Grandes grupos da indústria de óleo e gás, como Petrobras, Raízen e Subsea 7, estão ampliando parcerias com startups. O objetivo é encontrar soluções que possam resolver gargalos em áreas como eficiência energética, tecnologias digitais e manutenção de equipamentos.
Bruno Rondani, CEO da 100 Open Startups, plataforma com uma base de 13,5 mil empresas que facilita a co-criação de negócios inovadores, afirma que o volume de ações de inovação aberta, quando organizações buscam soluções fora de seus laboratórios, cresceu 20 vezes nos últimos quatro anos. “Entre as iniciativas, 60% são alianças com startups”, afirma.
A Petrobras criou no ano passado o Conexões para Inovação-Módulo Startups, programa de fomento à pesquisa e desenvolvimento, voltado para empresas de porte reduzido. Prevê o lançamento de cinco editais ou chamadas públicas de projetos, totalizando R$ 60 milhões em recursos.
A verba vem de uma regra de contrapartida, proveniente da resolução 799, da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), aprovada em 2019. A norma obriga as empresas de petróleo a investir até 1% da receita bruta arrecadada com campos de alto volume de produção em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I). Também abre a possibilidade de aplicar em startups, explica Robert Antônio Cosmo Nunes, gerente geral de transformação digital da Petrobras.
O primeiro edital do programa da estatal, lançado em julho de 2019, recebeu 261 inscrições e selecionou sete companhias. Em maio de 2020, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a petroleira promoveu a segunda rodada da iniciativa, com R$ 10 milhões em recursos, para projetos em áreas como tecnologias digitais, robótica, corrosão de equipamentos e redução de carbono. Foram 363 startups inscritas, quase cem a mais do que a edição anterior, e 18 foram escolhidas para trabalhos em conjunto.
Cada proposta recebe de R$ 500 mil a R$ 1 milhão, dependendo do potencial de escala da solução apresentada. O valor é usado para viabilizar as novas ideias nas operações da companhia, enquanto os empreendedores ganham assessoria da Petrobras e Sebrae para implementar as tecnologias rapidamente.
A norueguesa Subsea 7, fornecedora de serviços para o setor de óleo e gás, investe em inovação aberta com o apoio da aceleradora de empresas Fábrica 7. No ano passado, organizaram um evento para 80 empreendedores, com duração de nove meses, envolvendo etapas de idealização e aceleração de projetos.
De acordo com Patrícia Grabowsky, head de inovação da Subsea 7, a campanha recebeu mais de 350 inscrições e os critérios para a escolha de parceiros entre as startups envolvem similaridade entre linhas de pesquisa. “Avaliamos a ‘distância tecnológica’ das soluções para o nosso core business.” Quanto menor, melhor, afirma. O contrato com as startups pode envolver desde suporte para o arranque do negócio até a aquisição do controle acionário.
Na Raízen, distribuidora de combustíveis e fabricante de açúcar e etanol, o hub de inovação Pulse, em Piracicaba (SP), completou três anos e reúne 38 startups associadas. Originou 54 projetos-piloto, 15 contratos e três hackathons (maratonas de tecnologia).
“Além de oportunidades dentro da companhia, oferecemos às associadas conexões com investidores, universidades e outras corporações”, diz Pedro Leal Noce, executivo de inovação da Raízen. Entre as parceiras do Pulse, a Aimirim, de Uberlândia (MG), desenvolveu uma sistema que aplica internet das coisas e inteligência artificial em processos industriais, como o controle da temperatura em caldeiras de queima de biomassa. A ferramenta é usada hoje em mais de seis usinas do grupo.
Na opinião de Fred Arruda, CEO do Porto Digital, parque tecnológico do Recife (PE) com mais de 300 startups residentes, empresas em crescimento conseguem atrair a atenção de grandes atores da indústria de energia quando combinam equipes bem preparadas com uma ferramenta que cabe como luva nas linhas de produção. “A excelência técnica do time é importante para qualquer ramo de startup, mas pesa muito quando ele está na área de óleo e gás”, diz.
Para o especialista, os gigantes do setor estão percebendo que é muito mais estratégico e barato captar startups que criam soluções para suas “dores” de negócio do que começar a investir em uma nova pesquisa, do zero. A fim de celebrar acordos com bons resultados para as duas partes, Arruda chama a atenção para o teor dos contratos firmados. “O ‘grandão’ não pode esmagar o pequeno.”