A produção de biogás cresce no Brasil, principalmente através do Programa RenovaBio, plano para desenvolvimento do setor de biocombustíveis. Além deste, outros importantes projetos já são referência, como: o Aterro de Caieiras (SP) e a maior termelétrica da América do Sul abastecida com energia renovável. O biogás para geração de energia elétrica cresceu 30% na matriz, tendo que ampliar a geração no saneamento e na agroindústria. Porém há ainda muito trabalho para oferecer às autoridades dos setores de energia para que o Brasil elabore uma política pública que reconheça o biogás, o biometano e suas externalidades com evidências consistentes.
A regulação do biometano é recente, as primeiras plantas devem entrar em operação com projetos experimentais que passarão a ser comerciais, com indústrias de base, de motores estacionários e automotivos oferecendo soluções no Brasil. Nesta linha já há automóveis movidos a biometano, assim como caminhões, tratores e ônibus. Na geração de energia elétrica, o Sistema Integrado Nacional (SIN) pode se beneficiar com o biogás, gerando próximo às cargas, reduzindo a pressão energética sem necessidade de blocos de energia e atravessando o país em linhas de transmissão.
No saneamento básico, a possibilidade de uma produção através da biodigestão de esgotos e de resíduos orgânicos na geração de biogás é enorme. Contudo, com mais de dois mil aterros no Brasil, só 15 geram energia elétrica por biogás. O biogás de aterro é uma alternativa para gerar energia elétrica nas cidades a partir dos resíduos sólidos urbanos (RSU), fonte com produção local e regular.
O Brasil tem potencial de gerar biometano como combustível localmente onde não há gás natural, com potencial de produção do biocombustível chegando a 78 milhões de m3/dia. Acredito que 50% dos combustíveis utilizados em frotas públicas serão a partir do biometano, com potencial para suprir quase 25% da frota nacional ou substituir 44% do diesel consumido em transportes. Associações, como a ABiogás, estão em agenda diária com tomadores de decisão, apresentando evidências de que essa é uma das melhores fontes de energia do Brasil. Ainda há muito desconhecimento nas vantagens da fonte, mas estão mudando isso ao se promover eventos sobre o tema.
O biogás inserido nos programas Mais Alimentos e RenovaBio, (importante projeto para mitigação de mudanças climáticas), além de ajudar o Brasil a atingir sua meta de descarbonização da economia também ajuda a incentivar a competitividade econômica e ambiental entre combustíveis. Mudando assim os paradigmas de planejadores e reguladores do sistema energético, que já reconhecem a viabilidade econômica e ambiental do biogás.
O Estado de São Paulo trabalha para admitir o biometano na mistura ao gás natural, de forma semelhante ao que acontece no Rio de Janeiro. Com a entrada de importantes projetos em operação, como por exemplo, a térmica de Caieiras que adicionou 29,5 MW de energia ao sistema, temos também o primeiro projeto a ganhar o leilão de energia com fonte biogás, da empresa Raízen. Outros projetos como Minas do Leão, Salvador, Itajaí, GEO Elétrica, CS Bioenergia, também estão acontecendo, já que há um maior conhecimento na tecnologia de produção do biogás e em seus usos finais. Com grande impacto nesse aumento representativo, a organização de empresas e entidades do setor trazem maior atenção sobre as vantagens do biogás.
O biogás que começa a ser produzido na área de geração de energia elétrica teria capacidade para suprir 25% da energia consumida no Brasil num ano. A meta é ter até 2030, 30 milhões de metros cúbicos/dia de biometano, 40% do consumo atual de gás natural no Brasil.
Há um mercado de geração distribuída com potencial gigantesco no Brasil, em que o biogás tem grande vantagem. O sistema elétrico necessita, cada vez mais, de flexibilidade de despacho para complementar a inserção de fontes de geração variável. A diminuição relativa da capacidade de armazenamento de energia em reservatórios deve ser compensada pelo aumento da capacidade de outro tipo de fonte como o biogás, pois este tem flexibilidade operacional com capacidade de armazenagem.
Já existem mais de 10 mil instalações de geração distribuída no Brasil e uma potência instalada com mais de 100 mil megawatt. Segundo a Aneel, estima-se que em 2024 mais de 1,2 milhão de consumidores produzirão sua própria energia, o equivalente a 4,5 giga watts (GW) de potência instalada, onde biogás representará parte significativa dessa energia.