Da cana-de-açúcar irrigada à soja 100% convencional, o agronegócio da Índia é tão peculiar e característico quanto a cultura, a história e os hábitos locais. No país onde a vaca é sagrada e a pouca carne que se come é de frango, quase 50% da população é vegetariana, numa opção extrema, onde nem mesmo o ovo é permitido. Por outro lado, uma realidade que exigiu investimento em outras cadeias produtivas. Atrás apenas da China no arroz, os indianos ocupam o segundo lugar também no trigo e crescem na produção de soja, café e algodão.
Não faz muito tempo que o país se tornou autossuficiente no atendimento à oferta doméstica de alimentos. Atualmente, as importações e exportações têm mais a ver com as sazonalidades, provocadas por questões climáticas, do que com a necessidade de abastecimento. Contudo, um equilíbrio que está com seus dias contados. Com o crescimento da população – e do poder aquisitivo dessa população de 1,2 bilhão de habitantes -, a ascensão de milhões de indianos à classe média faz aumentar o consumo e acende uma luz amarela quando o assunto é segurança alimentar.
A moeda local, a rúpia, enfrenta uma das maiores desvalorizações de mercado desde a abertura da economia, na década de 90. Nos últimos três meses, ela despencou mais de 13%. Apontado como um milagre econômico, o país enfrenta dificuldades para consolidar sua economia no mundo moderno e tem no agronegócio uma das suas principais apostas para evitar um possível revés e segurar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima dos 5%. Um ambiente em que vai precisar, necessariamente, ampliar seu relacionamento com o Brasil.
Há uma semana em visitas técnicas, políticas e comerciais na Índia, a Expedição Safra 2012/13, da Gazeta do Povo, encontrou no país um agronegócio rudimentar na base, mas ao mesmo tempo moderno em negócios, tecnologia e manufatura. Pouco globalizado, é verdade, mas que começa a ganhar o mundo.
Particularidades e oportunidades que contribuem para a consolidação de um novo player internacional, que pelo potencial de produção e consumo começa a influenciar preço e mercado, flerta com América do Sul e mira o Brasil como um dos seus principais parceiros. Há sede por informação, intercâmbios comerciais e de conhecimento.
Indústria – Para o executivo Jai Shroff, CEO da United Phosphorus Limited (UPL), empresa indiana com expertise em negócios de insumos agrícolas, a Índia tem muito a crescer, em produção e produtividade, como também muito a oferecer na relação com o mercado internacional. Em 2012, a UPL investiu US$ 150 milhões na compra de 51% da DVA, empresa de agroquímicos no Brasil. O objetivo foi ampliar a presença global da companhia e identificar oportunidades para a promoção do agronegócio indiano.
Além da UPL, a Índia mantém outros negócios no Brasil, como a Renuka, que recentemente adquiriu usinas de açúcar e álcool no Brasil, em São Paulo e no Paraná. Em uma joint venture com um grupo italiano, a UPL detém também 50% da Sipacam, outra empresa de agroquímicos no Brasil.
Cultivo – No campo, o interesse dos agricultores indianos no Brasil não é diferente. Da cooperativa de produtores de cana em Gujarat aos produtores de soja em Madhya Pradesh, a Expedição Safra não só fez perguntas como teve que responder a inúmeros questionamentos sobre o agronegócio brasileiro, de questões técnicas e agronômicas a curiosidades sobre mercado e tecnologia.
Jitendra Singh, gerente da The Soybean Processor Association of Índia – a associação da indústria de esmagamento de soja do país -, explica que a produção nacional da oleaginosa cresce a cada ano, em produção e rendimento, mas que ainda tem muito a evoluir. Pelos números da associação, a produtividade média das lavouras de soja é de 1,5 mil quilos/hectare, com máximas de até 2 mil quilos em áreas comerciais.
Em áreas experimentais, como na Shree Asha Purna Bio Agri, fazenda em Ujjain, estado de Madhya Pradesh, o produtor Ashiwinw Singh relata que tem conseguido até 3,5 mil quilos/hectare. No Brasil, a média nacional chega a 3,1 mil quilos/hectare, com marcas acima de 4 mil.