A preocupação com a sustentabilidade do planeta ganhou dimensão a partir do debate sobre o aquecimento global e o tema passou a ocupar manchetes, e maior espaço na agenda dos governantes. O cuidado com o meio ambiente no planejamento, na construção e na operação de empreendimentos para geração de eletricidade tornou-se prioritário e o conceito de desenvolvimento ficou mais complexo.
Nesse contexto, o exemplo brasileiro salta aos olhos. O País é um dos que levam adiante um plano, com metas de crescimento superiores às encontradas mundialmente, e que valoriza as fontes renováveis de energia elétrica e a desoneração desse segmento de negócio. Um exemplo concreto foi o incentivo governamental no Estado de São Paulo ao incremento da geração renovável pela redução do ICMS na aquisição de equipamentos destinados à cogeração de eletricidade pelas usinas autoprodutoras. Essa medida, individualmente, reduzirá em 7% a 8% os custos desse processo.
O recente acidente nuclear na usina atômica japonesa de Fukushima, que levou a Alemanha, quarta potência industrial do mundo, a brecar todos os seus projetos nucleares para gerar energia elétrica, fortaleceu ainda mais a busca por utilização de eletricidade proveniente de fontes renováveis, consolidando esse mercado.
A eletricidade vinda da biomassa, dos ventos e das pequenas centrais hidrelétricas com baixo e controlado impacto ambiental, terão, nos próximos anos, uma contribuição multiplicada no cenário energético brasileiro. De acordo com o Plano Decenal de Expansão de Energia – PDE 2011 – 2020, colocado em consulta pública pela EPE, haverá um aumento de 56% na oferta de energia elétrica até 2020. Dos 110.000 MW hoje instalados no sistema, o Brasil alcançará, em 2020, uma capacidade instalada de 171.900 MW. Serão destinados, a essa expansão, recursos que atingem R$ 1 trilhão.
A contribuição das fontes alternativas crescerá bem acima da participação das outras fontes. Enquanto a capacidade instalada total brasileira crescerá 48% nesta década, a energia elétrica gerada pelos parques eólicos irá alcançar mais de 13 mil MW de potência instalada. As pequenas centrais hidrelétricas e a geração por biomassa aumentarão a capacidade instada em 74% e 58% respectivamente, fazendo com que as fontes alternativas renováveis, na média, cresçam 98% no período.
A presença das fontes hidrelétricas na matriz energética brasileira recuará e a das fontes alternativas renováveis saltará de 8% para 16% nesta década. Vale salientar, que a matriz eólica, em especial, será responsável por 7% de toda a energia elétrica gerada no Brasil nos próximos anos, ante 1% atualmente. A participação da biomassa na geração vai atingir 13.000 MW médios, suficientes para abastecer 20 milhões de brasileiros, o que equivale a três usinas do porte de Belo Monte.
A opção por fontes mais sustentáveis, que agridam menos o ambiente e estejam alinhadas com uma economia de baixo carbono, é definitiva. Grandes empresas brasileiras de energia estão deslocando seus investimentos para novas fontes de eletricidade e, nesse cenário, a CPFL Energia saiu na frente ao anunciar a fusão com a Ersa, criando a CPFL Renováveis, cujo portfólio de projetos se transformará em PCHs, parques eólicos e termelétricas movidas a bagaço de cana-de-açúcar.
A atitude reativa, que predominou até aqui, no campo do desenvolvimento sustentável cede lugar à confiança nas soluções alternativas. O Brasil responde ao novo quadro com uma proposta moderna, que alia desenvolvimento à qualidade de vida, ao conforto, à segurança e ao bem-estar de seus quase 200 milhões de habitantes.
*MIGUEL NORMANDO ABDALLA SAAD é formado em Engenharia Civil pela Escola de Engenharia de São Carlos (USP) e é copresidente da CPFL Renováveis