Até então vista como tecnologia de longuíssimo prazo, a produção de etanol celulósico começa a deixar a fase de experimentos e vai ganhar escala comercial no Brasil. Três usinas para processamento de etanol celulósico devem entrar em operação no país entre 2014 e 2015. Juntas, vão produzir 160 milhões de litros por ano e demandar investimentos de cerca de R$ 800 milhões.
Um cronograma de implantação, até então, restrito ao projeto da GranBio, também foi anunciado pela Raízen que na semana passada teve aprovado no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) seu projeto. O plano da maior sucroalcooleira do país é começar a construção neste semestre e concluí-la até o fim do ano que vem.
Dos três projetos previstos ainda falta o da Petrobras Biocombustível que, segundo apurou o Valor, passa por últimas definições para ser submetido à aprovação pelo banco de fomento. Em nota, a estatal afirmou que o projeto de engenharia da planta de etanol de segunda geração encontra-se em fase de detalhamento.
A tecnologia para quebrar a celulose do bagaço e extrair o açúcar já é conhecida pela pesquisa. O desafio desses projetos será replicar em larga escala os custos competitivos, em tese, já alcançados nas escalas experimentais. As empresas não divulgam quais foram os custos nessa etapa. “O banco fez sua aposta em um portfólio de cinco ou seis projetos. Desses, vai ter um que será campeão em um primeiro momento. Outros, terão que percorrer uma curva maior de aprendizado. Esse é o caminho natural de desenvolvimento de tecnologias novas”, diz o chefe do Departamento de Biocombustíveis do BNDES, Carlos Eduardo Cavalcanti.
As empresas não divulgam seus custos, com exceção da GranBio, companhia controlada pela Gran Investimentos, holding da família Gradin. O vice-presidente-executivo e de novos negócios da empresa, Alan Hiltner, afirma que o plano é produzir o etanol celulósico a um custo operacional de 20% a 25% mais baixo do que o do etanol de primeira geração, cujo custo está na casa do R$ 1 por litro.
Para chegar ao valor almejado, a empresa vai instalar sua planta em Alagoas ao lado de usinas de cana de primeira geração. Vai comprar delas no primeiro ano 340 mil toneladas de “massa seca” (bagaço e palha de cana), a um custo de US$ 25 por tonelada – valor que já inclui o transporte da biomassa até a fábrica. “As usinas estão a um raio máximo de 30 quilômetros”, completa Hiltner. A condição de reajuste desse valor está prevista em contrato, segundo o executivo, mas não pode ser divulgada.
Essa foi a maior aposta do BNDES que, por meio do seu braço de participações, vai aplicar R$ 600 milhões por uma fatia de 15% da GranBio. O projeto todo da companhia é de R$ 4 bilhões para construção de quatro usinas de etanol de segunda geração (celulósico), duas unidades bioquímicas e duas biorrefinarias flexíveis. A GranBio também obteve aprovação de R$ 130 milhões na Finep (Plano BNDES/Finep de Apoio à Inovação Tecnológica Industrial dos Setores Sucroenergético e Sucroquímico).
A planta da GranBio será a maior entre as três. Terá capacidade para produzir 82 milhões de litros de etanol de segunda geração. Quando tiver concluída, no primeiro trimestre do ano que vem, terá consumido R$ 350 milhões. A da Petrobras Biocombustível e a da Raízen terão o mesmo tamanho, ou seja, capacidade para fabricar 40 milhões de litros do biocombustível, e vão demandar investimentos de cerca de R$ 200 milhões cada uma.
Dos três projetos, apenas o da estatal ainda não foi aprovado no BNDES. A Petrobras Biocombustível não confirma, mas tudo indica que será implantada na unidade Boa Vista, localizada em Goiás e pertencente à joint venture Nova Fronteira Bioenergia. A empresa se limitou a informar que a planta será integrada a usina de primeira geração.
A da Raízen também será integrada a uma unidade de primeira geração – na usina Costa Pinto (SP). Desde o ano passado, a Raízen testa a produção na planta de demonstração da Iogen, empresa canadense na qual tem participação.