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Etanol

BNDES chancela viabilidade de usinas "flex" com cana e milho

"Uma cultura parece favorecer a outra", disse Carlos Cavalcanti, do BNDES.

BNDES chancela viabilidade de usinas "flex" com cana e milho

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) prepara o terreno para financiar projetos que busquem adaptar usinas sucroalcooleiras para que produzam etanol não apenas a partir da cana-de-açúcar, mas também do milho. A alternativa pode ser a solução para incrementar em até 2,7 bilhões de litros a produção de etanol no Centro-Oeste do país, e dar destinação à crescente colheita do grão na região.

Em evento realizado ontem na capital fluminense, o banco de fomento apresentou estudo que mostra que o montante de investimento necessário para adaptar uma usina de cana para operar também com milho é menor do que o volume de recursos demandado em um novo projeto. A análise mostrou ainda que agregar o grão como matéria-prima na usina de etanol ajuda a reduzir o custo fixo da planta.

O cálculo mostra que esse investimento pode variar de R$ 100 milhões a R$ 205 milhões. A expectativa da instituição financeira é que, em se tornando público, o estudo estimule produtores de etanol da região, principalmente aqueles de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, a investirem na adaptação de suas unidades industriais.

Antes mesmo disso, alguns projetos já foram anunciados – alguns exclusivamente de etanol de milho. Conforme informações oficiais do governo de Goiás, foi assinado um protocolo de investimentos com a SJC Bioenergia, joint venture entre a americana Cargill e o grupo USJ para que a companhia amplie a produção da usina de cana usando como matéria-prima o milho. O governo de Mato Grosso do Sul também anunciou que as americanas Poet e BioUrja Trading vão investir para construir uma fábrica de etanol de milho em Chapadão do Sul.

Para o BNDES, a aposta em usinas flex (que usam cana e milho como matéria-prima) pode gerar ganhos de produtividade, uma vez que a produção de etanol a partir do milho ocorreria apenas no período de entressafra da cana, de novembro a março, quando as usinas sucroenergéticas ficam normalmente ociosas. O período coincide com a segunda safra de milho no Centro-Oeste. Mesmo que o período de safra não fosse concomitante, o milho é estocável.

“Uma cultura parece favorecer a outra, com diversificação de receitas, novos produtos e safra complementar. A cana tem mais capacidade energética, mas o milho aumenta capacidade de estocagem”, disse Carlos Eduardo Cavalcanti, chefe do Departamento de Biocombustíveis do BNDES.

Em função do resultado dos estudos, o BNDES vai avaliar a proposta de as usinas flex receberem condições de financiamento iguais àquelas dadas às usinas de cana-de açúcar. “O BNDES acredita no potencial regional para a integração de milho e cana, e pode ter resposta rápida, porque a implementação desses investimentos não requer um ciclo agrícola longo, como ao da cana. Em até um ano e meio é possível aumentar a produção de etanol agregando o milho”, avaliou Arthur Milanez, gerente da área de biocombustíveis do BNDES.

Segundo o banco de fomento, o aumento potencial de produção com uso do milho – de pelo menos 2,7 bilhões de litros – equivale a 10% da produção nacional do biocombustível e evitaria a importação anual de cerca de 2 bilhões de litros de gasolina (US$ 1,5 bilhão ao ano). Isso considerando que com maior oferta de etanol, reduziria-se a necessidade pela gasolina.

“A dificuldade de escoamento da produção de milho seria minimizada. É interessante, entretanto, estimular o consumo do etanol no Centro-Oeste, para não transferir o problema do escoamento do milho para o escoamento de etanol”, disse Milanez.