Em busca de acompanhar o desenvolvimento das práticas mundiais em relação ao bem-estar animal, grandes redes varejistas estão anunciando a eliminação do consumo que advém da produção convencional com uso de gaiolas. A discussão ainda requer cautela, visto o custo que isso poderia gerar a produção, como no caso da necessidade de investimento e adequações de plantéis, e consequentemente o preço final do produto ao consumidor, porém, Organizações Não Governamentais, redes varejistas e empresas do setor já dialogam sobre o assunto.
Levando em consideração casos em que a empresa se sentiu lesada com a abordagem vinda por parte dessas associações de defesa animal, a reportagem dos Portais Avicultura Industrial e Suinocultura Industrial conversou com a gerente de Programas e Políticas Corporativas da Humane Society Internacional (HSI) no Brasil, Fernanda Vieira, sobre a abordagem dessas associações na busca por mais adeptos desse modelo de manejo.
Afirmando-se contra excessos, Fernanda acredita que o melhor caminho é o diálogo, o que, segundo a representante, tem sido feito por meio de mesas redondas e painéis de discussão que reúnem grandes empresas de alimentos e produtores de ovos e suínos em cada região. “Dessa forma procuramos criar uma plataforma colaborativa e encorajadora para que as empresas compartilhem ideias e alavanquem sua influência coletiva para melhorar o bem-estar dos animais de produção em toda a região”, revela.
Em 2017, a HSI organizou painéis em países como Cingapura, África do Sul e México, e atualmente estão planejando um evento semelhante no Brasil norteando-se pela demanda crescente que segundo Fernanda a empresa tem verificado. “Temos observado que as empresas querem melhorar o bem-estar animal e as práticas de produção em suas cadeias de suprimentos, mas às vezes não sabem por onde começar”, disse Fernanda.
Simpósio Brasileiro de Bem-Estar
Esses projetos de organizações como a HSI são movidas perante aspectos de mudança da politica de grandes redes varejistas. Segundo Fernanda, o uso de gaiolas em bateria convencionais para galinhas poedeiras esta em processo de eliminação em estados membros da União Europeia, seis estados nos EUA (dentre eles Califórnia, Maine, Michigan, Ohio, Oregon e Washington), Canadá, Nova Zelândia e Butão. De acordo com dados da HSI, no Brasil ainda não existe uma lei que direcione produtores ou agroindústrias, sendo assim ações de organizações como a HSI buscam por parcerias com o Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a Embrapa e a Universidade de São Paulo (USP).
A parceria brasileira gerou neste ano o Simpósio Brasileiro de Bem-Estar na Produção de Ovos. Segundo Fernanda, um dos resultados do evento foi uma carta aberta com os assuntos discutidos durante o seminário. O documento divulga que a cadeia produtiva de ovos brasileira está vulnerável no que diz respeito ao uso de gaiolas em função dos avanços científicos e tecnológicos. “No Brasil, enquanto não há legislação, as empresas do setor alimentício estão liderando essa mudança, comprometendo-se a utilizar exclusivamente ovos livres de gaiolas em suas cadeias de abastecimento”, acrescentou Fernanda. O estudo sobre o tema e a carta pode ser lida na edição 1269 da revista Avicultura Industrial.
Acordo de responsabilidade
Após a empresa interessada assinar o acordo de responsabilidade sobre a questão de bem-estar em sua produção de ovos livres de gaiolas, organizações como a HSI fiscalizam a transição de estruturas, explica Fernanda. “Seguindo um compromisso corporativo de ovos livres de gaiolas, a HSI continua trabalhando com a empresa durante todo o processo de transição, ajudando a conectar a empresa a diferentes especialistas, incluindo empresas de certificação, e muitas vezes visitando e trabalhando com seus fornecedores de ovos”, afirma.
Segundo a representante, no Brasil e na América Latina, o maior órgão de certificação é a Certified Humane, com seu programa Humane Farm Animal Care. A Certfied Humane certifica produtores de ovos e empresas de alimentos para garantir os níveis elevados de bem-estar animal.
Sanidade e custo
Um dos fatores que aumentam as discussões sobre a adesão ou não da produção livre de gaiolas diz respeito aos fatores sanitários que exigem mais cautela com o plantel. Fernanda afirma que o assunto é considerado pela organização, mas entende que “as melhorias nos níveis de bem-estar animal podem melhorar a segurança alimentar, reduzindo a imunossupressão induzida pelo estresse, à incidência de doenças infecciosas, a propagação de patógenos e o uso e resistência a antibióticos”.
Além da sanidade, a transição também geraria um custo maior ao produtor integrado. Fernanda explica que a empresa entrou em contato com alguns deles no Brasil e que se mostraram entusiasmados com a transição para sistemas livres de gaiolas. “Eles entendem que isso os ajudará a aumentar as oportunidades de mercado e atender à crescente demanda de produtos com níveis de bem-estar animal mais elevados”, conta. “O bem-estar animal tornou-se uma questão prioritária para os consumidores e as empresas do setor alimentício estão priorizando essa questão em seus planos de responsabilidade social corporativa e de sustentabilidade”, finaliza.