[quotes_menu]

Agronegócio

PIB do agro deve voltar a crescer este ano após queda em 2024

PIB do agro deve voltar a crescer este ano após queda em 2024

Segundo análise de economistas, alta do PIB pode ser maior que 5%

Se em 2024 o agronegócio atuou como um freio da economia brasileira, com uma queda de 3%, este ano o setor deve voltar a impulsionar o Produto Interno Bruto (PIB) do país. As previsões são de crescimento do PIB agropecuário entre 3% e 5,5% em 2025, um desempenho ainda bem abaixo dos 16% de aumento registrado em 2023, mas uma retomada em relação ao ano passado.

Para a MacroSector Consultores , o PIB agropecuário deve ter crescimento de 3% em 2025. A MB Agro estima aumento de 3,6%. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) e a LCA Consultores projetam um avanço de 4% a 4,5%. O Santander estima 4,8% de aumento e o Bradesco, de 5,5%.

Na pecuária, há expectativa de elevação nos preços no mercado interno e demanda firme para as carnes bovina, de frango e suína, no Brasil e no exterior, com possíveis reflexos positivos no PIB.

Economistas ponderaram, no entanto, que crescimento do PIB agropecuário não significa necessariamente maior rentabilidade para os produtores. E em um cenário de juros mais altos e oferta de crédito ainda escassa é essencial ter cuidado na gestão do capital.

“A grande lição de 2024 é que o agronegócio é eficiente, mas o excesso de alavancagem financeira dá vulnerabilidade, por melhor que seja o setor. Quem se alavancou demais enfrentou dificuldades”, afirma José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Agro. O economista observa que a agricultura brasileira é majoritariamente de sequeiro, o que significa riscos mais elevados por causa do clima.

Mendonça de Barros considera que, a médio prazo, o setor deve apresentar um salto na produtividade com o amadurecimento de tecnologias, com avanços na agricultura de precisão, agricultura regenerativa, biotecnologia, gestão de dados, nos biocombustíveis. “Esse salto exige recursos e capacidade de gestão. O balanço das empresas tem de estar saudável para que elas se beneficiem desse salto”, acrescenta Barros.

Clima

Os extremos climáticos que afetam a produtividade das lavouras e tornam menos previsível o retorno financeiro é outro fator a ser considerado, segundo Rodrigo Gallegos, sócio da consultoria RGF e especialista em reestruturação de negócios. Com esse cenário e o aumento da inadimplência, os bancos limitam o acesso ao crédito rural, dificultando ainda mais a operação do produtor e elevando o risco de insolvência das empresas.

Silvia Matos, pesquisadora e coordenadora do Boletim Macro do FGV Ibre, acrescenta que o custo de crédito elevado encarece os investimentos em insumos e equipamentos. “Apesar de mais produção de grãos, vai ser uma vida mais dura para o produtor. O custo do endividamento vai ser maior. O lucro vai ser mais difícil de ser atingido nesse contexto”, afirma.

No mercado interno, há ainda preocupação com a persistente inflação de alimentos. “A proteína tem um peso muito alto na inflação doméstica, então vai ser um ano de inflação de alimentos alta. Tem também o efeito do câmbio que afeta os preços domésticos”, observa a pesquisadora . No segundo semestre, o risco é uma rápida desaceleração da economia com o aperto monetário.

“Vai ser um ano de retenção de abate de bois, o que se reflete em preços. E as cotações já se valorizaram em 2024 por causa de uma demanda grande da China e dos Estados Unidos. Esse cenário também deve influenciar nos preços das outras proteínas”, diz Francisco Pessoa Faria, economista sênior da LCA Consultoria Econômica.

Fabio Silveira, sócio-diretor da Macro Sector Consultores, projeta um crescimento de 3% no PIB agropecuário em 2025, com aumento de 10% na receita agrícola, que deve somar R$ 976 bilhões. Segundo ele, o desempenho deve ser favorecido pelo aumento da produção de grãos e melhora na rentabilidade com a redução em custos de insumos. Pelos cálculos do economista, café e cana devem ter maior receita, reflexo, respectivamente, da alta nos preços internacionais e do maior volume na produção.

Do lado da oferta, a perspectiva é de uma safra maior, resultado do aumento de área e ganhos de produtividade com o clima mais favorável. “O complexo soja vai ter um desempenho positivo em volume de produção, mas há preocupação em relação ao preço, com uma safra global cheia”, afirma Faria.

Outro receio é com a colheita concentrada, que pode encarecer os fretes e ficar sujeita a perdas se houver chuva excessiva no período. Na visão do analista da LCA, “a preocupação depois disso é com a condição financeira do produtor. O PIB agropecuário aumenta, mas não necessariamente a renda do produtor cresce. Isso pode prejudicar a capacidade de expansão em 2026”.

Demanda

No mercado externo, a expectativa é de demanda aquecida. “O Brasil vem numa tendência de ampliação de mercados e isso vai continuar”, diz Mendonça de Barros, citando um acordo de compra de café brasileiro entre 2025 e 2029 pela rede de cafeterias Luckin Coffee, a maior da China. Segundo o Ministério da Agricultura, o Brasil conseguiu 224 aberturas de mercado só ano passado.

Além da procura, o real desvalorizado em relação ao dólar também deve favorecer os embarques brasileiros. “Mesmo em setores que tiveram queda de preços, com esse câmbio, os preços estão bem decentes”, observa Barros.

Mas também há riscos vindos do exterior. Entre eles os efeitos da eventual imposição de mais tarifas de importação pelo novo governo Donald Trump. Isso pode elevar a inflação nos EUA, gerando pressão para o Federal Reserve aumentar os juros. “O risco maior vem dessa combinação de juros mais altos e dólar valorizado”, diz Barros. Por outro lado, a imposição de tarifas sobre a China, que importa soja americana, poderia favorecer as compras do grão brasileiro.

Com cautela, os economistas também esperam que haja um cessar-fogo nas guerras que assolam o Oriente Médio e a Ucrânia. Isso levaria a uma queda nos preços do petróleo, com efeito em fertilizantes, fretes, seguros e outros insumos agropecuários.

Por: Globo Rural