A diretora-presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Elizabeth Farina, fez palestra nesta quinta-feira (22/5) aos integrantes do Conselho de Economia da Associação Comercial de São Paulo, presidido pelo economista Roberto Macedo. A exposição foi realizada no edifício-sede da ACSP, no centro da capital paulista.
Elizabeth Farina é doutora em Economia pela FEA-USP, foi professora titular e chefe do Departamento de Economia da mesma faculdade e presidente do
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). Na ACSP, ela fez um panorama do setor sucroenergético no Brasil.
A Unica reúne mais de 120 associadas, que respondem por cerca de 60% da cana-de-açúcar, açúcar e etanol produzidos no Brasil.
Muito chão para plantar cana
Elizabeth Farina chamou a atenção para a informação de que menos de 2% das terras aráveis do Brasil são utilizados no cultivo da cana-de-açúcar destinada à produção de etanol – apesar de o Brasil ser o 2º maior produtor mundial de etanol, com 25% da produção e 37% das exportações mundiais, atrás apenas dos Estados Unidos. Esse dado, segundo ela, surpreende. “Isso pode surpreender. O Brasil pode parecer um grande canavial. Mas tem muito chão para plantar cana”, completou.
Com relação à produção de açúcar, o Brasil é o primeiro colocado no ranking mundial, com 22% da produção global e 45% das exportações.
A palestrante citou que o Zoneamento Agroecológico da Cana-de-Açúcar, desenvolvido pelo Ministério da Agricultura, prevê 64,7 milhões de hectares (7,5% do território nacional) de áreas autorizadas ao cultivo da cana.
PIS
Segundo Elizabeth Farina, R$ 1,4 bilhão de PIS/Cofins está disponível para o setor recuperar em forma de crédito. Ela lembrou que, apesar de a regulamentação ter saído, o governo tem um ano para analisar e 5 anos para pagar.
Crise
A palestrante falou sobre o ambiente que levou à atual crise no setor, no Brasil. Elizabeth informou que o número total de unidades fechadas no Centro-Sul pode chegar a 58 até o final de 2014. “Demos todos os estímulos ao contrário”, disse, referindo-se a desonerações de combustíveis e incentivos ao setor automobilístico nos anos de 2008 e 2009, com impacto negativo para as usinas.
Ela ressaltou as inciativas que – antes desse período – incentivaram o setor sucroenergético: lançamento e consolidação dos veículos flex fuel, com incentivo do IPI; preço do petróleo em alta; estabelecimento da CIDE sobre gasolina; redução do ICMS sobre o etanol em SP de 25% para 12%; aumento do interesse global pelos biocombustíveis; menor custo de produção do etanol.
Já depois de 2008/2009, Elizabeth lembrou que houve eliminação gradativa da CIDE sobre gasolina; incerteza em relação ao preço interno dos combustíveis fósseis; incerteza em relação à política pública para biocombustíveis nos principais países consumidores; pressão sobre os custos de produção do etanol devido a aspectos ambientais (mecanização) e trabalhistas; aumento do endividamento e das despesas financeiras; problemas climáticos.
“Temos muitas oportunidades mas depende de política pública”, afirmou, referindo-se a alternativas para superar a crise. Segundo Elizabeth, o setor precisa se voltar para novos usos da cana e investir em bioeletricidade.
Ela informou que, em 2013, a bioeletricidade fornecida à rede economizou 7% da água nos reservatórios das regiões Sudeste/Centro-Oeste e foi equivalente a ter atendido 8 milhões de residências no ano. Que nos anos de 2020/2021, a bioeletricidade poderá representar 18% da matriz de energia elétrica nacional – em 2011/2012, representou 3%.
Outra observação da economista é aproveitar o potencial dos mercados de açúcar e etanol. Segundo ela, a demanda mundial por açúcar aumenta a uma taxa média de crescimento de 2% ao ano. E entre 2012 e 2013, a frota nacional de veículos aumentou 7% e a frota de veículos flex cresceu 16%, e a frota de motocicletas aumentou 5% e a de motocicletas flex cresceu 35%.
Para a retomada de investimentos, a presidente da Unica sugere definição de objetivos claros para a participação do etanol na matriz de combustíveis; reestabelecimento e manutenção do diferencial tributário entre etanol e gasolina, reconhecendo as externalidades positivas associadas ao biocombustível; garantia de estímulo, via programa Inovar Auto, para ganhos de eficiência dos veículos flex no uso do etanol hidratado e presença do bicombustível nos futuros modelos híbridos; melhoria das condições dos leilões para a bioeletricidade; programas de incentivo à inovação tecnológica.