Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Investimentos

Agora a crise é aqui!

Cinco anos depois da ruptura do sistema financeiro internacional, é o mercado brasileiro que passa a impor desafios à seleção de investimentos.

Agora a crise é aqui!

A última grande crise econômica mundial completa, neste domingo, dia 15, cinco anos, data da quebra do banco de investimentos americano Lehman Brothers, que simbolizou o colapso do sistema financeiro. E ainda que o mercado brasileiro tenha se recuperado da crise, assim como seus pares internacionais, o momento atual impõe novos desafios aos gestores de recursos. Enquanto em 2008 as preocupações estavam principalmente na cena externa, com foco nos países mais desenvolvidos, agora as tensões estão localizadas aqui, em solo nacional.

Se no fim do primeiro ano pós-crise o investidor enfrentava no Brasil um quadro de taxa Selic de dois dígitos, câmbio na casa de R$ 1,90 e deflação, hoje o contexto é outro. Os juros no Brasil chegaram ao piso histórico (7,25%) em outubro de 2012, o dólar atingiu em agosto último R$ 2,45, maior cotação desde dezembro de 2008, e a inflação mais alta ainda está comendo os ganhos com aplicações. Não bastando o fraco desempenho da bolsa, com queda de 12,4% entre setembro de 2012 e agosto deste ano, o investidor não encontra refúgio na renda fixa (ver mais na página D2).

O estrategista de renda variável do HSBC, Carlos Nunes, considera o quadro atual mais desafiador no que tange à renda variável. Isso porque, diante da queda de 40% da bolsa em 2008 e da situação econômica vivida pelo país no primeiro ano pós-crise, investidores encontraram oportunidades interessantes de ativos para recompor seus portfólios, o que levou o Ibovespa a registrar alta (1,5%) 12 meses após a crise. Já em 2013, ainda que o índice caia 11,4%, não há sinais claros de “pechinchas”.

“Quando olhamos os múltiplos hoje, o P/L [relação preço/lucro, que dá uma indicação do prazo para o investidor reaver a aplicação] da bolsa mostra um número acima de 10 vezes. E, na nossa análise, 10 vezes é compatível com um cenário de crescimento neutro do país, sem gerar pressão inflacionária, mantendo um nível de emprego sustentável. Mas estamos vivendo uma conjuntura de desaceleração econômica, então um múltiplo compatível seria de 8,5 vezes”, diz. “A bolsa parece um pouco cara, e é por isso que o cenário para fazer ‘stock picking’ é extremamente desafiador. As opções estão mais escassas e os riscos, maiores.”

O sócio responsável pela gestora do Brasil Plural, Carlos Eduardo Rocha, o Duda, também considera a situação mais difícil. “Uma grande diferença é que a crise de 2008 era essencialmente exógena. Essa crise tem um grande aspecto endógeno”, diz. Ainda que os preços de muitos ativos estejam mais baixos, Duda ressalta que o cenário macroeconômico está mais desafiador, com pilares mais frágeis, inflação perto do teto da meta e um superávit primário já consumido.

Em 2008, os fundamentos do Brasil impulsionaram a bolsa, o câmbio e os juros, aponta o gestor. “Agora, vamos precisar que os fundamentos globais ajudem nossos mercados. Estamos mais dependentes do cenário externo”, diz.

Ainda que o mercado brasileiro passe por um momento desafiador, de volatilidade expressiva, 2008 envolvia incertezas muito mais fundamentais, considera Allan Hadid, diretor-geral da BRZ Investimentos. “O que você tem hoje é uma mudança de padrão de crescimento, que está afetando os mercados e vai continuar assim pelos próximos dois ou três anos”, diz Hadid, otimista sobre o que vem em seguida. “O mundo vai voltar a crescer e o Brasil, como exportador de commodities, tende a se beneficiar.” Antes, entretanto, será preciso conviver com a volatilidade e os sentimentos negativos sobre Brasil, ensejados por uma rotação de ativos, alerta Hadid.

Para o economista, a crise de 2008 trouxe lições importantes aos gestores brasileiros, do ponto de vista de controle de risco. “Às vezes, os sistemas consideram a volatilidade normal, não um movimento de descontinuidade, quando a liquidez some, como aconteceu”, diz, ressaltando que agora está mais atento às proteções e garantias.

Para o diretor-executivo de investimentos do Citi, Ennio Moraes, está na crise de 2008 a fonte do contexto macro que impõe desafios aos mercados hoje. “A crise reforçou a ciranda do consumo no Brasil.” Para ele, a ruptura internacional serviu de justificativa para empreender políticas que prejudicaram a competitividade da indústria, além de gerar sintomas que prejudicam o cenário para investimentos hoje, como a inflação.