O frango, para muitos consumidores opção para substituir a carne vermelha, pode ficar ainda mais caro. O alimento vem acumulando altas e deve seguir em escalada à medida que a indústria repasse o aumento nos custos com a produção. Em resposta a esses gastos que subiram durante a pandemia, o setor agora vem encolhendo o abate de animais, reduzindo a oferta e encarecendo o produto final.
Somente em junho, a produção encolheu 15% no Rio Grande do Sul. Desde março, a redução dos abates é ainda mais forte, recuando 21,1%. Segundo a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), as medidas adotadas pelo setor são para evitar danos maiores tanto para os produtores quanto para o consumidor.
Entre os fatores que levam à redução dos abates, a entidade gaúcha cita a especulação no valor do milho e a redução de estabelecimentos consumidores, como restaurantes, em razão da pandemia de coronavírus, que afetou também a logística do grão e do farelo de soja, que compõem a ração dos animais.
“Com hiper valorização do preço do milho, dificuldade de consumo e demora para restabelecer este cenário, e ainda duas estiagens seguidas no Rio Grande do Sul, não houve outra alternativa que não reduzir a produção. Vai ter reposição no preço final, mas é preciso que o consumidor entenda que a indústria sempre repassou margens de custo que nunca tiraram do frango a particularidade de proteína alternativa de consumo”, argumenta o presidente da Asgav, José Eduardo dos Santos.
Santos diz que o efeito nunca foi visto antes. O grão de milho, que compõe 70% da ração animal, acusou aumento de 100% nos últimos 12 meses. O farelo de soja responde por outros 20% da ração.
Segundo a Embrapa Suínos e Aves, o Índice de Custo de Produção (ICP) para frangos apresenta aumento de 52,3% nos últimos 12 meses. Na avaliação da Asgav, porém, esses números não devem serem repassados totalmente ao consumidor final.
“É inviável repassar 50% de uma vez só. Temos noção de que é um setor alternativo de consumo e que temos produção em larga escala. Todos nós dividimos essa conta”, diz Santos.
O executivo garante, ainda, que a redução de abates não acarretará em falta de produto. O Boletim Econômico de junho do Iepe/UFRGS mostra que as carnes bovina e de frango lideram entre os itens com maior impacto sobre a inflação no primeiro semestre de 2021. No ano, o preço da carne de frango em Porto Alegre variou 18,86%. Apenas em junho, o item subiu 4,06%.
Já segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as carnes subiram pelo quinto mês consecutivo em junho, acumulando alta de 36,69% em 12 meses na região metropolitana de Porto Alegre e 38,17% no país. Só o frango em pedaços acumula alta de 18,41% nesse período na região da capital gaúcha e 18,46% no Brasil. Em 2021, a alta do item é de 9,24% na Grande Porto Alegre e de 7,48% no país.
“Pior do que ser caro, é não ter”, alerta o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin.
Segundo a entidade, apesar dos sucessivos aumentos, “ainda falta muito” para ter um preço de equilíbrio diante do alto custo da produção. Santin reforça que o preço do milho estabilizou em níveis altos e muito superiores do que há oito meses. Por isso, é inevitável que se tenha aumento nas gôndolas, embora não seja possível prever por mais quanto tempo permaneçam as altas. A ABPA ainda está revisando os dados de produção previstos para o país.
Na prateleira do supermercado, o preço da proteína vem sofrendo altas semanais. E, na avaliação do presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, não há espaço para novos aumentos.
“O consumidor está no limite. E o setor está vendo que o consumo está caindo e indo para outros itens. As pessoas começaram a comer mais ovos porque estão comendo menos carne. E, dos ovos, tem gente que já foi para a batata”, exemplifica Longo.
O dirigente diz que havia uma expectativa pela estabilização dos preços após a baixa do dólar, só que a previsão ainda não se confirmou. As vendas de frango brasileiro ao Exterior em junho subiram 16,2% sobre o mesmo mês de 2020, somando 397,4 mil toneladas, segundo a ABPA. O Rio Grande do Sul foi responsável pelo terceiro maior embarque entre os Estados, com 64,2 mil toneladas (+24,99%).
Para Longo, mesmo que a indústria permaneça lidando com aumento nos custos, reajustes expressivos não devem ocorrer de uma só vez, levando tempo para chegar ao consumidor. Como os supermercados também fazem cotação de preço, novas altas no produto devem seguir ocorrendo, mas gradativamente.