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Biocombustível

Petrobras e Vale buscam acordo no setor de palma

Plantação de palma no Pará; aposta em sinergia entre Biopalma e PBio para viabilizar produção de biodiesel no Norte.

Petrobras e Vale buscam acordo no setor de palma

O setor brasileiro de palma terá em breve mudanças importantes. Após meses de negociações, a Petrobras Biocombustível e a Biopalma, empresa da qual a Vale detém 70% de participação, deverão formalizar um acordo para dar sinergia a suas operações com biocombustíveis no Pará, segundo fontes familiarizadas com o tema.

Guardado a sete chaves, o acordo está sendo desenhado em um modelo “ganha-ganha”, pelo qual as duas companhias seriam diretamente beneficiadas. Para a estatal, às voltas com um caixa mais apertado e dificuldades no desenvolvimento da cultura no Pará, seria uma forma de dar continuidade à empreitada e garantir o suprimento de biodiesel ao Norte do país. Já para a Vale, que não tem expertise em produção de biodiesel, a parceria traria um sócio atuante do setor para o seu projeto de integração vertical e abastecimento próprio de suas locomotivas e máquinas.

“É uma lógica natural para a Vale, que é a maior consumidora de diesel do país. O Murilo [Ferreira, presidente da Vale] já vem usando esse modelo de trazer um sócio experiente aos negócios, como o ‘deal’ Vale-Cemig”, diz uma fonte a par das negociações, sobre o que deve ser mais um movimento da companhia para concentrar investimentos em minério de ferro, sua atividade fim.

O formato desse acordo, segundo fontes, está praticamente definido, mas só deve ser anunciado em um ou dois meses. As áreas tributárias de ambas as companhias analisam os termos do texto final. Procurada, a Vale confirmou, por meio de assessoria de imprensa, que as duas empresas estão em conversações para “encontrar sinergia” nos negócios. A Petrobras preferiu não comentar o assunto.

Enquanto isso, crescem no Pará as especulações em torno do acordo – entre concorrentes e, sobretudo, funcionários da Biopalma e Petrobras Biocombustível. A hipótese mais forte, conforme fontes ouvidas pelo Valor, é a de que os plantios ficariam com a Biopalma, que passaria a fornecer à estatal a matéria-prima para o processamento e a produção de biodiesel, tanto para as necessidades de consumo da Vale quanto as de distribuição da Petrobras Biocombustível. A estatal, nesse contexto, assumiria a operação da usina extratora de óleo da Biopalma, no município de Moju, e de outras duas programadas. A parceria tiraria de cena o empresário Paulo Brito, do grupo MSP, que vendeu os 70% da Biopalma à Vale e ficou minoritário.

Independentemente do que sair, de fato, desse acordo, muitos “players” do setor acreditam que a negociação passou a ser a opção mais razoável à medida em que a Petrobras Biocombustível foi “se enrolando” no projeto paraense. “A coisa degringolou porque boa parte das terras no Pará não tem titularidade, portanto não há base legal para plantar. Aí o jurídico brecou”, diz. Em 2012, a Petrobras Biocombustível plantou 9.376 hectares. “Mas depois disso, o ritmo de plantio ficou aquém do esperado”.

O plano inicial da estatal foi logo abortado. O chamado Projeto Pará Bioenergia, que previa a construção de uma refinaria para o processamento de biodiesel de palma para o mercado brasileiro, não decolou. A usina, com início de operação previsto para julho do ano passado, teria capacidade de produzir 230 milhões de litros de biodiesel por ano voltados à região Norte.

“Com a obrigatoriedade da mistura de 5% de biodiesel no diesel ficou caro transportar biodiesel de soja para o Norte, então a produção a partir da palma parecia um ótimo negócio. Mas encerraram o Projeto Pará já em 2012 e só sobrou o Projeto Belém”, diz outra fonte, referindo-se à parceria da Petrobras Biocombustível com a Galp Energia para produção de biodiesel na refinaria da companhia portuguesa em Sines.

Com a luz amarela já acesa, a Petrobras Biocombustível assinou em abril de 2013 um protocolo de intenções com a Vale para projetos conjuntos na área de biodiesel e de logística. O documento previa “estudar a viabilidade técnico-econômica dos projetos de interesse comum” entre as duas empresas. Desde então, os rumores só aumentaram.

No segundo semestre de 2013, alguns produtores de palma se sentiram incomodados com o que chamam de “abandono” da Petrobras Biocombustível. “Sem usina, tememos que as árvores sejam abandonadas ou manejadas incorretamente. Se isso ocorrer teremos um problema fitossanitário”, diz um deles.

“O arranjo serviria para ambas as empresas, que não querem ter a atenção desviada por temas que não são ‘core'”, diz outra fonte. “Mineradora quer minério e petroleira, petróleo. Palma é secundário”.

Para a Vale, trata-se de algo secundário, mas relevante. A empresa prevê a produção de biodiesel B-20 (20% biodiesel/ 80% diesel) para atender sua frota no Norte do país. Com aporte de US$ 500 milhões, terá duas usinas de extração de óleo e uma de produção de biodiesel, para 200 mil toneladas, a partir do segundo semestre de 2015. Para a Petrobras, seria o resgate de outro programa de biodiesel voltado à agricultura familiar.