Criações alternativas de frangos de corte, conhecidas também como “caipira”, “colonial” ou capoeira”, têm-se restringido às pequenas propriedades rurais (MARKS et al., 2014), oferecendo uma diversificação de produtos no mercado para consumidores que buscam esses alimentos em suas dietas (DAROLT, 2001). Nos sistemas alternativos de criação, seja de frangos de corte ou poedeiras comerciais, o objetivo é estabelecer uma produção eficiente e de qualidade a baixo custo com a alimentação das aves.
Com base em estudos sobre a nutrição das aves, sabe-se que a influência do fornecimento adequado de nutrientes energéticos e proteicos, conforme a idade das aves, é imprescindível para se obter uma produção rentável de carne e ovos (TAVERNARI et al., 2013), pois a alimentação corresponde, aproximadamente, a 70% do custo de produção avícola nas granjas (CIAS – EMBRAPA, 2023). Dentre os principais componentes da alimentação das aves estão o milho, a soja e derivados, commodities com alta demanda no mercado internacional.
A produção brasileira de grãos na safra 2021/2022 foi de 270,9 milhões de toneladas, dos quais o milho representou 41,8% e a soja, 46,5% (Conab, 2022), porém a desconexão inter-regional com longas distâncias entre a oferta de milho no Centro-Oeste e a produção avícola tem elevado o custo de produção da proteína animal nas Regiões Sul, Sudeste e Nordeste, afetando a lucratividade também das produções alternativas.
Nesse sentido, ingredientes alternativos com alto teor de amido, como a batata-doce, podem ser utilizados. Segundo Zabaleta (2010), avaliações realizadas em lavouras comerciais de batata-doce no Rio Grande do Sul contabilizaram volumes descartados na própria lavoura superiores a 7,7 t/ha por falta de padrão comercial. Segundo o pesquisador da Embrapa Clima Temperado, em termos de energia metabolizável, essa produção ofereceria um aporte energético para aves similar ao fornecido por 2,4 toneladas de milho (seco e limpo).
Ferreira e Resende (2020), da Embrapa Semiárido, avaliaram a produtividade de seis cultivares de batata-doce durante o inverno e nove no verão. Estabeleceram que a relação entre a produção comercializável e a produção total variou entre 31-67% no inverno e 49-74% no verão, gerando grande volume de descarte. Cultivares avançadas de batata-doce lançadas pela Embrapa podem atingir produtividades totais (raízes comercializáveis e descartadas) que são superiores a 70 t/ha. Considerando-se as cultivares Beauregard, BRS Cuia, Princesa e BRS Amélia, os volumes de descarte podem atingir, respectivamente, 42, 40,6, 37,6 e 26,1 t/ha, podendo ser superiores a 60% da produtividade total (FERREIRA e RESENDE, 2020). Os sistemas de produção de batata-doce geram um volume considerável de descarte devido à falta de padronização comercial, quanto a tamanho, peso e apresentação, no entanto, esse resíduo apresenta características nutricionais importantes para a alimentação animal.
O objetivo desta matéria é contribuir com informações e análises sobre as características nutricionais, fatores antinutricionais, formas de processamento e potencial de inclusão do farelo de batata-doce na dieta de aves em sistemas alternativos de criação.
Características de diversas cultivares de batata-doce no Brasil
A batata-doce (Ipomoea batatas (L.) Lam.) é uma hortaliça de raízes tuberosas, originária da América Central e da América do Sul. Existe grande diversidade de cultivares de batata-doce, que apresentam diferença entre coloração da casca e da polpa, e formato. Seu ciclo vegetativo é de 70 a 120 dias. De fácil cultivo, a batata-doce é considerada uma planta rústica, resistente ao ataque de pragas e com adaptação a solos pobres. Segundo dados do IBGE (2022), em 2021 o Brasil produziu 803 mil toneladas de batata-doce. Sua produção ocorre em todo o território brasileiro, em razão da amplitude de ambientes em que pode ser cultivada.
A batata-doce in natura pode ser utilizada para a fabricação de farinha e de amido, de alimentação de animais, ou ser destinada à industrialização de doces e produção de álcool. Os nutrientes que a batata-doce apresenta em maior quantidade são os carboidratos, que podem variar de 80 a 90% do total de matéria seca, que, por sua vez, pode oscilar entre 13 e 48%. Além de possuir baixo índice glicêmico, esse tubérculo apresenta vários outros componentes, como fibras, vitamina A, vitamina C e antocianinas (MELLO, 2015).
Atualmente não há normativa oficial quanto à classificação e rotulagem da batata-doce (CEASA, 2022), no entanto, nos maiores mercados consumidores brasileiros existem normativas não oficiais que classificam a batata-doce conforme o tamanho: extra A (301 a 400 g); extra B (201 a 300 g); especial (151 a 200 g) e diversos (80 a 150 g ou acima de 400 g). Além do tamanho, há necessidade de a batata ser lisa, uniforme, alongada e bem conformada, cujo diâmetro varia de 5 a 8 centímetros e comprimento de 12 a 16 centímetros para o tamanho extra A (SILVA et al., 2002). A classificação mais recente do CEASA (2022) leva em conta o tamanho e o peso de acordo com três categorias: extra (20-25 cm, 400-580g), média (12-16 cm, 100-200g) e batatão (tamanho variado, 900-2000 g).
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