O potencial de energia renovável do Brasil é tão grande quanto sua extensão. Foi o que mostrou o professor da COPPE/UFRJ, Maurício Tolmasquim, durante a palestra que abriu o ciclo de plenárias na Conferência Mundial de Energia do Hidrogênio (WHEC 2018), que aconteceu de 18 a 22 de junho no Rio de Janeiro. Segundo Tolmasquim, em comparação com dados mundiais de 2003, o Brasil já possuía 78,2% de produção de energias renováveis – dos quais, 68,2% é hidráulico (mais de 60%, representando o dobro do consumo das residências brasileiras) – contra 22,2% do restante do mundo. Isso colocou o Brasil em primeiro lugar como país com alto potencial para migrar à atual melhor alternativa de energia: o Hidrogênio.
Maurício Tolmasquim apontou que, dentre as diversas possibilidades de energias renováveis no Brasil, como a eólica e a solar – devido à posição geográfica privilegiada do país –, a que mais recebe investimento é a de biomassa (principal geradora de etanol). Contudo, devido à pressão internacional para a solução da emissão dos gases de efeito estufa, a tendência é a indústria automobilística internacional aumentar a produção de veículos elétricos. Para Tolmasquim, a solução é desenvolver o potencial brasileiro para produção de hidrogênio.
Para tal, o Brasil poderia investir em hidroelétricas com reservatórios que acumulam água, de onde o Hidrogênio pode ser extraído e armazenado. Uma solução eficiente seria o investimento nas novas potências hidroelétricas concentradas na Amazônia. No entanto, ainda há resistência por partes dos ativistas que defendem a preservação da biodiversidade local e das comunidades indígenas. Todavia, para o professor, a utilização das águas captadas no período das chuvas para produzir hidrogênio e armazená-lo em pilhas de combustível, seria a solução mais barata para o desenvolvimento sustentável do país e “o Brasil se tornaria produtor em potencial de hidrogênio”, concluiu Tolmasquim.
Hidrogênio natural é descoberto em quatro estados brasileiros
O Brasil tem reservas de hidrogênio natural em pelo menos quatro estados: Ceará, Roraima,Tocantins e Minas Gerais. Monitoradas num projeto das empresas GEO4U e Engie Brasil, estas reservas ainda estão em fase de pesquisa, mas são promissoras, na avaliação do geólogo Alain Prinzhofer. Ele vem pesquisando sobre o hidrogênio natural e suas vantagens não apenas como alternativa viável em relação a combustíveis fósseis, mas também ao próprio hidrogênio produzido artificialmente.
— O hidrogênio natural é mais barato do que o industrializado e uma fonte muito mais interessante para o futuro em relação à que usamos atualmente. Muita gente acha que não é comercial. Eu discordo. O gás que vem do solo muda este paradigma e poderia ser muito interessante — afirma Prinzhofer.
Diretor-científico da GEO4U, PhD e professor da Universidade de Paris, ele apresentou na 22ª Conferência Mundial de Energia do Hidrogênio (WHEC 2018) palestra sobre as formas como a geologia pode acelerar transição do hidrogênio. Um exemplo de sucesso ocorreu em Mali, o oitavo maior país da África. No fim dos anos 1980, durante perfurações para encontrar água, foram descobertas reservas de hidrogênio natural, exploradas posteriormente pela companhia PETROMA.
O gás proveniente do solo é atualmente usado para gerar energia e iluminar parte do vilarejo de Bourakebougou, perto da capital Bamako, criando 100% da energia limpa numa área rural pobre que não tinha acesso à eletricidade.
— O Mali é o único exemplo de produção industrial de hidrogênio natural no mundo, com 18 novos poços de exploração, mostrando hidrogênio para todos, com reservatórios nas profundidades entre 100m e 1.800m. É um projeto de sucesso, teve mais êxito do que a exploração de petróleo — acrescenta o geólogo.
Prinzhofer se mostra otimista em relação à exploração de hidrogênio natural no Brasil, por enquanto em fase de monitoramento. O país ainda não tem plano industrial.
— O maior desafio no Brasil é descobrir um caminho legal para explorar o hidrogênio natural e como será a regulação.
O hidrogênio natural é encontrado em todos os continentes. Um dos autores do livro “Hidrogênio natural: a próxima revolução energética?”, Prinzhofer fez pesquisas na Rússia, com grandes reservas de gás proveniente do solo. Nos EUA, há nascentes em Kansas. Quais seriam então as suas desvantagens?
— Há apenas uma. O gás não é tão puro quanto o hidrogênio manufaturado. Em Máli encontramos a composição de 98% de hidrogênio, 1% de metano e 1% de nitrogênio. O hidrogênio artificial é puro. Mas você pode purificar o hidrogênio natural com outras tecnologias. E a natureza não é 100% pura — explica Prinzhofer.