Por Rodrigo Aguiar*
As alterações no clima do planeta são concretas e o grande responsável pelo cenário é o setor de energia no mundo, por meio das emissões de gases do efeito estufa (GEE). As consequências vão de panoramas catastróficos a moderados, com perturbações que afetam e afetarão muito a vida do planeta. No Brasil, segundo especialistas, comprometerá sobretudo a agricultura, saúde, habitação, economia e segurança energética. Estudos apontam a possibilidade do aumento da temperatura média em até 5º C em algumas regiões do país, bem como o aumento da intensidade, duração e frequência dos eventos extremos de seca e chuvas.
As emissões de CO2 em 2012 cresceram 1,4% em todo mundo, mas foi considerada uma notícia positiva, pois a expectativa era de um incremento muito maior. Vários países conseguiram reduzir suas emissões, mas outros aumentaram. O maior emissor do mundo é a China, no entanto o acréscimo de emissão em 2012 (300 milhões de toneladas) foi bem menor que nos anos anteriores, em função dos fortes investimentos que o país vem aportando em energias renováveis e eficiência energética. Nos Estados Unidos o decréscimo de emissões fez o país chegar a 200 milhões de toneladas, nível apresentado em meados de 1990. Na Europa a crise e a desaceleração econômica fizeram o continente reduzir em 50 milhões de toneladas de CO2 suas emissões.
O Brasil de 1990 a 2004 havia aumentado suas emissões em 62%, mas de 2005 a 2010 conseguiu reduzir 38,7% das emissões. A Agência Internacional de Energia aponta que com o ritmo atual de emissões a temperatura do planeta deve crescer entre 3,6º C e 5,3º C nas próximas décadas, o que é algo muito preocupante. Ainda, dois terços dessas emissões são provenientes do setor energético.
E aí está a preocupação, no setor energético. Em 2012, o Brasil realizou esforços tremendos para redução dos desmatamentos e conseguiu resultados concretos. Segundo a secretaria nacional de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental, no ano passado (2012) o Brasil chegou a 4,5 mil quilômetros quadrados de desmatamento. O ideal é chegar em quatro mil e manter. A meta brasileira é de reduzir em 84% o desmatamento.
Em 2005 o Brasil fez seu primeiro inventário de emissões e o setor de florestas era responsável por 57% das emissões nacionais. Em 2010, com os progressos neste setor, a fatia caiu para 22%. Segundo o relatório, desde 2010 o setor agropecuário lidera o ranking (35%), seguido dos setores energéticos (32%), processos industriais (7%) e de tratamento de resíduos (4%).
O setor de energia foi o que mais cresceu suas emissões: +21,4%. O País conseguiu um resultado importante na redução global da emissão dos GEE, mas analisando detalhadamente, é possível ver que o forte aumento do setor de energia é preocupante. Ações objetivando frear este aumento no setor energético necessitam ser implantadas.
A presidente Dilma Rousseff, durante a reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC), realizado em Brasília em junho de 2013, disse que a meta de emissões de CO2 do Brasil para 2020 é “extremamente passível” de ser cumprida. Afirmou que haverá uma tendência inexorável de aumento das térmicas na matriz decorrente de hidrelétricas a fio d’água e de energia eólica. Para a presidente são energias que não têm mecanismos de reserva e que mudam em relação ao clima, por isso são necessariamente voláteis e necessitam, portanto, ser firmadas por térmicas. A afirmação reforça assim a política do governo de manutenção da tendência atual na expansão da geração de energia elétrica por termoelétricas e principalmente a carvão.
Segundo a PricewaterhouseCoopers (PwC), em relatório intitulado Índice de Economia de Baixo Carbono, a eficiência energética foi a grande responsável pela diminuição na intensidade de carbono da economia mundial. Cerca de 92% da redução da intensidade de carbono atingida em 2012 foi em decorrência de melhoras na eficiência energética, enquanto apenas 8% foram de uma mudança para um mix energético mais limpo.
No Brasil, o PNE- Plano Nacional de Energia, o PNEf – Plano Nacional de Eficiência Energética e o Decreto Nº 7.390, que regulamenta a Política Nacional de Mudança do Clima, expressam claramente o compromisso brasileiro para o incremento da eficiência energética no país. Portanto, o norteamento sobre as políticas para incremento da eficiência energética para o país existe, bem como um mercado e fornecedores habilitados.
É sabido que o desperdício energético no país é enorme e está praticamente estagnado nos índices ligados à eficiência energética na última década. Existe um descompasso enorme entre a teoria e a realidade. Muitos projetos de eficiência energética são instalados em todo país nos diversos setores da economia brasileira, mas pelas dimensões do Brasil ainda é muito pouco frente ao potencial e a necessidade.
Se realmente o objetivo é conquistar resultados, o Brasil precisar tirar os planos das gavetas e ser mais arrojado na implantação de políticas de curto prazo.
*Rodrigo Aguiar é presidente da ABESCO – Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia