Estima-se que os 88 mil hectares de vinha existentes na região norte de Portugal possam produzir material de poda suficiente para gerar energia equivalente a 22 milhões de litros de gasóleo por ano, segundo cálculos de Duarte Alves, da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC), um dos quatro parceiros portugueses no projeto transfronteiriço Biomasa-AP, liderado pelo Energy Lab, da Galiza.
Os cálculos pressupõem que 65% dos ramos das podas da região podem ser recolhidos de forma mecanizada, um montante que corresponde a 170 mil toneladas de biomassa anual, especifica o docente. Estes valores reportam-se apenas à vinha, mas as podas de kiwi também estão a ser analisadas no âmbito do projeto, tendo em conta que o norte concentra quase metade da produção nacional deste fruto.
Nos dois casos, trata-se de um potencial energético que está a ser desperdiçado, mas não ignorado. Galegos e portugueses estão trabalhando em conjunto desde 2017 e deverão fechar os estudos no final do próximo ano. A Galiza está mais ligada ao estudo do aproveitamento dos matos, também previsto no projeto.
Até o momento, está concluída a recolha de podas de vinhas e de kiwis em diversas quintas do norte, num processo conduzido por Marinho Cardoso, professor da Escola Superior Agrária do IPVC. Nessa fase, foram usadas máquinas que trituraram os restos, convertendo-os em estilha. Foram analisadas amostras do material, tendo sido avaliada a produtividade, o rendimento e a capacidade de trabalho em todo o processo. A caracterização da biomassa esteve a cargo de Gonzalo Vieiras, da Agência Galega da Indústria Florestal.
Por enquanto estes restos são apenas queimados pelos agricultores, muitas vezes, nos próprios locais de recolha. Mas a ideia é valorizá-los. A estilha, por exemplo, pode ser queimada em caldeiras, nomeadamente, das quintas de agroturismo, para aquecimento. Mas, numa segunda fase, poderão ser usados como combustíveis sólidos, sob a forma de paletes ou briquetes, para uso doméstico. A melhoria destes biocombustíveis prevê, nomeadamente, a incorporação de aditivos que permitamvinho melhorar as suas características de combustão, um estudo ainda em curso.
O desenvolvimento de novas tecnologias para o aproveitamento energéticos do material em causa deverá ser aprofundado durante o primeiro semestre do próximo ano e inclui soluções de gasificação, de microcogeração e sistemas de combustão.
Já a instalação de centrais de biomassa “só terá viabilidade técnico-económica quando utilizadas na vertente de cogeração, ou seja, na produção conjunta de calor e eletricidade, implicando que haja um consumo elevado e constante energia térmica”, explica Duarte Alves.
Além do IPVC, pela parte portuguesa participam ainda o Inegi, a Agência de Energia do Cávado e a Agência Regional de Energia e Ambiente do Alto Minho. A candidatura do Biomasa-AP representou um investimento total de 2,250 milhões de euros, cabendo a Portugal 509 mil euros, comparticipados pelo Feder em 75%.