor explorado quanto conseguirmos transformá-lo num jogo de ganha-ganha para todos os seus participantes.

Nesse particular, a fusão entre as duas maiores integradoras do país se apresenta como uma oportunidade histórica, um momento ímpar do ponto de vista estratégico. É a hora de debatermos com as empresas, com o governo, com o conjunto da  sociedade as bases de uma relação de mercado que paute o crescimento do setor em bases modernas e sustentáveis.
 
Senhoras e Senhores

Não podemos enfiar a cabeça na ração e fingir que os problemas não existem, desviar dos assuntos fundamentais do setor. Nossos antepassados tiveram a coragem de sair do Porco Banha para entregar à sociedade o Suíno Brasileiro, um produto que orgulha a todos nós. Cabe a nós, agora, lançar mão da mesma coragem de enfrentar as questões centrais do setor por mais delicadas e difíceis que estas sejam.

Sem um preço de referência, pautado por dados de mercado consistentes e tecnicamente confiáveis, continuaremos a marchar num ambiente de instabilidade e insegurança.

Nesse sentido, vamos contar particularmente com a Vossa Ajuda, Ministro Stephanes.

A questão ambiental é outro exemplo importante.

Foram feitos grandes avanços, estamos fazendo nossa parte. Inúmeras granjas já  trabalham com biodigestores, transformando-se em projetos de contribuição ambiental positiva.

Mas, por enquanto somos desconsiderados na redação das leis que impactam nossa atividade. Por enquanto, estão exigindo que paguemos sozinhos uma conta que é de toda a sociedade. Esta mesma sociedade que exige de nós uma quantidade crescente de alimentos para uma população igualmente crescente precisa compreender melhor o nosso papel e partilhar os custos das justas intervenções, ou compensações ambientais, que se fazem necessárias.

O aquecimento global é um problema que preocupa e diz respeito principalmente àqueles cuja sobrevivência decorre do equilíbrio das condições climáticas, ou seja, nós, homens do campo. E os suinocultores têm que construir a própria proposta, oferecer alternativas à sociedade, antes que nos imponham condições operacionais rigorosamente injustas diante do nosso papel social, dos custos que enfrentamos para produzir, dos riscos inerentes à atividade, e da limitada remuneração que conseguimos no final do processo.

Não discutimos a importância da questão ambiental, mas fazemos questão de discutir quem vai pagar e de que forma será paga a conta destas correções.

Outro exemplo é a necessidade de incorporação do conjunto dos estados brasileiros ao sistema ABCS. Pode ser que os estados do Nordeste não representem uma parcela expressiva da produção brasileira. Mas, não podemos esquecer dois aspectos estruturantes, que tornam a participação do nordeste uma necessidade premente.

Primeiro, é indispensável que o país tenha uma postura sanitária única, uma política de Biosegurança que tranqüilize a quem produz e sirva de ferramenta de abertura de novos mercados para quem compra nosso produto lá fora.

E, meus amigos, as doenças não respeitam fronteiras estaduais.

Além disso, tanto a sanidade, quanto a imagem que precisamos fortalecer quanto ao modelo brasileiro de produção de suínos, exigem que as ações, o conhecimento, a tecnologia sejam democraticamente distribuídos pelo país.

Do ponto de vista mercadológico, o Nordeste aparece como uma das regiões de menor consumo per capita, o que por si só já justificaria a necessidade de incentivar a organização da produção local.

E o Nordeste, Senhoras e Senhores, amigos suinocultores, representa um mercado de 44 milhões de brasileiros que precisam conhecer as propriedades nutricionais e gastronômicas da carne suína.

A ABCS tem que estar onde estiverem os produtores de carne suína, para apoiá-los na estrutura de produção, na tecnologia, no conhecimento, na formação de preço, na representação política.

Mas, a ABCS tem que estar também onde estão os consumidores de proteína animal. Se abrirmos mão de participar da disputa do mercado este será certamente ocupado por outra carne, criando resistências ao produto que atravessam gerações.

 Some-se aos 44 milhões de nordestinos os 15 milhões de cariocas que precisam da nossa atenção. A ABCS carece ter uma referência, um papel articulador no Rio de Janeiro.

É nesse contexto que saudamos a incorporação da Bahia e que vamos trabalhar para agregar,  no prazo mais curto possível, as representações de Sergipe, Pernambuco e Rio de Janeiro.

Se a ABCS quiser liderar um processo de recuperação do posicionamento do nosso produto, aproveitando integralmente o potencial do mercado brasileiro, terá necessariamente que se transformar numa entidade de alcance efetivamente nacional, para além das fronteiras tradicionais do segmento produtivo da nossa cadeia.

Temos que ter coragem ainda para fazer frente à questão sanitária, de no mínimo  fomentar articulações, participar do esforço de minimizar riscos sanitários da produção de carnes no Brasil como um todo. Trata-se do único caminho seguro para ampliarmos o potencial de mercado do nosso produto a nível internacional.

Dos 20 maiores países importadores, apenas 2 não apresentam restrições para comprar de países com registro de febre aftosa – no caso, de origem bovina. São estas limitações comerciais que acabam restringindo o destino final do nosso produto no mercado internacional e gerando forte concentração em um ou dois compradores.  É isto que coloca a produção brasileira em permanente sobressalto.

Trata-se de assunto complexo e também desafiador, mas entendemos que a ABCS tem um papel importante nesse processo e que pode colaborar no sentido de mostrar à sociedade importância do controle sanitário e assim reforçar a condição política para que o Ministério da Agricultura tenha estrutura e recursos adequados ao tamanho desta missão.   

Outro desafio estruturante nos convoca: o fortalecimento institucional da entidade.  A criação de uma representação, em Brasília, foi um passo importante, mas a estrutura geral da ABCS precisa acompanhar a evolução do grau de complexidade das relações entre o setor e o governo, entre os elos da cadeia produtiva, entre o produto final e o consumidor, neste último caso no que diz respeito à imagem.

Podemos e devemos continuar movidos pelo coração, pela emoção de representar este trabalho tão eloqüente realizado pela suinocultura nacional. Mas, a eficácia do nosso esforço será conseqüência direta do grau de profissionalismo com que vamos encarar cada uma dessas gigantescas tarefas.

A ABCS já provou que este trabalho é importante. Entidades de outros países conseguiram reinventar-se através de mecanismos de financiamento que estiveram por trás de verdadeiras revoluções mercadológicas. É hora de, novamente com muita coragem, discutirmos com cada segmento da cadeia, inclusive entre nós mesmos, produtores, as fórmulas possíveis de financiamento dessa construção estratégica.

Se os produtores crescerem através do aumento da demanda na ponta, crescerão igualmente as empresas de genética, de nutrição, de medicamentos, as indústrias que processam carne suína, os pontos de venda que a comercializam.

Estamos falando de um projeto único, Senhores e Senhoras.

 E estamos com o coração aberto para discutir e construir uma visão de futuro comum. Mas, tenham certeza de uma coisa: os produtores estão determinados a promover uma reestruturação mercadológica da produção, do processamento e da comercialização que alinhe o consumo do nosso produto minimamente com as médias registradas mundialmente.

Disto não abrimos mão.

Quero destacar ainda que vamos continuar e fortalecer as parcerias institucionais que tanto nos ajudaram a trazer a ABCS ao ponto de maturidade que hoje se encontra. O Ministério da Agricultura, o Ministério da Ciência e Tecnologia, a FINEP, o Ministério do Desenvolvimento Agrário tem dado contribuição expressiva. No âmbito do Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio, obtivemos apoio para a estruturação da Campanha Um Novo Olhar. Contamos com parceiros na área acadêmica da maior relevância, como a Unicamp, o ITAL, a USP e muito especialmente como a EMBRAPA SUÍNOS E AVES. É importante destacar também a contribuição das instituições de caráter estadual, como a EMATER.
 
A EMATER PARANÁ foi peça importante para a realização deste seminário, por exemplo, assim como a Secretaria de Agricultura do estado. 

Mas, não podemos deixar de ressaltar o caráter especial da parceria com  o SEBRAE. O projeto que desenvolvemos, em fase final de aprovação com o SEBRAE NACIONAL oferece ao setor uma oportunidade estratégica talvez sem parâmetros comparativos em nossa história.

Entendemos que a ABCS deve amplificar as portas já abertas, junto a organismos governamentais, ou institucionais.

Não podemos esquecer os parceiros da iniciativa privada do setor. Recebemos precioso apoio da Associação Brasileira de Supermercados para estruturação da campanha Um Novo Olhar.

Pretendemos aprofundar ainda mais as relações da ABCS com ABIPECS, o Sindicato das Indústrias de Medicamentos (SINDAM), o SINDIRAÇÕES, a ABRAVES, o SIPS, do Rio Grande do Sul e a ABEG, entidade que está sendo criada nos próximos dias reunindo as empresas de genética suína.

Sou suinocultor, mas, tenho também muito orgulho da minha trajetória na política.

Na boa política, quero frisar bem, naquela política usada para transformar positivamente a sociedade, para construir um futuro comum que respeite o direito e quem trabalha corretamente e paga seus impostos, característica do nosso segmento.

É nesse quadro que defendemos a necessidade de uma ABCS mais próxima da representação parlamentar, do encaminhamento legislativo e político das nossas demandas, tanto no plano federal, como nos estaduais e municipais.

Todos esses desafios reunidos colocados como expressão voluntarista do desejo de uma pessoa, de um individuo, não passariam de um discurso solto e inconsequente. Em bom português, não passariam de conversa jogada fora.

Mas, se essas idéias, colhidas no seio dos debates com meus colegas e lideranças produtoras, conseguirem expressar a vontade coletiva, a força e a capacidade dos suinocultores brasileiros, aí, meus amigos, estaremos juntos tomando nosso próprio futuro em nossas mãos.

Podemos encontrar até muitos obstáculos no nosso caminho, mas teremos também a certeza de estar seguindo o caminho correto, na direção de um sonho comum.

Só depende de nós.

Muito obrigado