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Sustentabilidade

Cenário da pandemia de COVID-19 pode acelerar adoção de bioenergia

Especialistas debateram panorama durante seminário online realizado no dia 25 de junho, com transmissão pelo YouTube

Cenário da pandemia de COVID-19 pode acelerar adoção de bioenergia

As mudanças em curso na sociedade por conta da pandemia de COVID-19 podem gerar transformações permanentes, inclusive acelerando a adoção da bioenergia. Essa foi uma das conclusões do webinar Biomass and Sustainability, ocorrido no dia 25 de junho e disponível no YouTube.

O evento foi o primeiro webinar organizado no âmbito do Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

“A pandemia do novo coronavírus impôs rápidas mudanças que talvez se tornem permanentes. Mudanças no comportamento da sociedade, do perfil de gastos, das prioridades políticas e mesmo do funcionamento da economia”, disse à Agência Fapesp Marco Antonio Zago, presidente do Conselho Superior da Fundação, na abertura do webinar.

“No fim desse período agudo, talvez o resultado seja acelerar e concentrar, em um período de tempo muito curto, mudanças globais que já estão ocorrendo. Uma dessas tendências é a substituição das fontes não renováveis de energia por alternativas como a bioenergia”, avaliou.

Luiz Eugênio Mello, diretor científico da Fapesp, ressaltou que o programa de bioenergia da Fundação é um sucesso não apenas pelos dez anos de existência e mais de 400 projetos e mais de 200 empresas financiadas. Segundo Mello, a iniciativa é bem-sucedida por gerar conhecimento que contribui para o desenvolvimento da área, mas também pelos resultados na implementação do uso da bioenergia.

“Sabe-se das discussões entre Nikola Tesla e Thomas Edison sobre a forma que a energia poderia ser mais bem armazenada e transmitida para os consumidores. Essa é uma mostra de que nem sempre a melhor solução vence. Sempre há um aspecto de quão bem posicionado estão os diferentes atores. Esse evento contribui para que as melhores soluções prevaleçam”, salientou.

Liderança brasileira

Glaucia Mendes Souza, coordenadora do BIOEN, lembrou que o programa começou em 2009 e hoje a bioenergia tem sido, cada vez mais, vista como um componente essencial da matriz energética brasileira, que já tem 42% de fontes renováveis. “A bioenergia tem de ser expandida de forma a mitigar as mudanças climáticas e permitir o desenvolvimento sustentável. É a única opção disponível para a substituição de combustíveis fósseis para muitos setores da economia”, disse à Agência Fapesp.

A pesquisadora lembrou que não há outro país no mundo além do Brasil com uma população maior que 6 milhões de habitantes que tenha uma matriz energética com mais de 40% de renováveis. Um dos componentes-chave que contribuíram para tal cenário foi a longa tradição de produzir açúcar no interior, mas também a capacidade de produzir hidroeletricidade e, mais recentemente, etanol, eletricidade a partir da queima do bagaço da cana-de-açúcar e biodiesel.

“Outro componente-chave é a forte pesquisa no tema. O Brasil é o líder em publicações nesse campo, então somos muito gratos à robusta comunidade de cientistas que tem trabalhado nesse assunto por tantos anos”, explicou.

De acordo com Souza, um importante resultado do BIOEN foi aumentar a articulação entre pesquisadores em estudos transdisciplinares, o que impactou diretamente a qualidade de políticas públicas geradas no setor. Ela citou as pesquisas que deram origem ao primeiro motor flex desenvolvido no Brasil, em 2003, além dos avanços em genômica que permitiram que, no fim do ano passado, fosse publicado o genoma mais completo até então de um cultivar comercial de cana-de-açúcar.

O evento teve ainda a participação dos outros membros da coordenação do BIOEN, Luis Cassinelli, Rubens Maciel Filho, Heitor Cantarella e Luiz Augusto Horta Nogueira. Os outros palestrantes foram Stephen Long, pesquisador da University of Illinois Urbana-Champaign (UIUC), nos Estados Unidos; Renato Godinho, da Plataforma Biofuturo, do Ministério das Relações Exteriores, e Marcelo Morandi, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente.