Depois de dar muito lucro no ano passado, com os preços elevados do etanol no mercado interno, a importação do biocombustível vem se convertendo em fonte de prejuízo em 2012. Somente em janeiro, entraram no país 250 milhões de litros de etanol anidro, a maior parte contratada entre outubro e novembro do ano passado, quando os preços internos estavam, pelo menos, 13% mais altos.
O mercado estima que os navios que entraram no país a partir de janeiro tenham desembarcado o produto a um custo entre R$ 1,25 e R$ 1,40 por litro (com impostos). Algumas dessas operações, provavelmente, registraram resultado positivo até o dia 13 de janeiro, quando o indicador Cepea/Esalq para o anidro atingiu seu último pico, a R$ 1,33 (R$ 1,378 com impostos) o litro. Depois dessa data, os preços recuaram para R$ 1,25 (R$ 1,298 com imposto) o litro na semana seguinte e, sete dias depois, já estavam em R$ 1,16 (R$ 1,208) na usina. Desde o dia 30 de janeiro, estão estacionados em R$ 1,15 (R$ 1,198) por litro, na usina.
Desde o começo da safra 2011/12, em maio de 2011, até janeiro de 2012, foram importados 1,298 bilhão de litros do biocombustível, segundo dados da Secex, compilados pelo Ministério da Agricultura. Em igual intervalo do ciclo passado, esse volume se resumiu a 50 milhões de litros.
A maior parte – 1,048 bilhão de litros – entrou no país quando os preços internos estavam mais altos, garantindo boas margens aos importadores. Em meados do ano passado, o cenário era de uma forte quebra de safra – que se concretizou – e havia preocupação com desabastecimento.
“Produtores e distribuidores de etanol e o governo se reuniram para evitar a falta de etanol, e a importação foi uma alternativa acertada”, lembra Leonardo Gadotti Filho, vice-presidente executivo de logística, distribuição e trading da Raízen (Cosan/Shell).
Assim, o bom negócio, potencializado pela necessidade de mais etanol no mercado interno, atraiu mais players para a operação. A variável, em parte inesperada, foi a redução, pelo governo, da mistura de anidro na gasolina de 25% para 20%. A medida tirou do mercado uma demanda de cerca de 1 bilhão de litros e o resultado é que em janeiro, o mercado, até então em alta, entrou em declínio.
Segundo a Secex, somente em janeiro, entraram no país 250 milhões de litros de etanol. Levantamento da empresa de agenciamento marítimo Williams mostra que na lista das principais importadoras em toda a safra estão a Total Distribuidora, do grupo da petroleira francesa Total, além de Raízen, a americana Cargill, a Louis Dreyfus Commodities e a indiana Shree Renuka Sugars. Apesar de estar fora dessa lista, a Copersucar também foi uma grande importadora, com um volume de cerca de 250 milhões de litros. Mas, segundo a empresa, todo o volume desembarcou no país em dezembro. Shree Renuka, Cargill e Dreyfus foram procuradas, mas não se pronunciaram.
Um corretor que preferiu não se identificar disse que a maior parte do volume que foi importado em 2012 ainda não foi comercializada. “Pressionados a desocupar espaço no porto, alguns grupos até optaram por transportar o produto até a usina”, contou ele.
Outra pressão vem sendo exercida para a comercialização desse produto. É que foi antecipado de abril para março o fim da isenção de 25% do ICMS que até então incidia no anidro importado.
Em 2011, a operação de importação trouxe muitos ganhos às empresas, diz o mesmo corretor. Segundo ele, houve casos extremos de resultados líquidos na operação de R$ 1 mil por m3, nada desprezível se considerar que os negócios que chegaram neste ano têm valor total de até R$ 1,4 mil por m3.
A Raízen, maior processadora de cana do país, importou em toda a safra 250 milhões de litros. Gadotti Filho conta que, na média, a operação foi positiva, mas reconhece que a carga que chegou em janeiro – cerca de 25 milhões de litros – teve resultado negativo. “A carga é entregue no porto de destino de 30 a 40 dias após fechado o contrato. Esse momento pode coincidir com a virada do mercado. E foi o que aconteceu com as cargas de janeiro.”
Normalmente em alta, os preços do etanol nesta entressafra de cana entraram em espiral de baixa. A redução da mistura de anidro na gasolina, aliada à retração no consumo de hidratado, que abastece diretamente os veículos, ajudou a derrubar os preços. Desde janeiro, o indicador semanal Cepea/Esalq para o anidro acumula queda 14%, a R$ 1,1563 o litro na usina. Mas essa retração ainda não trouxe grandes impactos para o consumidor. Os preços ainda elevados na bomba fizeram com que o consumo em janeiro recuasse 39,6%, para 413,324 milhões de litros ante janeiro de 2011, de acordo com o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras (Sindicom), cujas associadas representam 60% do etanol vendido no país.
Ontem, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) informou que as vendas de etanol hidratado pelas usinas recuaram 31,6% para 10,82 bilhões de litros no acumulado da safra.