Guia Lopes da Laguna (MS) é o representante do Centro-Oeste no Centro de Ciência para o Desenvolvimento em Agricultura Digital (Semear Digital), liderado pela Embrapa Agricultura Digital e com financiamento da Fapesp. O município é uma das dez regiões produtivas onde estão sendo realizadas as atividades de pesquisa do projeto, chamadas de Distritos Agrotecnológicos (DATs).
Assim como nos demais DATs, a introdução de tecnologias vinculadas à transformação digital da agricultura é ponto chave na mobilização e fixação de jovens na atividade rural. A transformação digital poderá trazer vantagens econômicas, em sintonia com as práticas adotadas no sistema agrário do município, apontou um diagnóstico que identificou problemas e possíveis soluções.
“Foram identificadas tendências de transformação da paisagem regional, usualmente de pastagens florestadas com árvores nativas de grande porte, de potencial multifuncional, para monocultura de grãos”, apontou o pesquisador Ivan Bergier, da Embrapa Agricultura Digital. A equipe do pesquisador Édson Bolfe, também da Embrapa Agricultura Digital, tem analisado imagens de satélite da região e mostrado que o sistema de cultivo de soja e milho ocupa a quase totalidade da área agrícola investigada. Apesar disso, o município ainda é um polo de pecuária de corte extensiva e possui um frigorífico de abrangência regional.
Durante a primeira visita técnica ao DAT, realizada entre 11 e 14 de junho, a equipe identificou a predominância de pastagens de baixa produtividade devido à falta de adoção de tecnologias e boas práticas de manejo. Para superar essa questão, a estratégia de recuperação de pastagens inclui a adoção de sistemas de integração, como a lavoura-pecuária-floresta (ILPF).
A Associação Rede ILPF vai instalar Unidades de Disseminação de Tecnologia em áreas de produtores de Guia Lopes da Laguna, conforme acordo assinado com a Embrapa Agricultura Digital. A capacitação de agentes de assistência técnica utilizará a plataforma digital de aprendizagem da Rede, explica Luciana Romani, coordenadora de parcerias do Semear Digital.
Duas propriedades rurais de pequeno porte foram selecionadas para assistência técnica e monitoramento da mudança do uso da terra por meio de sensoriamento remoto, realizado pelo projeto SustentAgro da Associação Rede ILPF, financiado pelo Land Innovation Fund. A ideia é que essas propriedades sirvam de exemplo e estimulem a adoção de sistemas de integração por pequenos e médios produtores na região, aponta Ivan Bergier. Por meio da parceria com a Associação Rede ILPF, a Embrapa realizará o monitoramento da dinâmica do uso e cobertura da terra por sensoriamento remoto, objetivando detectar e mapear mudanças de sistemas extensivos para sistemas de integração na área de influência do DAT. Luciana Romani destaca que a parceria com a Associação Rede ILPF poderá se estender a outros DATs.
“Há conhecimento e habilidades técnicas para que os sistemas de cultivo e criação interajam de forma a se fortalecerem mutuamente em Guia Lopes da Laguna, ainda que conduzidos em diferentes estabelecimentos”, avalia o pesquisador do IEA, Celso Vegro. O rebanho local oferece produção de animais para compradores específicos na própria região ou fora dela para recria, engorda e frigoríficos.
Foram ainda identificados apicultores, muitos deles dependentes de vegetação nativa em sistemas agroflorestais ou SAFs. Os cultivos são destinados à produção de grãos para comercialização junto a cerealistas. Durante a visita, a equipe encontrou plantio de mandioca em pequena área, destinada tanto para a manutenção familiar quanto para a venda. “A existência desse cultivo indica que há oportunidades fora da lavoura de grãos para a diversificação produtiva”, aponta Vegro.
Em MS, três centros de pesquisa vão atuar em suporte ao DAT: Embrapa Gado de Corte, Embrapa Pantanal e Embrapa Agropecuária Oeste. Os municípios que recebem os DATs foram selecionados com metodologia que utilizou 33 indicadores socioeconômicos. O critério técnico permitiu caracterizar os municípios nas diferentes regiões do país, sintonizando a escolha com os objetivos do projeto.
São parceiros do Centro Semear Digital a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), o Instituto Agronômico (IAC/SP), o Instituto de Economia Agrícola (IEA/SP), a Universidade Federal de Lavras (Ufla), o Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), além do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD).