“Uma vitória para o Brasil” é como a Ubrabio – União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene está considerando o aumento de 5% para 6% na mistura de biodiesel ao diesel. Aguardado há quatro anos pelo setor, o novo porcentual foi anunciado no final de maio e entrou em vigor em 1º de julho. A Medida Provisória que o estabeleceu prevê mais um aumento em novembro, quando o combustível de veículos pesados passará a conter 7% de biodiesel.
De acordo com o Ministério das Minas e Energia, cada ponto porcentual de biodiesel na mistura permite que o Brasil deixe de importar cerca de 600 milhões de litros de óleo diesel por ano. Outros benefícios bastante divulgados pelo setor são a geração de empregos e renda para agricultores familiares, a redução de emissões de gases de efeito estufa e o processamento de maior volume de soja no País.
Uma vertente menos conhecida do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), contudo, é o estímulo à pesquisa. “Desde a implementação do PNPB, houve todo um incentivo à pesquisa com oleaginosas tradicionais – soja, girassol, algodão –, bem como às espécies potenciais – pinhão-manso, macaúba, dendê”, diz o pesquisador da Embrapa Agroenergia, Bruno Galvêas Laviola.
O PNPB despertou, por essas espécies, interesse comercial que até então era inexistente ou muito baixo. Além disso, abriu caminho para o processamento de óleos não comestíveis, a exemplo do pinhão-manso. “Essas espécies só estão sendo estudadas porque há demanda gerada pela produção de biodiesel”, ressalta Laviola. São espécies pouco exploradas, na maioria dos casos de forma apenas extrativista. As pesquisas são necessárias para desenvolver cultivares e estabelecer sistemas de produção eficientes em escala comercial.
Outra planta sobre a qual a expectativa de uso do óleo na indústria de biodiesel impulsionou a pesquisa é o dendê. Para o óleo dessa palmeira, já existe mercado, que no Brasil é atendido parcialmente por importações. Há uma variedade comercial e sistema de produção, mas ainda são necessários estudos para desenvolver o pleno potencial da cultura. O PNPB gerou um novo salto de investimentos em pesquisa.
Também foram impulsionados os estudos com os coprodutos e resíduos gerados pela extração do óleo de várias espécies. A torta do pinhão-manso é um desafio porque é tóxica e precisa de um sistema muito eficiente de destoxificação para ser usada como ração – principal mercado para farelos de oleaginosas. Já as diferentes partes do fruto da macaúba podem ser usadas na alimentação humana ou animal, bem como na produção de cosméticos e carvão ativado. Isso depende, contudo, do desenvolvimento de tecnologias eficientes de colheita e processamento dos frutos.
Esses aspectos estão em estudo na Embrapa e em outros centros de pesquisa e universidades brasileiras, já com alguns resultados promissores. A expectativa é que, com mais oleaginosas no mercado, novas opções de concentrados proteicos favoreçam a produção animal. As tortas também podem ser aproveitadas no próprio campo, como fertilizantes orgânicos. Há ainda os estudos para identificar compostos de importância comercial nos coprodutos e resíduos da cadeia do biodiesel. “Quanto maior diversidade de oleaginosas, mais moléculas e compostos de interesse podemos encontrar”, explica a pesquisadora Simone Mendonça, da Embrapa Agroenergia. Na Unidade, ela trabalha com o aproveitamento de resíduos de algodão, dendê, crambe, pinhão-manso e microalgas.
Tanto ela quanto o colega Bruno Laviola concordam que o aumento da mistura é importante para dar ânimo ao setor produtivo e incentivar as pesquisas. A expectativa de chegar a 20% de adição de biodiesel ao óleo diesel, somada a outros biocombustíveis surgindo no mercado, estimula a busca de novas fontes de óleo. As pesquisas, por sua vez, geram resultados que beneficiam não só a indústria de biodiesel e de rações animais, mas também outras áreas, como a oleoquímica.
Enquanto o óleo de soja ainda responde por mais de 70% do volume de matérias-primas empregadas na produção de biodiesel, o aumento da mistura favorece o processamento de maior parcela do grão em território nacional. “Isso agrega valor à cadeia produtiva, que é o que precisamos no Brasil”, opina o pesquisador Rossano Gambetta, também da Embrapa Agroenergia.