Redação (13/01/2009)- Atualmente, o Brasil se encontra como o segundo maior produtor de avestruzes do planeta, ficando atrás apenas da África do Sul (país de onde
o avestruz é originário). A criação desta ratita (ave corredora que não voa), iniciou-se no Brasil em meados de 1995 e nestes 13 anos de desbravamento desta novicista pecuária, podemos ressaltar que a mesma já começa a se consolidar do ponto de vista de agronegócio, uma vez que o setor está em pleno e franco desenvolvimento industrial. É bem verdade que as vendas de matrizes e reprodutores caíram vertiginosamente e os preços das mesmas são bem mais inferiores que os praticados no início da atividade, porém, pela lei de oferta e procura, isto era perfeitamente
previsível.
Nossa afirmação tem visão sistêmica e pragmática, uma vez que em meados
de 2008, o avestruz foi inserido no Regulamento de Inspeção Industrial e
Sanitária dos Produtos de Origem Animal (Riispoa) do Ministério da
Agricultura, o que fortaleceu sua cadeia produtiva e deverá,
consequentemente, aumentar a qualidade e biossegurança alimentar da carne de
avestruz. Os números do setor no tocante ao parque fabril são taxativos. Em
pouco mais de quatro anos, temos mais de 20 abatedouros processando
avestruzes em todo o País e os abates anuais, que não ultrapassavam a soma
de 2.000 aves, atingiram em 2007 o patamar de 30 mil aves, o que deve ser
repetido para 2008.
Estimativas da Associação dos Criadores de Avestruzes do Brasil (Acab),
embasadas em fontes confiáveis do mercado (associações, cooperativas e
empresas do setor), revelam que devemos ter algo entre 1800 criadores no
País, e que pela primeira vez, nosso plantel apresentará uma queda de seu
rebanho em pelo menos 30 %, passando de 450 mil para aproximadamente 315 mil exemplares. O motivo está aliado ao aumento significativo de abates dos
últimos anos, conforme já comentado, e ao fato da saída sistemática de
muitos produtores e investidores, notadamente estes últimos, uma vez que a
excessiva especulação na venda de matrizes possui, atualmente, espaço mais
reservado na atividade.
O mercado
A consequência desta conjuntura de fatores nos permite vislumbrar uma
futura falta de produtos do avestruz no mercado brasileiro para 2009.
Nota-se de imediato que já há grande escassez de peles salgadas, o que
frustra os compradores internacionais que há um certo tempo, vinham
frequentemente visitando o Brasil e, invariavelmente, levando toda a
produção dos criadores.
A indústria do Carnaval, conforme já noticiado em mídia jornalística, no
início de 2008, sofreu escassez de plumas de avestruz, principalmente devido
ao fato do grande produtor mundial, a África do Sul, ter sua produção
embargada pelo governo brasileiro, medida esta de rigor sanitário, para
evitar que zoonoses avícolas que normalmente atingem aquele país, sejam
trazidas para o Brasil, buscando assim, resguardar a maior avicultura
industrial do planeta.
No caso da carne de avestruz, a sua produção industrial está atualmente
entre 700 e 900 ton/ano. Não obstante, nota-se que o crescimento da
produção não teve simetria na outra ponta da cadeia, ou seja, no aumento
proporcional do consumo da carne de avestruz pela população brasileira.
Infelizmente, este descompasso está ocorrendo, pois, a carne do avestruz
continua sendo uma franca desconhecida da grandíssima maioria do público
colocação no mercado, o setor não se esmerou em organizar e produzir uma
campanha nacional de popularização da carne de avestruz. Desta forma, mais
do que nunca é hora de redimensionarmos nossas próximas ações, mas com uma
certeza inexorável em nossas cabeças, ou investimos de forma mais
profissional e articulada na divulgação e promoção da carne de avestruz, ou
a falta de sua liquidez poderá travar perigosamente toda a cadeia produtiva
do avestruz.
Neste aspecto, a exportação surge providencialmente como uma válvula de
escape para o estrutiocultor brasileiro, pois, no mercado europeu, nicho
mundial que consome entre 80% a 90% da carne produzida anualmente, com uma
demanda de aproximadamente
produto, sendo que especialistas do mercado europeu afirmam que caso outros
"players" entrassem na Europa, tranquilamente o seu consumo chegaria ao
patamar das 30 mil toneladas/ano.
A Acab, em comunhão com a União Brasileira de Avicultura (UBA), já traçou os
caminhos para conquistar a entrada da carne de avestruz brasileira no
mercado europeu, que passa pela mesma estar sendo controlada pelo Plano
Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC), uma exigência
sanitária do bloco europeu.
Avestruz brasileiro para o mundo
As ações institucionais que a Acab e a UBA vêm realizando junto ao
Ministério da Agricultura e laboratórios de análise de resíduos, mostram que,
muito possivelmente, nossa carne de avestruz deverá estar atravessando o
Atlântico, rumo ao velho continente, entre o final de 2009 e início de 2010,
respeitando os prazos das análises e de toda a inércia burocrática
documental entre o governo brasileiro e a União Européia, mas é
importante dizer neste momento para todo o setor, que as ações e trâmites
causais já foram vencidos e que a exportação da carne de avestruz será em
breve uma mera consequência dos mesmos.
Este cenário anuncia pela frente um grande revés na atividade deste
agronegócio, que a curto prazo verá a necessidade de reativar a sua
produção, provisionando investimentos renovados nos criatórios, que devem
buscar novas tecnologias e manejos que possibilitem uma maior
competitividade, ou seja, menores custos com maior produção; dando foco para
a questão do bem-estar animal.
Da porteira para fora deveremos prover um aumento de recursos financeiros
em ações de marketing, visando a manutenção do mercado conquistado, assim
como, suprir ano a ano, uma previsível taxa de crescimento na procura pelos
derivados do avestruz, uma vez que a inércia de consumo de um produto novo,
só se altera envidando esforços na divulgação e promoção do mesmo (dada a
sua falta de cultura), o que não temos a menor dúvida que ocorrerá, em
virtude da perseverança e perspicácia dos empreendedores do setor, ancorada
na espetacular qualidade dos produtos pecuários do avestruz.
Autor: Luis Robson Muniz – Presidente da Acab (gestão 2007/2008) e diretor Setorial do Avestruz – UBA ( gestão 2008/2010 ).