Da banha do frango assado sai o óleo puro que o prestador de serviço Luiz Carlos Gomes de Oliveira, 51, utiliza há um mês como combustível de sua camionete. A ideia do reaproveitamento surgiu de forma despretensiosa e arriscada, mas em um mês a economia de Luiz já chega a R$ 300.
Oliveira teve a ideia de utilizar o óleo, após deixar a banha do frango no sol e notar que as impurezas se separaram do óleo. Por ficar parecida com a cor do diesel, Luiz decidiu fazer um teste e deu certo.
“A minha sogra queria banha para poder fazer sabão e fui até um amigo pegar o produto, ao chegar em casa, ela disse que estava muito suja e não daria para usar. Deixei a banha uns dias no sol e não sabia o que fazer com aquilo, foi quando eu vi que a sujeira se separou do óleo, ficando da cor do diesel e resolvi utilizar como combustível”, afirma.
Na casa de Luiz, ninguém apoiou a ideia, mas ele preferiu correr o risco, sabendo que se não desse certo, teria que arcar com as consequências e desembolsar um bom dinheiro para arrumar a camionete F-1000, ano 1986.
“Minha mulher ficou brava, mas mesmo assim tentei. No começo eu misturava o óleo da banha com o diesel e há 20 dias estou usando apenas o óleo e percebo que o desempenho da camionete está bem melhor do que quando é movida a diesel. Desde quando comecei a usar o biodiesel, o veículo nunca falhou”, alega.
A banha que seria jogada fora, ele ganha dos comércios que assam frango e reaproveita. O óleo de soja já usado, ele paga R$ 0,50 o litro. Mas diz que aceita doações dos restaurantes. “O óleo de soja é até melhor porque é mais limpo. O único cuidado que eu preciso ter, é não deixar ir sujeira para o motor”, explica.
Por mês, Luiz gastava mais de R$ 300 com combustível. “Eu uso muito a camionete, porque levo minha filha na faculdade, faço entrega de salgados para a minha esposa e uso para o trabalho, e a economia para mim está sendo muito grande”.
E as ideias não param por aí. Oliveira pesquisou na internet e agora quer purificar ainda mais o óleo. “Vi que tem uma máquina que separa a glicerina e o biodiesel, esse equipamento só vende em São Paulo e custa R$ 16 mil. Quero vender o caminhão que tenho para poder comprar a máquina”, afirma ele, ao fazer planos para o futuro.
Para poder vender o biodiesel, ele afirma que será necessário misturar a soda cáustica com etanol deixando o biodiesel mais puro. “Como também separa a glicerina, pretendo vender o produto para fazer sabão entre outras coisas”, afirma.
Em um mês, Oliveira já captou mais de 100 litros de biodiesel e afirma que nos próximos dias, vai viajar utilizando apenas o óleo de cozinha. “As pessoas têm medo de arriscar porque acham que o óleo vai ser mais corrosivo, só que o diesel tem mais produto químico que o óleo de cozinha”, defende.
Mecânica – Para o professor do curso de Engenharia Mecânica do Centro Universitário Anhanguera de Campo Grande, Igor Petri, o que para Luiz é uma descoberta, na realidade é uma prática que existe há anos.
“O que o Luiz faz é algo rudimentar por realizar a separação da banha e do óleo de forma manual, mas o biodiesel é produzido desta maneira”.
Segundo Petri, como o carro é antigo e movido a diesel, pode ser que não apresente nenhum problema. “Ou pode ser que cause algum dano daqui alguns anos nas válvulas ou que nem perceba, mas isso a longo prazo e também depende muito do veículo, se for em carro novo, pode ser mais arriscado”, afirma.
Ainda de acordo com o engenheiro, Luiz está desenvolvendo um combustível e diz que isto é um gesto aconselhável. “Isso é bom para ciência, porque com essa pessoa testando, novas pesquisas podem surgir neste segmento”.