Um país só se desenvolve se tiver ciência sólida que se transforme em tecnologia empregada pelo setor produtivo. Isso tem sido sobejamente demonstrado. Infelizmente, essa é uma das crítcas que se faz ao sistema brasileiro de ciência e tecnologia – o número de patentes é muito baixo, por qualquer parâmetro que se considere. Assim, nossa dependência tecnológica é muito grande. Uma demonstração simples de nossa colocação na ordem mundial do conhecimento, ciência e tecnologia é dada pelos rankings internacionais de universidades. Temos apenas uma, a USP, entre as principais universidades do mundo, pelo “University Ranking by Academic Performance”. Esse levantamento considera, entre outros quesitos, o número de artigos publicados, o número de vezes que esses artigos foram citados por outros pesquisadores, o impacto científico-tecnológico das pesquisas, o nível de colaboração internacional. Entre as duzentas primeiras universidades avaliadas por esses critérios, temos apenas uma. Isso quando se considera as universidades em todas as suas especialidades.
Mas, vamos olhar para um Brasil dentro do Brasil. Isso muda a ordem das coisas. Quando se considera a área de Agricultura e Ambiente, o ranking muda de figura. Temos, o Brasil tem, oito universidades entre as duzentas melhores do mundo. Merecem ser citadas, na ordem em que aparecem: USP, UNESP, UFV, UFRGS, UNICAMP, UFRJ, UFLA e UFMG. Três no estado de São Paulo, três em Minas Gerais, uma no Rio Grande do Sul e outra no Rio de Janeiro. Nossas estrelas no firmamento acadêmico. Essa ilha de competência criada dentro do país, juntamente com a EMBRAPA e com os Institutos Estaduais ou Federais de Pesquisa, resultou no milagre agrícola brasileiro. Milagre que, se olhado bem de perto, de milagre não tem nada. Tem estudo, dedicação, ciência, aprendizado. Tem gente gerando e disseminando conhecimento, base para o desenvolvimento. Isso não aparece em muitos indicadores porque a maior parte da tecnologia gerada não resulta em patente, não tem dono, ou melhor, é de todos, de aplicação imediata, gerando, portanto, benefícios imediatos para a sociedade, para a balança comercial do país e para o ambiente. Notem que a posição no ranking leva em conta a dobradinha agricultura-ambiente. Não pode existir a dicotomia que se pretende implantar no Brasil. Agricultura e ambiente andam juntos.
Há algumas lições a serem tiradas. Um sistema de ensino, pesquisa e extensão forte resulta em crescimento, em economia mais forte, em distribuição de renda, em melhoria na sociedade. Basta olhar para o desenvolvimento experimentado na regiões agrícolas do país. A universidade precisa ser tratada com respeito, critério e seriedade. Ciência e tecnologia dependem de qualidade, antes de tudo. Multiplicar sem qualidade não gera desenvolvimento. Enfim, sabemos sim, fazer ciência sólida que resulta em tecnologia empregada pelo setor produtivo. O que se faz em agricultura/ambiente pode, e deve, ser feito em outras áreas.
Por Ciro Antonio Rosolem, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e professor titular da Faculdade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu).