Por Rodrigo Sias*
Em sua carta a El Rei Dom Manuel de Portugal, Pero Vaz de Caminha, o escrivão da frota de Pedro Álvarez Cabral, relatou suas impressões sobre as novas terras descobertas.
Neste, que é o primeiro documento escrito da história do Brasil, Caminha observou que “a terra em si é de muito bons ares (…) Águas são muitas; infindas.
E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo”. Estava aí a origem da frase famosa “em se plantando, tudo dá”. Mas desde que se iniciou a colonização, percebeu-se que a impressão de Caminha estava errada.
No Brasil, monoculturas como cana e café prosperavam, mas o país tinha muita dificuldade em se abastecer de outros alimentos essenciais. Em geral, nossas terras eram hostis às lavouras e culturas tradicionais europeias.
Muito de nossa inflação altíssima e crônica, inclusive, esteve intimamente ligada aos choques negativos da oferta de alimentos.
A partir da década de 1970, entretanto, esse panorama começou a mudar rapidamente e atualmente, a situação se inverteu.
Há mais de uma década, o agronegócio tornou-se uma verdadeira ilha de produtividade no Brasil, cercada por um mar de estagnação.
Sua produtividade vem crescendo 3,5% a.a. na última década, enquanto que no setor industrial e de serviços, as taxas foram de -0,6% a.a. e 0,5% a.a., respectivamente.
Assim, enquanto a produtividade da indústria recuou e a do setor de serviços praticamente estagnou, a produtividade do agronegócio continua em franca expansão, a despeito dos problemas logísticos e de infraestrutura do país.
Dados mostram que o setor vem crescendo mais que o PIB brasileiro seguidamente e ajudando na estabilidade de preços. Para o nosso comércio exterior, sua importância é imensa.
A participação do agronegócio brasileiro nas exportações tem girado em torno de US$ 80 bilhões, mais de um terço das nossas exportações totais.
Tal fato coloca o Brasil como segundo país maior exportador agrícola mundial, atrás apenas dos EUA, com sua média US$ 150 bilhões de exportações agrícolas.
Aliados às condições naturais do país, o crescimento consistente e a produtividade crescente – inclusive acima da média mundial e da média dos países emergentes -, vêm impulsionando o aumento da internacionalização do setor.
Os três grandes exemplos de internacionalização de empresas do ramo alimentício são as empresas beneficiadoras e frigoríficos de carnes JBS, Marfrig e a BR Foods – resultado da fusão das tradicionais marcas comerciais Sadia e Perdigão.
Essas empresas estão entre as cinco maiores do mundo em seu segmento. Por outro lado, essa verdadeira revolução ocorrida no agronegócio brasileiro vem acompanhada de algo que falta em outros setores da nossa economia: inovação.
O Brasil responde por incríveis 10% das pesquisas e contribuições científicas na área de ciências agrárias feitas no mundo, de acordo com os dados do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Essa performance está intimamente ligada à Embrapa, criada nos anos 1970. Para se ter ideia do feito do setor, a contribuição está muito acima da média brasileira de 2% a 3% em outros campos científicos.
O agronegócio é um exemplo do Brasil que dá certo. Por que o resto do país não o imita?
* Economista pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro