Cicero Bley, superintendente de Energias Renováveis da Itaipu Binacional
Com domínio, embasado nos projetos de geração de energia com biogás em propriedades rurais desenvolvidos a partir de dejetos da suinocultura pela Itaipu Binacional no Paraná (PR), Bley abordou o assunto ressaltando ações que já estão em andamento, inclusive com venda de excedente energético ao mercado na Companhia Paranaense de Energia (Copel) pela Granja Colombari, em São Miguel do Iguaçu, e também o projeto Condomínio de Agroenergia para Agricultura Familiar da Microbacia do Rio Ajuricaba. “O biogás deve ser visto como um produto, não como um subproduto da agropecuária, já que possui potenciais para ser transformado em energia elétrica, térmica e veicular após receber tratamento”, ressaltou Bley em seu discurso. “A economia do biogás é de grande impacto local, pois acontece a partir da descentralização da geração de energia e que deve ser medida em quilowatt/hora, mas também em sanidade ambiental e desenvolvimento microeconômico local”, complementou.
O superintendente apresentou material fotográfico que complementou sua afirmação sobre a sanidade ambiental, uma vez que, o não tratamento dos dejetos ou despejo inadequado pode resultar num processo de eutrofização de reservatórios de água potável. “Devido aos componentes da alimentação animal, como fósforo e outros elementos, com o tempo, os reservatórios de água acabam fazendo uma biodigestão natural, formando crostas compactas de resíduos que se assemelham à fertilizante e bolhas de metano na superfície”, explicou. Esse processo acaba poluindo a água e, por conseqüência, o solo. “O Brasil possui total conhecimento e tecnologia no desenvolvimento de biodigestores. Nossa maior dificuldade foi adequar os purificadores de biogás para pequenas quantidades, por se tratar [no caso do Condomínio de Agroenergia para Agricultura Familiar da Microbacia do Rio Ajuricaba] de um pequeno gasoduto de distribuição local. O biogás e o biofertilizante, produzidos nos biodigestores, são uma solução ao problema da poluição de mananciais”, exemplificou Bley.
Para essa produção, é necessário colocar os resíduos orgânicos em um biodigestor, onde ocorre então um processo de saneamento, em cujo interior e na ausência absoluta de oxigênio, uma colônia mista de microorganismos previamente inoculada degrada esta biomassa residual, atacando seus sólidos voláteis (degradáveis). O processo além de reduzir a carga orgânica poluente dos resíduos, também produz dois outros produtos: o digestato, com características biofertilizantes e o biogás.
Opção rentável – A utilização do biogás agrega valor à granja, uma vez que a torna sustentável e, por vezes, autossuficiente, podendo até repassar a energia produzida. Desde 2009, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) regulamentou a geração distribuída a partir do biogás e sua comercialização em todo o País. A mudança no Programa de Distribuição Brasileiro (Prodist) permitiu a pequenas unidades geradoras de energia elétrica conectarem-se à rede de distribuição para venderem energia ao Sistema Nacional. Em relação a situação anterior, quando era possível conectar pequenos geradores só no Sistema de Transmissão (100 mil quilômetros de rede no Brasil) esta mudança ampliou as possibilidades de conexão, pois o Sistema de Distribuição nacional tem aproximadamente 4,5 milhões de quilômetros de linhas no Brasil, ou seja 45 vezes mais disponibilidade de linhas de conexão, sempre localizadas nos centros de carga (demanda de energia).
“Um produto agrícola invisível, por se tratar de um gás; altamente eficaz e rentável, já que pode ser utilizado para secagem de grãos, combustível veicular e energia elétrica; com grande potencial no Brasil, por ser um país tropical e que possui um Centro de Estudos do Biogás (CEB); e, especificamente no meio rural, o biogás pode beneficiar produtores individuais, com escalas mais baixas, até os grandes frigoríficos, tornando o produto sua matriz energética”, finalizou o palestrante.