Com 366 usinas de biogás em operação, o Brasil explora apenas 2% do seu potencial, que, segundo dados da Associação Brasileira de Biogás (ABiogás), é de 84,6 bilhões de metros cúbicos/ano, o que seria suficiente para suprir 40% da demanda de energia elétrica no País e 70% do consumo de diesel. Como uma forma de incorporar o desenvolvimento da fonte e a nova capacidade dos substratos, a entidade está trabalhando na revisão dos dados para lançamento do novo potencial de geração brasileiro de biogás e biometano no VI Fórum do Biogás, que será realizado em 31 de outubro e 1º de novembro, em São Paulo.
Segundo o presidente da ABiogás, Alessandro Gardemann, mesmo com a subutilização do potencial, o energético registrou crescimento em 2019, com 82 novos empreendimentos, e a tendência é de expansão para o próximo ano. “Estamos otimistas com as mudanças propostas pelo Governo Federal para o mercado de gás. A abertura dos setores de transporte e distribuição do gás vai trazer novas oportunidades para o biogás, principalmente na sua interiorização. O gás natural é solução onde tem gasoduto, nas áreas restantes, podemos entrar com o biogás. São fontes complementares”, aposta Gardemann.
O Biogás e o Novo Mercado de Gás é o tema principal do Fórum, que também dará destaque à Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), que começa a vigorar em janeiro do próximo ano. “Entre os biocombustíveis, o biometano possui uma alta nota energético-ambiental com um grande potencial de emissão de CBIOs (créditos de descarbonização), o que vai impulsionar o uso do gás em ônibus e veículos pesados. Temos visto no mercado empresas investindo neste segmento e lançando motores preparados para o biometano”, comentou.
De acordo com o gerente-executivo da ABiogás, Alessandro Sanches, o cálculo do potencial de biogás no Brasil deve ter um acréscimo devido ao aumento na produção agroindustrial e da utilização de novos substratos do setor sucroenergético, como a vinhaça e a torta de filtro. “O aproveitamento do resíduo (vinhaça) nas usinas de produção de etanol aumenta a eficiência do processo produtivo e a quantidade de CBIOs emitidos”, explicou.
Em 2018, o potencial brasileiro de produção de biogás teve um crescimento de 50%, com destaque para o setor agropecuário, que aumentou em 80% devido à inclusão de diversas culturas que não estavam previstas incialmente. Dividido por fonte, o setor sucroenergético corresponde a 48% do potencial total brasileiro, a agroindústria a 45%, e o saneamento a 7%.
“Na nossa visão, o setor do biogás está preparado para aproveitar a distribuição regional de matérias-primas encontradas no Brasil. Os potenciais por substrato variam por região, contudo, existe a possibilidade concreta de geração em todas as partes do País”, afirma o presidente da ABiogás.
Biogás e o setor sucroenergético
O maior potencial de produção de biogás está no setor sucroenergético, que, hoje, corresponde a 1,5% do PIB nacional e a projeção é de crescimento. Segundo previsão da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em 2020, serão processadas 721 milhões de toneladas de cana, chegando a 818 milhões em 2026.
Em consequência, a produção de biogás a partir da vinhaça e da torta de filtro irá crescer em torno de 80% nos próximos sete anos. “A utilização da vinhaça e da torta de filtro proporciona um ganho de 31% na geração de energia para cada tonelada de cana processada”, explicou Gardemann. “Além disso, temos a alternativa de uso do biogás como biocombustível. O biometano é menos poluente, mais econômico – mesmo comparado com outros biocombustíveis – e é produzido a partir de resíduos, o que garante destinação adequada, ou seja, o biogás é uma oportunidade de transformar um passivo ambiental em um ativo energético”, conclui o presidente da ABiogás.
Programação
O VI Fórum do Biogás vai reunir, em São Paulo, representantes do governo, empresas e especialistas para debater o papel do energético tendo em vista o Novo Mercado do Gás.
Entre os nomes confirmados, estão o da secretária de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME), Renata Isfer, e do diretor-executivo da GAS Energy, Rivaldo Moreira, que, ao lado do presidente da ABiogás, Alessandro Gardemann, estarão na mesa de abertura do Fórum, cujo tema será “O Biogás e o Novo Mercado do Gás”.
A programação segue com palestras de Daniel Rossi, da Capitale Energia, e Paulo Lucena, da GasBrasiliano, que vão abordar a “Promoção da Concorrência: o biogás como fonte complementar de gás”. Em seguida, o vice-presidente da ABiogás, Gabriel Kropsch, comanda mesa-redonda com o presidente da Cegás, Hugo Figueirêdo, e com a coordenadora de Saneamento e Biogás do Governo do Rio de Janeiro, Flávia Porto, em que vão discutir gasoduto estruturante, veículos a gás, segurança energética, molécula renovável indexada pelo IPCA e mercado livre.
“A integração com o setor elétrico: o biogás como fonte despachável, descentralizada, descarbonizada e competitiva” será o tema do segundo painel, que terá palestra de Rodrigo Regis, da CIBiogás. A pauta segue com debate sobre mercado livre, preço horário e geração distribuída, que vai contar com Jorge Elias, diretor de Engenharia e Implantação da FOXX Haztec, com a advogada Maria João Rolim, especialista em Direito da Energia, e Sandoval de Araújo Feitosa Neto, diretor da Aneel.
Pesquisador sênior no Oxford Institute for Energy Studies, Claudio Steuer fará a palestra “O Desenvolvimento de Biogás no Mercado Energético Britânico”.
Fechando o primeiro dia, o cenário do “Biogás Hoje” será o tema do painel em que irá se debater a comercialização de biometano, regulação e futuro da geração distribuída. Nesta mesa, vão estar Melina Uchida, gerente de novos negócios da Ecometano, Aurélio Amaral, diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Newton Duarte, presidente da Cogen, e Mário Campos Filho, presidente da SIAMIG. Alessandro Gardemann será o moderador.
O segundo dia do Fórum estará reservado às projeções sobre o “Futuro do Biogás”. Neste painel, moderado pela coordenadora em Negócios de Geração Distribuída da Raízen, Barbára Rubim, já estão confirmadas as participações de Zilmar Souza, gerente em Bioeletricidade da Unica, Gonçalo A.G.Pereira, diretor do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), José Mauro, diretor de Estudos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e Miguel Ivan Lacerda, diretor do Departamento de Combustíveis Renováveis (DCR) do Ministério de Minas e Energia. O encerramento do Fórum caberá ao diretor-executivo da ABiogás, Alessandro Sanches.
O VI Fórum do Biogás é uma realização da ABiogás, e tem como parceiros institucionais a Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), e Associação da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), organização da Datagro, e apoio das empresas associadas da ABiogás.
RenovaBio Itinerante
A fim de esclarecer as dúvidas sobre o RenovaBio, programa do governo federal que visa estimular a produção de biocombustíveis no Brasil, o VI Fórum do Biogás terá uma programação extra logo após o seu encerramento, previsto para às 12h do dia 1º de novembro. Será o RenovaBio Itinerante, ação promovida pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), com o objetivo de explicar como funciona o programa e apresentar o RenovaCalc, calculadora por meio da qual se afere a nota de cada produtor.
Atenta à importância do RenovaBio, a ABiogás decidiu estender a programação do Fórum para incluir esta sessão, que vai contar com a apresentação do presidente da ABiogás, Alessandro Gardemann, da superintendente-adjunta de Biocombustíveis e Qualidade de Produtos da ANP, Danielle Machado e Silva Conde, e das empresas inspetoras Green Domus e Instituto Totum.