A proposta de aumento da mistura de etanol na gasolina, de 20% para 25%, não vai tirar o setor sucroalcooleiro do sufoco, mas dará novo fôlego ao caixa da Petrobrás. Por mês, a medida pode representar cerca de US$ 120 milhões a mais nos cofres da estatal, que reduzirá em 41% o volume de importação de gasolina. No ano, a economia chegará a US$ 1,5 bilhão, segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Por outro lado, o Brasil será obrigado a comprar etanol no exterior para atender a demanda interna. Com a crise internacional que abalou o setor sucroalcooleiro desde 2008, a produção de cana de açúcar encolheu nos últimos anos enquanto o consumo de combustível no País continuou em ritmo acelerado – de 2009 a 2011, o aumento foi de 40%.
Diante do risco de desabastecimento e escalada do preço do biocombustível, o governo federal decidiu, em setembro do ano passado, reduzir a mistura de etanol na gasolina de 25% para 20%. A decisão implicou aumento de importação de gasolina por parte da Petrobrás, cuja produção de petróleo também ficou estagnada nos últimos três anos.
Entre janeiro e abril, segundo o CBIE, a estatal importou em média 380 milhões de litros de gasolina por mês. “O problema é que a Petrobrás compra mais caro e vende mais barato”, destaca o diretor do CBIE, Adriano Pires. Ele calcula que, até maio, a empresa já havia perdido R$ 648 milhões com a importação de gasolina por causa do descasamento dos preços. Se a mistura de etanol já estivesse em 25%, o prejuízo seria um pouco menor: R$ 400 milhões.
Na balança comercial, a medida deve ter efeito pequeno, mas positivo. Como o preço do etanol é menor, a diferença será de US$ 14 milhões por mês. Basta saber se haverá oferta suficiente no exterior para atender a demanda do Brasil. Na indústria de açúcar e álcool, os produtores garantem que sim. De janeiro a junho, o País foi obrigado a importar uma média de 79 mil litros de etanol por mês. Agora, se confirmada a mudança, precisará de mais 157 mil litros por mês.
A União da Indústria da Cana de Açúcar (Unica) informou que ainda está calculado os volumes necessários. Mas não há dúvidas de que haverá necessidade de aumentar as importações. Até a segunda quinzena de junho, o volume de cana moída estava 28% menor do que na última safra; a produção de etanol anidro (usado na mistura da gasolina), havia caído 43%; e o hidratado, 32%.
Importações. “Viramos importador de todos os tipos de combustíveis: gasolina, diesel, querosene de aviação e também de etanol. O problema é que os volumes vão aumentar”, diz Pires, da CBIE. Com poucos investimentos, a tendência é que o descasamento entre oferta e demanda se amplie. “No médio e longo prazo, a alternativa é criar políticas de investimentos para o etanol. No curto prazo, a saída é desestimular o consumo por meio de preço.”
Outro problema levantado por especialistas é a falta de infraestrutura para receber o produto importado. “A capacidade logística para transporte de combustíveis está no limite, seja nos portos para receber o produto, ou na distribuição. Falta tancagem e dutos”, destaca Paulo Fleury, do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos).
Segundo estudo realizado pela instituição, a densidade dutoviária (km de dutos comparados a extensão territorial) do Brasil é 24 vezes menor que a dos Estados Unidos. “A logística está no talo. E a solução para esse problema não é de curto prazo”, completa o ex-presidente da União da Indústria da Cana de Açúcar (Unica), Eduardo Pereira de Carvalho, da Consultoria Expressão.