A China está pronta para começar a extrair gás natural de águas profundas, um feito de engenharia avançada que inclui centenas de quilômetros de dutos submarinos e uma plataforma de fabricação chinesa resistente a tufões.
O campo pioneiro faz parte de uma iniciativa do governo chinês para mais do que dobrar o uso do gás no país e fazer o produto responder por 10% da matriz energética até 2020, ajudando a diminuir sua dependência do carvão – um combustível mais poluente e responsável, hoje, por dois terços da eletricidade consumida na China.
O campo de gás de Liwan-3, no Mar da China Meridional, a cerca de 320 quilômetros a sudeste de Hong Kong, deve começar a produzir no início do ano que vem e responder num certo ponto por 4% do suprimento de gás do país. Ele tem o potencial de fornecer mais gás para a China que as importações da Austrália, o segundo maior fornecedor de gás natural liquefeito do país.
Com toda sua complexidade, o projeto de US$ 6,5 bilhões está bem localizado. O campo fica em território marítimo não disputado e perto de onde o país mais precisa de gás: as regiões costeiras do sul e do leste que têm um rápido crescimento e deficiência de energia.
A Husky Energy Inc., controlada pelo bilionário de Hong Kong Li Ka-shing, opera o projeto e tem uma fatia de 49% dele. A estatal chinesa de energia Cnooc Ltd. detém o restante.
A Cnooc tem procurado aumentar sua experiência em perfuração em plataformas marinhas. No ano passado, a petrolífera pagou US$ 15,1 bilhões pela canadense Nexen Inc. Com isso, obteve acesso às técnicas usadas pela Nexen no Golfo do México – muito mais profundo que o campo Liwan – e pode empregá-las em futuros projetos de águas profundas. Além disso, a Husky e a Cnooc contrataram especialistas em águas profundas, incluindo a Saipem SpA, da Itália, para assessorá-las em Liwan.
“Estamos muito perto de termos nossa primeira produção de gás”, disse o diretor-presidente da Husky Energia, Robert Peabody, numa palestra em 24 de outubro. A empresa canadense informou que está “dentro do cronograma e do orçamento” para começar a produzir até o fim deste ano ou início de 2014.
A produção inicial de Liwan, de aproximadamente 8,5 milhões de metros cúbicos por dia, deve subir para perto de 10 milhões no ano que vem, quando um segundo campo próximo a ele entrar em produção. Com a conexão de um terceiro campo, daqui a mais de um ano, a produção deverá atingir em torno de 14 milhões de metros cúbicos por dia.
O pico de produção de Liwan, previsto para 2015, deve equivaler a cerca de 4% da produção doméstica de gás na China e 7% do gás importado. “Números pequenos, mas impressionantes para um projeto só”, disse Craig McMahon, da consultoria Wood Mackenzie.
O primeiro gás virá de nove poços com 1.450 metros de lâmina d’água. O gás fluirá por dois dutos de 79 quilômetros para uma plataforma de águas rasas, o núcleo do projeto, de onde viajará mais 260 quilômetros até a costa entre Macau e Hong Kong.
Liwan está longe das zonas sul e oeste do Mar da China Meridional, onde a exploração foi impedida por disputas territoriais entre China, Vietnã, Filipinas e outros.
No mês passado, a China ofereceu 25 blocos no mar para exploração em parceria com outras empresas. A BP PLC e a Chevron Corp. estão entre as companhias estrangeiras de petróleo que já exploram as águas profundas no sul da China, sob contratos que dão à Cnooc direito a uma fatia de 51% se as áreas passarem a produzir comercialmente. A Administração de Informações sobre Energia dos Estados Unidos estimou que poderia haver 5,4 trilhões de metros cúbicos de gás e 11 bilhões de barris de petróleo sob o mar da China Meridional.
Mas o aprendizado da Cnooc a tornará menos dependente de parceiros estrangeiros, na costa da China ou em qualquer outro lugar. A empresa já investiu em projetos de águas profundas no Brasil, na África Ocidental e no Golfo do México.
Grande parte da produção esperada pelo projeto Liwan já foi vendida por valores entre US$ 11 e US$ 13 por milhão de unidades térmicas britânicas a empresas chinesas, preço cerca de 33% menor que o pago no mercado à vista de gás natural liquefeito da Ásia.
A China também está tentando atender a crescente demanda por gás usando navios-tanques e gasodutos terrestres. As importações de gás natural liquefeito marítimo do país, provenientes principalmente do Qatar e da Austrália, subiram 20% no ano passado e 23% nos primeiros nove meses deste ano.
As empresas chinesas também planejam importar gás natural liquefeito da Rússia, da América do Norte e de Moçambique. A produção de gás em campos terrestres na China cresceu apenas 6,7% no ano passado, para 107 bilhões de metros cúbicos.