APESP, Boeing e Embraer assinaram na última quarta-feira (26), em São Paulo, uma carta de intenção para colaboração em pesquisa e desenvolvimento de biocombustíveis para aviação comercial. A cerimônia de assinatura da carta de intenção teve a participação de representantes das três instituições: a conselheira da FAPESP, Suely Vilela, o diretor-administrativo da Fundação, Joaquim José de Camargo Engler, a presidente da Boeing Brasil, Donna Hrinak, o vice-presidente executivo de engenharia e tecnologia da Embraer, Mauro Kern, e o presidente da Boeing International, Shepard Hill.
O acordo prevê a construção no Estado de São Paulo de um centro de pesquisa focado no desenvolvimento de biocombustível sustentável para aviação, que será baseado no modelo dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs), da FAPESP, voltados para desenvolver pesquisas na fronteira do conhecimento.
Para criar o centro, inicialmente será realizado um estudo, com duração prevista entre 9 a 12 meses, para o levantamento das possibilidades e dos principais desafios sociais, econômicos, científicos e tecnológicos de diferentes rotas tecnológicas para o desenvolvimento de um biocombustível para aviação no Brasil, e para definir os investimentos que deverão ser realizados pelos participantes do projeto.
O estudo será orientado por uma série de workshops públicos a serem realizados ao longo de 2012 para coleta de dados. Esses dados serão fornecidos por diferentes integrantes da cadeia produtiva de biocombustíveis e por um Conselho Consultivo Estratégico. O Conselho será composto por empresas aéreas, produtores e fornecedores de combustível, pesquisadores e representantes do governo, entre outros.
Em uma fase final do estudo, a FAPESP lançará uma chamada especial de propostas para o estabelecimento do Centro.
Segundo Vilela, ao estabelecer uma parceria com a Boeing e a Embraer, “a FAPESP busca incrementar e promover uma participação ativa de empresas de alta tecnologia na pesquisa científica desenvolvida no Estado de São Paulo”.
“O ambiente favorável à participação privada em ciência e tecnologia e o entendimento que estamos estabelecendo com essas empresas, que compreende uma definição temática para as pesquisas e para aplicação de seus resultados, reforçam a tendência crescente da participação da iniciativa privada na pesquisa em São Paulo e necessidade de internacionalizar seus resultados”, disse Vilela.
De acordo com a professora da USP, que representou no evento Celso Lafer, presidente da FAPESP, “esse modelo de cofinanciamento à pesquisa tem dado certo e permitirá fortalecer a infraestrutura onde o projeto será desenvolvido”.
O projeto se valerá de diversas pesquisas já realizadas no Brasil e no exterior para utilização de biocombustíveis, como as desenvolvidas no âmbito do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN).
Lançado em 2008, o programa visa fomentar pesquisas na área de bioenergia, incluindo os biocombustíveis gerados por diferentes espécies, em cinco diferentes abordagens: melhoramento de cultivares para produção de biomassa de cana e de outras plantas; pesquisa sobre processos de produção de bioetanol e de outros compostos de interesse da indústria; aplicações do etanol para motores automotivos (motores de combustão interna e células-combustível); biorrefinarias e alcoolquímica; e pesquisas sobre os impactos sociais, econômicos e ambientais do uso e da produção de biocombustíveis.
“Todos os estudos relacionados à produção de matéria-prima, análise do ciclo de vida e novas tecnologias de produção e transformação de matéria-prima para obtenção de biocombustíveis para utilização em veículos automotores, por exemplo, serão úteis para o projeto”.
“Mas, os requisitos necessários para o uso de biocombustíveis em substituição ao querosene de aviação são muito mais restritivos e exigirão que atendamos uma longa lista de especificações técnicas. Para suprir essa necessidade, diferentes matérias-primas e rotas técnicas serão estudadas”, explicou Luís Augusto Barbosa Cortez, coordenador-adjunto de Programas Especiais da FAPESP e coordenador do estudo para o projeto.
A Associação de Transporte Aéreo Internacional (Iata, na sigla em inglês) estabeleceu que as companhias do setor devem interromper o crescimento da emissão de carbono até 2020 e reduzir em 50% as emissões de CO2 até em 2050, em comparação com os níveis de 2005.
“Contando que ainda não existem tecnologias que possibilitem eliminar os combustíveis líquidos para aviões, os biocombustíveis têm um papel absolutamente preponderante para atingirmos essa meta”, disse Mauro Kern, vice-presidente executivo de engenharia e tecnologia da Embraer.
Para a presidente da Boeing Brasil, Donna Hrinak, o projeto representa o primeiro passo no sentido de estabelecer uma indústria de biocombustível para aviação no Brasil.
“Estamos muito interessados na possibilidade de se comercializar biocombustível para aviação. Esse acordo representa um passo importante para chegarmos a algo concreto nesse sentido”, afirmou.