O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), localizado em Piracicaba, no interior de São Paulo, apresentou nesta semana, duas novas variedades de cana-de-açúcar, a CTC23 e a CTC24. As varietais também já foram oficialmente ofertadas no mercado e já podem ser utilizadas em canaviais da região Centro-Sul.
Segundo Arnaldo José Raizer, pesquisador do centro, as duas novidades são indicadas, principalmente, para finais de safra, período em que a planta perde significativos teores de sacarose. “Elas também são resistentes à secas intensas e não florescem”, afirma o cientista.
Raizer disse que a CTC23 e a CTC24 apresentaram avanços impressioanantes nos campos experimentais, principalmente os localizados em regiões com grande déficit hídrico, como o Cerrado (o CTC instalou 40 áreas de testes em todas as regiões produtoras). “Os experimentos, realizados desde a safra 2009/2010, apontaram que estas variedades têm alto teor de sacarose em fins de ciclos, aumentando a produtividade do canavial”, explicou o cientista.
O principal objetivo das duas varietais é elevar a produtividade dos canaviais, driblando as intempéries climáticas (seca intensa em determinados períodos do ciclo da cana) e adaptando a planta à mecanização. “As soqueiras das duas variedades demonstraram ótima brotação e longevidade, inclusive na colheita mecanizada de cana crua”, revela Raizer.
A CTC23 e a CTC24 são espécies resistentes às principais doenças e pragas da cultura. Mas o que Raizer mais destacou é a capacidade destas plantas resistirem à seca e evitarem o florescimento, processo que inviabiliza a utilização da planta para processamento. Raizer estima que, somente na safra 2011/2012, a atual, a perda de matéria-prima provocada pelo florescimento seja de 4%. Segundo ele, o florescimento ocorre quando, em períodos de seca intensa, a planta da cana cresce demais, formando uma espécie de pluma (flor) no ápice das folhagens.
O fenômeno ocorreu principalmente nos canaviais da região oeste de São Paulo neste ciclo. “As regiões de São José do Rio Preto e de Araçatuba foram altamente afetadas por este problema, provocado exclusivamente pelo clima”, explicou. “O florescimento da cana é fundamental para nos fornecer material genético, mas é péssimo para a comercialização”.
Marcelo Britto, gerente agrícola da Usina Jalles Machado e Otávio Lage, ambas localizadas em Goiás, cultiva nos canaviais do grupo as duas variedades mais populares utilizadas no Brasil, a RB867515 e a SP813250 e mais recentemente, tornou-se parceira do CTC para testar a CTC23 e a CTC24. “Realmente percebemos que houve uma maior produtividade e tivemos menos perdas referentes aos fatores climáticos, além de biomassa exuberante”, revela Britto.
Segundo ele, nenhuma das duas variedades floresceu nos 45 mil hectares plantados em região do Cerrado. “Foi muito positivo. Em 2010, a queda de produtividade foi muito acentuada e, em 2011, este comportamento das plantas foi semelhante. A busca por variedades que evitem mais perdas é fundamental para qualquer usina”, diz ele.
As novas variedades vêm sendo desenvolvidas há mais de dez anos, período normal para o processo neste setor (levando-se em conta que a cana-de-açúcar é uma cultura de longo prazo). Para chegar às CTC23 e CTC24, o CTC investiu R$ 150 milhões.