Pietro Erber e Jayme Buarque de Hollanda (do Instituto Nacional de Eficiência Energética) comentam o atual panorama dos veículos elétricos no Brasil. Pesada carga tributária é apontada por especialistas como um dos motivos para a ausência desses veículos no mercado brasileiro. A frota de carros elétricos no país não passa de 200 unidades.
Comuns no mercado internacional, os carros elétricos começam aos poucos a transitar no Brasil, mas ainda estão longe de se tornarem populares. A Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE) estima que a frota desses veículos no país não passe de 200 automóveis. Apesar dos benefícios com a redução da dependência energética de combustíveis fósseis e o consequente ganho ambiental, a tecnologia enfrenta dificuldades para se popularizar no país. Um dos motivos para isso, segundo especialistas, é a elevada carga de impostos sobre o preço final.
Mesmo com os entraves, o panorama sobre os carros elétricos no Brasil é positivo para quem estuda o assunto. O avanço da tecnologia de baterias e a onda do consumo sustentável são algumas das razões que explicariam o fenômeno. “A disseminação de carros elétricos no país ainda é incipiente, mas extremamente promissora”, relata o diretor- presidente da ABVE, Pietro Erber.
Quando a entidade foi fundada, em 2006, carros elétricos ainda não passavam de uma curiosidade no Brasil. “O conhecimento do grande público sobre o tema limitava-se aos carrinhos de golfe, usados para patrulhamento da orla marítima pela polícia, especialmente no Rio de Janeiro”, conta Erber.
A associação foi criada pelo Instituto Nacional de Eficiência Energética, que já vinha organizando seminários sobre o tema. Naquela época, a eficiência no uso da energia oferecida pelo veículo elétrico já era reconhecida.
Um dos principais benefícios obtidos com a tecnologia é o controle de emissões de gases causadores do efeito estufa, como o CO2. Embora seja menos poluente, o carro elétrico ainda precisa superar alguns obstáculos para se tornar popular. “O problema dos veículos elétricos, tanto a bateria como híbridos (que funcionam a gasolina e a eletricidade), é o preço. Eles ainda custam mais caro”, avalia Erber.
No Brasil, um automóvel elétrico custa em torno de R$ 120 mil a R$ 130 mil. Como são importados, os impostos pesam no valor final. Mesmo assim, os entusiastas dos veículos elétricos acreditam que haverá uma redução de custo e, por consequência, uma maior adesão a esses veículos. “A primeira coisa a ser feita é reduzir os impostos. Eu não vejo que no Brasil o governo dê grandes incentivos”, opina o presidente da ABVE.
Jayme Buarque de Hollanda, presidente do Conselho Diretor da ABVE, acredita que os incentivos dados pelo governo podem acelerar o processo de produção de veículos elétricos no país. A expectativa é que isso já esteja ocorrendo daqui a quatro anos. Para o cidadão, a principal vantagem é que ele é mais barato por quilômetro, disse. “A conta de energia é um terço ou um quarto menor (em relação ao combustível)”.
De acordo com a entidade, o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) que incide sobre carros elétricos é de 25%. “É o imposto que incide sobre carros de luxo e de grande potência. Em carros convencionais, [o IPI] fica na faixa de 12%”, compara.
Iniciativas nacionais – Jayme Buarque de Hollanda comenta que, enquanto no mundo os países oferecem redução de impostos para as empresas desenvolverem o carro elétrico, no Brasil “só agora a ficha está caindo”. Hollanda considerou importante a criação pelo governo fluminense de um grupo de trabalho para avaliar a implantação de uma fábrica de veículos elétricos no estado. Ele disse que vê na iniciativa a percepção política do momento que vive a cidade, sede de vários eventos internacionais, em querer atrair o máximo de fábricas para o Rio de Janeiro.
Do mesmo modo, ele destacou o Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores (Inovar-Auto), dentro do Plano Brasil Maior, do governo federal, cujo objetivo é estimular o investimento na indústria automobilística nacional, por meio da inovação e da pesquisa. A estimativa é que o programa envolva, até 2015, mais de R$ 50 bilhões em investimentos no setor. O programa oferece vantagens do ponto de vista fiscal para quem fabricar carros com acionamento híbrido ou elétrico, de preferência usando etanol como combustível, disse Holanda. “É o primeiro despertar no Brasil para esse assunto”.
Alguns fabricantes vêm desenvolvendo protótipos de ônibus elétricos e híbridos no país. Existem, segundo Hollanda, três famílias de veículos elétricos, que são distinguidos pela forma como equacionam a questão do motor a bordo.
A primeira família é a dos trólebus como os que trafegam em São Paulo, por exemplo. São ônibus que circulam capturando energia elétrica transmitida por um cabo aéreo suspenso sobre o seu trajeto. A segunda categoria são os veículos híbridos, em que a energia elétrica é produzida a bordo, por meio de um gerador, embora continue dependendo de um combustível. Outra classificação são os veículos elétricos a bateria. Esta é recarregada quando ligada na rede elétrica.
Um dos fabricantes nacionais de veículos com tração elétrica para o transporte de carga e passageiros é a Eletra, localizada em São Bernardo do Campo (SP). Hollanda ressaltou, porém, que a pioneira no Brasil em termos de produção de veículos elétricos foi a Fiat que, em parceria com Itaipu Binacional e a Kraftwerke Oberhasli (KWO), produziu uma edição limitada de veículos elétricos a bateria para a geradora de energia. Outras montadoras internacionais estão trazendo modelos de veículos elétricos para o Brasil, entre as quais a Ford e a Toyota.
Primeiros carros elétricos surgiram no século 19 – Embora sejam considerados um grande avanço tecnológico, os carros elétricos não são novidade. Os primeiros veículos elétricos surgiram já no século 19. De acordo com o professor Luiz Artur Pecorelli Peres, do Grupo de Estudos de Veículos Elétricos (Gruve) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em 1918, a cidade do Rio de Janeiro inaugurou a linha de ônibus elétricos entre a Praça Mauá e o então existente Palácio Monroe. Segundo ele, jornais da época referiam-se à tecnologia como “confortáveis ônibus de tração elétrica, movidos a bateria, com rodas de borracha maciça, sem barulho, sem vibração, fumaça e os inconvenientes da gasolina”.
Apesar de esta tecnologia não ser recente, os veículos elétricos perderam espaço para os automóveis convencionais a partir dos anos 1930. Na época, a tecnologia e a distribuição da energia elétrica ainda não acompanhavam o desenvolvimento do setor. O conceito só não desapareceu graças aos carrinhos de golfe e veículos de serviço, como empilhadeiras. O lançamento do híbrido Prius, da Toyota, em 1997, marcou uma nova fase dos automóveis híbridos e elétricos.
De acordo com a ABVE, de 4 a 5 milhões de carros elétricos híbridos circulam atualmente pelo mundo. Esse tipo de veículo elétrico foi o que mais rapidamente atendeu às necessidades do mercado, salientou Jaime Hollanda. Seu lançamento foi estimulado pela questão ambiental em função da poluição urbana causada pela descarga dos veículos. Em relação aos veículos movidos a bateria, o peso ainda é um empecilho para que seu uso seja disseminado, bem como a autonomia. Hollanda disse que uma autonomia de 150 quilômetros já é considerada, atualmente, razoável para alguns usos.